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Quando alguém toca no assunto “jogos do gênero point and click” logo lembro dos clássicos e de uma experiência mais recente com Machinarium. Foi jogando este fabuloso game que conheci a Amanita Design, um estúdio indie da República Tcheca. E este não é o primeiro game deles: já haviam lançado Samorost 1 e Samorost 2 (jogos de browser), sendo que o segundo ganhou quatro prêmios importantes incluindo “Excelência em Arte Visual” no Independent Games Festival de 2009. Aliás, excelência em arte visual é uma das características mais fortes do estúdio, que também esbanja criatividade.

Botanicula é uma criação do artista Jaromír Plachý, que também assina o design e animações do game. A produção é de Jakub Dvorský, fundador da Amanita e criador dos demais games do estúdio. A união destas duas mentes resultou em um jogo de point and click completamente diferente de tudo que já joguei. Especialmente porque Botanicula pende mais para a exploração em sua forma mais simples e intuitiva, sem deixar de apresentar os mais diversos quebra-cabeças.

Na trama, a natureza está sendo infestada por parasitas malvados que sugam a vida de tudo que eles tocam. Restou uma última semente de uma árvore especial, que deve ser levada à salvo para longe dos parasitas. Para tal jornada contamos com cinco amigos botânicos nada comuns: Mr. Lantern (uma noz), Mr. Twig (um galho), Mr. Poppy Head (uma flor), Mr. Feather (uma pena) e Mrs. Mushroom (uma senhora cogumelo). Mr. Lantern tem este nome porque ele guarda a semente consigo, fazendo com que ele brilhe.

Botanicula

Cada personagem tem uma característica específica, que deve ser utilizada corretamente para solucionar os quebra-cabeças. Mr. Lantern é o lider da turma e tem a habilidade de iluminar locais escuros. Mr. Twig pode se esticar, enquanto Mr. Poppy Head usa o seu tamanho e força bruta. Mr. Feather é fraco mas pode voar, e a Mrs. Mushroom tem a habilidade de passar por lugares apertados. Estas são as habilidades principais de cada um, mas eles podem fazer mais do que isso em determinadas ocasiões.

Os cenários são um show à parte. Boa parte da aventura se passa em árvores, com caminhos múltiplos direcionados por galhos. Cada tela apresenta algo único, tanto no visual como personagens peculiares ou seres estranhos para interagir. Tudo é arquivado em um sistema de cartas, para você relembrar cada ser botânico que encontrou pela natureza inventiva de Botanicula e liberar extras no final da aventura. E para não se perder, você sempre conta com um mapa em forma de folha – como se suas veias fossem os caminhos a serem percorridos.

Os quebra-cabeças variam de tipo e de dificuldade. Em sua maioria, você precisará achar vários itens para devolver para um personagem ou para abrir uma passagem. E cada item exige que o jogador resolva algo. Por exemplo: em uma parte do game você precisa coletar 14 aves para fazer girar um mecanismo de defesa de um vilarejo que está prestes a ser atacado pelos parasitas. Para achar as aves você precisa explorar várias casas, e cada uma apresenta uma situação diferente. Em algumas casas você acha itens, que você guarda em seu inventário para utilizar em outra ocasião, como trocar um legume por uma ave que está sendo assada por um aldeão e assim salvá-la. Tudo possui uma lógica (ou física), e nenhum dos quebra-cabeças exige que o jogador mescle itens ou pense em soluções absurdas.

Botanicula

Durante a aventura é impossível não se encantar também com a trilha sonora, produzida pela banda tcheca DVA. São músicas que simulam o ambiente natural e seus habitantes, mas sem gravações da própria natureza. Em outras palavras, tudo foi produzido com o som da boca: o zunido de uma abelha, o caminhar de um inseto, os diálogos incompreensíveis dos seres botânicos, e assim por diante. Uma técnica antiga bastante usada em animações tchecas e russas. O resultado é algo tão único quanto as músicas de LocoRoco e tão belo quanto as composições da banda islandesa Sigur Rós.

Comparado à outros games do gênero, como o próprio Machinarium, Botanicula é um game mais fácil e intuitivo. A diferença está no minimalismo da aventura, que expressa uma beleza única e um carisma descomunal para com os personagens. Se você tem a mente aberta para jogos independentes, com certeza passará por uma experiência nova ao jogar Botanicula. Tão única que você terminará a aventura com um sorriso no rosto e agradecendo as homenagens que o jogo presta (Melies, especialmente). Mais uma vez, obrigado Amanita!