Quando a linha temporal não existe, as histórias geralmente ficam confusas. É o caso com o indie de terror psicológico Broken Pieces. Perdida e sozinha em uma cidade “fantasma” fora da linha do tempo, Elise se vê sozinha no vilarejo costeiro de Saint-Exil, um local com um nome estranhamente sugestivo.
O primeiro jogo do estúdio indie Elseware Experience é interessante e arrojado, mas ainda assim possui muito espaço para melhoras. Uma aventura que traz um quê de clássicos de horror, uma pitada de ficção científica e muitos mistérios.
O relógio continua, mesmo sem rumo
Cansados da vida na cidade, Elise e seu marido resolvem se mudar para o vilarejo localizado na costa da França, em busca de uma vida mais pacata. Mas pouco antes do Festival de Outuno começar, a protagonista sonha com um corredor extraterrestre que mantém silhuetas humanas em suspensão e vários documentos científicos relacionados ao fenômeno. Elise não entende nada dos arquivos ou do que está acontecendo e, com um som estrondoso, ela acorda. E todos do vilarejo sumiram.
É com essa narrativa totalmente fora de ordem, propositalmente bagunçada (que juntei aqui para a plot inicial fazer mais sentido) que o jogo apresenta seus pedaços de acontecimentos e revelações. Tudo o que se sabe, no início da aventura, é que Elise está sozinha praticando tiro ao alvo e indo frequentemente ao antigo farol da cidade em busca de solucionar a situação da pouca energia elétrica que resta na cidade.
Em sua casa, Elise descobre uma passagem no porão com um enorme cômodo secreto, antes utilizado por um espião. Dentro dos aposentos, Elise descobre três grandes mistérios relacionados aos eventos atuais: uma estranha pedra que ela carrega em seu pulso, um culto e uma enorme criatura marinha que aparentemente está ligada à todos os eventos do local. Sem mais ninguém para auxiliá-la, resta descobrir como colocar tudo nos eixos.
Explorando a enorme região durante o período das 8 da manhã às 8 da noite, o jogador irá usar a habilidade de criar tempestades de Elise para resolver certos puzzles e se defender das estranhas criaturas sombrias que habitam alguns lugares do vilarejo. Isso sempre evitando a noite, quando o verdadeiro perigo se revela.
Durante a exploração, Elise irá juntar cada vez mais provas sobre o culto e descobrir mais sobre como trazer tudo de volta ao normal e rever seu marido. Uma corrida contra o tempo que se esparrama pelo espaço, que está totalmente distorcido nesta cidade perdida no plano terreno e metafísico.
Usando um sistema de disparo de arma de fogo e exploração semelhante aos jogos clássicos de horror da geração 32-bit, Broken Pieces é uma interessante “espécime”. Só não espere por um jogo cheio de ação, uma vez que o foco está muito mais na exploração de Saint-Exil.
Pistas em cacos do espaço
O sistema de combate é bem semelhante com o dos clássicos Resident Evil de outrora. Usando um botão para mirar nos inimigos, que surgem aleatoriamente e nos impedem de fugir da batalha, deve-se esperar a mira ficar vermelha para acertar um tiro com potência máxima nas criaturas feitas de fumaça ou névoa.
Enquanto mira, Elise fica totalmente imóvel, mas com o apertar de um botão é possível fazer com que ela com uma elegante pirueta, anulando todo e qualquer dano que possa ser causado à ela. Geralmente os inimigos surgem em trios, mas em certos casos podem aparecem em grande quantidade.
Elise pode criar munição de alta qualidade (maior dano) ao deixar no baú da casa, de um dia para outro, itens como restos de metal e pólvora. O combate é funcional, porém nem um pouco bonito ou divertido de acompanhar. Funciona e entrega o básico, mas é impossível não rir dos monstros com seus apêndices esticados ou eles “clipando” pelo chão para nos atacar.
Broken Pieces traz gráficos bem simples, mas entendo que seja uma escolha de game design. O jogo foi concebido para emular um gameplay mais nostálgico, com a movimentação de “tanque” e menus simplórios. Se você gosta desse estilo, certamente a experiência é válida. Mas o que realmente segura o jogador são os quebra-cabeças, todos bem desafiadores.
Restaurando a ordem
Broken Pieces também traz várias missões paralelas para serem completadas, garantindo acesso à novas armas e equipamentos para Elise. Muitas necessitam de determinados itens e da habilidade de atravessar realidades ou criar tempestades da jovem heroína, que pode trazê-las ao disparar contra a pedra que carrega em seu pulso.
Com as tempestades, Elise pode derrubar árvores que já foram golpeadas com machados, empurrar pontes e até mesmo fazer moinhos de vento se movimentarem para gerar energia. Já outros exigem o famoso “backtracking” por Saint-Exil, o que pode exigir um pouco mais do jogador, pois alguns puzzles estão na realidade da neve, outros em locais trancados ou de difícil acesso.
Broken Pieces é uma experiência interessante, com uma narrativa envolvente que infelizmente é quebrada pelos combates pouco interessantes e um ambiente neutro, que dificilmente vende a ideia de um local sofrendo por anomalias espaciais, salvo os grandes pilares de água marítima que se vê ao fundo.
É uma boa pedida para quem quer um jogo para relaxar, pensar e ver várias histórias desenrolarem a partir do mesmo ponto, onde vemos Elise descobrir mais sobre Saint-Exil, as estruturas do espaço-tempo e se verá novamente seu marido.