De vez em quando surge um game como Beyond Blue, que traz um conceito promissor aliado a uma mensagem pertinente, mas cuja maior limitação é, simplesmente, não levá-los a seu máximo potencial. Neste caso, com o perdão da sacadinha, o jogo produzido pela E-Line Media apenas não vai fundo o bastante para deixar uma impressão forte, encerrando-se cedo demais em seu modo história e oferecendo um loop de gameplay que parece um tanto incompleto.
Não muito diferente de outros jogos modernos, Beyond Blue oferece uma campanha curta que serve mais de tutorial para o restante da jogatina do que algo realmente substancial. Apesar do início promissor, que leva a crer em uma expansão satisfatória de seus sistemas ao lado de um desenvolvimento verdadeiro dos personagens, o modo história de Beyond Blue se conclui cedo demais, em menos de duas horas, e nunca passa uma sensação de progresso ou evolução.
Nadando em águas rasas
O enxuto elenco de personagens, liderados pela protagonista Mirai, é surpreendentemente carismático, e cada um deles possui uma motivação clara, além de uma personalidade bem definida. Escolhas ocasionais de diálogo rendem uma ilusão de escolha, que cria, por um curto tempo, um engajamento com aquelas relações que são desenvolvidas, mas este aspecto é deixado na mão pela estrutura esquisita e apressada da campanha, que pula cenas-chave sem motivo.
O game é assumidamente mais uma forma de promover o documentário da BBC Blue Planet II do que propriamente um produto bem amarrado, apesar de competente em uma série de aspectos. Cenas de Blue Planet II estão disponíveis na hub principal do jogador, o submarino, como uma forma de complemento ao que é apresentado na campanha. No entanto, fica essa sensação de que nada é plenamente desenvolvido de uma perspectiva dramática ou de game design.
Beyond Blue até levanta uma série de questões intrigantes, a maior delas sendo a ambientação em um futuro não tão distante, especulando sobre as tecnologias e as possibilidades da pesquisa submarina em um mundo no qual tal área recebe os devidos investimentos. O jogo também não deixa de comentar sobre as decadentes tentativas de preservação da fauna e flora marítima, buscando uma camada de melancolia que convida a empatia do jogador pelo elenco e animais.
Estes animais são o objetivo, e os entusiastas se verão cativados pela missão de encontrar e analisar cada uma das criaturas que veem pelo caminho. Mas fiquem avisados: esta é a recompensa em si, e não há necessariamente um sistema de progressão que presenteia o jogador por sua dedicação nas pesquisas. Claro que isso está perfeitamente alinhado com a mente de quem fez o game, mas isso significa que Beyond Blue não terá um “gancho” para a maior parte do público.
O foco aqui são as Baleias Cachalotes, mas todo tipo de forma de vida submarina é representada aqui com atenção aos detalhes. A quem veio para ver essas majestosas criaturas e apenas isso, Beyond Blue será mais que uma curiosidade. Porém falta uma integração entre o que o jogador faz e o que os animais fazem, deixando a sensação indesejada de que somos ainda meros espectadores, mesmo estando tão próximos dessas incríveis espécies.
Um mergulho não tão livre
Mecanicamente, falta vigor a Beyond Blue. Os controles de nado são competentes, mas o drone de escaneamento é uma grande oportunidade perdida, sendo utilizado em tarefas excessivamente guiadas. Sempre há um ponto ou círculo indicando o que deve ser escaneado, tirando a agência do jogador no trabalho de pesquisa. Você basicamente aponta e aperta um botão, do começo ao fim da campanha, sem desafio e por causa disso, sem imersão.
Enquanto há opções para regular a sensibilidade dos controles, algumas ações são muito mais rudimentares do que outras, diminuindo ainda mais o prazer de nadar livremente. Além disso, os últimos mergulhos do game são afetados por quedas notáveis no frame-rate, machucando a fluidez de forma severa em instâncias específicas, e isso foi surpreendente já que de um ponto de vista gráfico, Beyond Blue não é tão elaborado assim – talvez a simulação aquática seja o fator de stress.
Beyond Blue seria uma base adequada para um jogo em live-service, acrescentando mais padrões de comportamento, mais locais a se explorar e talvez novas campanhas focadas em espécies específicas. Imagino que a E-Line Media não tenha tais planos em mente, e isso é uma pena. O pacote é bem-intencionado, traz um conceito sedutor e definitivamente é informativo, mas infelizmente nunca sai do raso, deixando a sensação contraditória de que pouco foi explorado.