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Os anos 1990 foram memoráveis para a indústria de videogames, não só pela quantidade absurda de jogos incríveis que foram lançados, mas principalmente pela disputa insana travada pelas duas principais empresas do ramo em busca da liderança do mercado. Obviamente estamos falando da Nintendo e da Sega em tempos muito mais simples, onde não existia PlayStation ou Xbox e muitas pessoas ainda achavam que trabalhar com videogame era “furada”.

Se você acha que a Sony e a Microsoft fazem guerra hoje, então posso falar com tranquilidade que você não viu nada. A “guerra de consoles” atual é travada pelos próprios fãs e não pelas empresas. A década de 1990 era outros tempos, tempos que a Nintendo monopolizava o mercado de consoles domésticos e de repente foi afrontada por uma startup vindo do nada, mas que rapidamente cativou milhares de pessoas.

Baseado no livro Console Wars: Sega, Nintendo, and the Battle That Defined a Generation, Console Wars é um documentário produzido por Jonah Tulis e Blake J. Harris (o autor do livro) para o CBS All Access (serviço de streaming dos canais CBS) que traz pouco mais de 90 minutos focados exclusivamente no embate entre as duas gigantes. Se você assistiu o documentário High Score do Netflix, então provavelmente já está bem inteirado no assunto, já que ele possui um episódio focado somente na guerra de consoles dos anos 1990, mas felizmente Console Wars tem bastante coisa para agregar valor ao seu conteúdo.

Eu mesmo comecei a assistir já esperando não me impressionar com nada, mas foi uma surpresa muito boa descobrir que ainda tinha muitas coisas que eu não sabia sobre essa história. Ao contrário de High Score, este documentário não investe muito em montagens e efeitos especiais, apesar de ainda ter a sua parcela de animações em 16-bit usadas para ilustrar algumas histórias. O foco de Console Wars são imagens e registros históricos, muitos deles!

O documentário conta com entrevistas de figuras importantes para a história das duas empresas. De um lado temos o time de executivos da Nintendo, meia dúzia de empresários que ganhavam rios de dinheiros com o sucesso estrondoso do Nintendinho. Do outro temos Tom Kalinske e uma humilde equipe que compunha a Sega of America, uma empresa pequena, mas cheia de vontade de mostrar para a Nintendo que eles tinham um concorrente à altura.

As animações ilustram algumas situações com muito bom humor.

Console Wars entrevista todas essas pessoas, tanto da Nintendo quanto da Sega, mas com um foco bem maior nos ex-integrantes da Sega. Vamos acompanhando desde os primeiros passos da Sega nos Estados Unidos até o momento de sua ascensão e ápice, quando finalmente conseguiram se tornar maiores que a Nintendo. O mais legal de tudo isso é que a apuração de imagens históricas foi pesada, então é quase como se estivéssemos assistindo tudo como espectador há 30 anos.

O fato de todos eles não estarem mais trabalhando nas respectivas empresas também é um fator bem positivo, pois deu liberdade de todos serem imparciais e revelar opiniões e informações que até então é novidade. Uma delas, por exemplo, é a fórmula de sucesso da Nintendo na época: eles chantageavam os desenvolvedores e varejistas, ameaçando cortar relações com qualquer um que desenvolvesse ou vendesse jogos para outros sistemas. Hoje em dia isso seria um completo absurdo, mas estamos falando de um mercado emergente que não era terra de ninguém!

É excelente poder ver com tantos detalhes como a Sega foi a única empresa com coragem e força o suficiente para enfrentar esse monopólio de uma forma tão ousada. Eles poderiam ter menos recursos, mas não faltava genialidade em cada membro daquela equipe, chegando ao ponto até de alguns funcionários da Nintendo virarem a casaca e irem trabalhar na Sega.

É de tudo isso que Console Wars se trata, sendo um compilado gigantesco e muito bem montado dessa época tão intensa da indústria de games. Porém, se você espera aprender mais sobre a queda da Sega, então pode sair um pouco decepcionado. O foco do documentário é apenas na guerra de consoles, ou seja, da época em que a Sega foi mais forte. Ele só cobre o início do fim da trajetória da empresa no mercado de consoles, com o fracasso comercial do Sega Saturn e o lançamento do primeiro PlayStation. Depois disso, o resto é história e pauta para outro documentário.

Ainda assim, Console Wars é recomendado tanto para quem não conhece nada a respeito do assunto como para quem já sabe o mínimo. Certamente vai ter muita coisa inédita e legal para todos descobrirem e se inteirarem mais nos primórdios dessa indústria tão incrível. Só senti falta de mais entrevistas com o pessoal da Nintendo, pois como já dito, o documentário dá muito tempo para a Sega e as entrevistas com o outro lado da moeda são muito breves e acabam ficando em segundo plano. Isso dá uma sensação de que as coisas ficaram meio desequilibradas, mas no geral não vai prejudicar o aprendizado de quem assiste.

Agora que o documentário está chegando aos canais por assinatura HBO e ao seu serviço de streaming, HBO GO, o que não faltará são oportunidades de assisti-lo.