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Para fãs de animê, o cenário shounen sempre foi muito bem representado por grandes títulos no fim da década de 90 e início dos anos 2000 como, por exemplo, One Piece, Bleach, Fairy Tail e Naruto. No entanto, depois de uma década de hegemonia, um “vácuo de poder” começou a se criar com o fim de vários deles e uma calmaria nas sagas de Luffy e companhia. Isso foi o suficiente para termos o surgimento de Black Clover, obra criada por Yuki Tabata, com boa recepção do mangá e grande expectativa para o animê. Claro que não poderia faltar um joguinho nesse pacote e a Bandai Namco correu para pegar a febre inicial com esse lançamento para fãs desse gênero que, a partir do boom de anúncios em 2018, passei a chamar de fan game ou anigame, como já li em outros artigos.

Para a minha surpresa, depois do fraco Naruto to Boruto: Shinobi Striker, do jogo básico para The Deadly Seven Sins: Knights of Britannia e as escolhas incomuns para Little Witch Academia: Chamber of Time, achei que uma adaptação de uma animação tão crua e recente pudesse ser sinônimo de fracasso. Engano meu! Pelo visto diversos tropeços nesse ano reservaram para Black Clover: Quartet Knights um jogo divertido.

Diversas opções de jogo e conteúdo colecionável desde o início.

Reunião de clichês

Ao contrário do que imaginava, o jogo apresenta uma proposta nova: vamos contar uma história totalmente nova e que poderia muito bem ser lançada como um OVA, mas de maneira completa e melhor resolvida do que foi feito em Little Witch Academia. Isso só foi possível pelo animê ser uma colcha de retalho e desenvolver uma narrativa baseada em diversos clichês presente nas animações japonesas da última década: um herói com problemas, seu amigo/rival com o mesmo sonho, um grupo de personagens para viver aventuras, reino com magia e, por fim, aventuras em grupo no formato de quests.

Acompanhamos a história do Lord Free, um dos nobres que vivem no Reino Clover, que acaba sendo traído e, antes de morrer, envia sua filha para o futuro e aprisiona sua própria alma em um pingente. Seguindo a limitação criativa da série, o roteiro se apoia em uma história de vingança com viagem no tempo e possessão mágica para se desenvolver. Durante a jornada de Asta para se tornar o Rei Mago (ser mais poderoso de Clover) ao lado dos Black Bulls, e com grande envolvimento de Yami e Noelle, você passará por capítulos que mesclam diversas batalhas e missões breves para o desenrolar dessa nova aventura.

Jogo bem fiel na adaptação e no look and feel do animê.

O modo história de Black Clover: Quartet Knights basicamente funciona como um grande preparatório para a jogatina online. A desenvolvedora japonesa ILINX Inc. soube representar bem a qualidade da animação com o estilo cel shading bem característico desse tipo de jogo, favorecendo a familiaridade para os conhecedores do animê e para quem curte essas adaptações para os consoles. Sem contar que também temos forte presença da trilha sonora empolgante, que realmente faz toda a diferença, assim como a música de One Piece e Fairy Tail possuem importante influência na imersão.

FPM – First Person Magic

A principal e melhor mecânica do jogo foi conseguir mesclar a proposta de Shinobi Striker, um jogo veloz e de livre movimentação, com o que aparenta ser um FPS. Saem as armas de fogo e tiros para entrarem magias e projéteis mágicos. A visão é em terceira pessoa e uma mira central faz com que você se movimente livremente e atire à vontade, quase como se fosse um bom e velho shoot’em up. Com ataques distribuídos nos botões superiores (L e R), você consegue desferir ataques fracos, fortes e em conjunto com outros membros do seu quarteto.

Imagem do jogo Black Clover: Quartet Knight
FPS com magia, mas não é Harry Potter!

Esse estilo de jogabilidade encaixou muito bem com o perfil dos personagens de Black Clover, ao contrário do que aconteceu com Naruto. Com mais de 15 personagens, a desenvolvedora foi fiel à animação ao manter as características de cada um. Para isso quatro classes foram criadas: Fighter, Shooter, Supporter e Healer. Todos com suas características bem explicadas e diferenciadas com o tipo de magia executada. No entanto, eu senti que não existe muita influência no papel que cada um pode executar durante a partida.

Imagem do jogo Black Clover: Quartet Knight
Magna é o melhor personagem, mesmo com uma HUD poluída.

Isso sem contar que os personagens me pareceram bem desbalanceados, fazendo com que Asta, Noelle e Vanessa Enoteca estivessem sempre entre as mais escolhidas nas equipes vencedoras. Infelizmente, a diferenciação do modo de jogar não influenciava muito no desenrolar das partidas, fazendo com que muitos healers participassem da pancadaria, ao invés de ficarem mais distantes curando. Até mesmo um shooter, como Magna, acaba sendo mais eficiente ao entrar nas zonas de defesa e conquista para disparar à queima roupa.

Imagem do jogo Black Clover: Quartet Knight
Sua colinha de magias para começar bem nas batalhas de Clover, mas tudo em inglês!

Acredito que esse desbalanceamento e banalização das classes seja causado por uma outra mecânica criada pelos desenvolvedores: os decks. São quatro tipos diferentes em que você utiliza Grimoire Cards, compradas com XP ou dinheiro obtido em jogo, para desbloquear habilidades passivas ou melhorias para cada personagem. Isso possibilita um comprometimento maior do jogador e um alto fator replay, além de criar builds mais híbridas. No entanto, percebi que, dependendo das suas escolhas para melhoria, um healer pode perder sua efetividade em campo ao obter muitas melhorias focadas em um estilo de jogo pertencente à outra classe.

Overwatchização no Reino Clover

Fica claro desde o início que esse é mais um título pensado para a jogatina online e a porradaria entre amigos. Mesmo com muitos problemas de conectividade, a ponto de eu cancelar um vídeo que estava gravando por conta de mais de três minutos aguardando o matchmaking, o jogo oferece uma boa diversidade de modos para competições. Sempre em arenas relativamente pequenas e colocando dois quartetos de heróis para lutarem, você terá como opções os modos Crystal Carry, Treasure Hunt e Zone Control.

Imagem do jogo Black Clover: Quartet Knight
Esquema de decks é a causa da banalização das classes dos personagens.

Todos eles sem oferecer nenhuma novidade, com menos de dez mapas difierentes e apostando em características já conhecidas, mas com uma identidade própria para conquistar os fãs do animê ou os mais curiosos (no meu caso). Se não quiser enfrentar os modos online, você também pode jogar contra BOTs ou utilizar o modo Challenge, para experimentar todos os personagens, e Training, para melhorar seu nível antes de enfrentar desafios mais difíceis.

Imagem do jogo Black Clover: Quartet Knight
Conteúdo extra e Customização é um dos pontos altos desse jogo.

No fim, Black Clover possui sua própria magia, que talvez não encante muitos jogadores. Trocadilho feio, né? Com certeza, esse é mais um título que vai agradar os fãs do animê ou quem, assim como eu, acompanha adaptações para os games. Tirando os problemas de conectividade e os diálogos desenvolvidos com cenas estáticas, que quebram a boa animação das cutscenes que complementam a história, finalmente a Bandai Namco parece ter acertado a mão em um jogo de animê desde Dragon Ball FighterZ. O problema é termos um bom jogo com uma fan base muito pequena e com baixo conhecimento do público geral!