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O estúdio gaúcho Aquiris tem uma longa história de labuta. Na ativa desde 2007, começaram pelo mercado mais óbvio e seguro: advergames. Produziram muitos títulos antes de fecharem uma importante parceria com a Cartoon Network, criando jogos como CN Superstar Soccer e The Great Prank War. Mas foi com Horizon Chase, em 2015, que a Aquiris conquistou a devida atenção. O game de corrida, inspirado nos clássicos Out Run e Top Gear, fez um estrondoso sucesso no Android e iOS. Após lançar Horizon Chase, o estúdio se dedicou à um projeto bastante ambicioso.

Ballistic Overkill nasceu como um jogo de tiro free-to-play, originalmente destinado a ser um game de navegador e para rodar também no Facebook. O projeto cresceu rápido, formando uma comunidade de mais de 5 milhões de jogadores, e decidiram então transformá-lo em um game pago na plataforma Steam. Foram 20 meses de trabalho incessante, sendo mais de 1 ano dedicado somente ao acesso antecipado. O objetivo era lançar um FPS no nível dos grandes lançamentos internacionais, com qualidade tanto no gameplay quanto no visual. Lançado oficialmente no finalzinho de março deste ano, Ballistic Overkill prova que com muita dedicação qualquer estúdio brasileiro pode fazer um jogo realmente foda.

Em Ballistic Overkill, não adianta ficar escondido camperando.

Acessibilidade em primeiro lugar

Vou começar esta análise com uma informação importante: Ballistic Overkill custa apenas R$ 20. Vale bem mais que isso, mas a Aquiris foi inteligente em cobrar barato e entregar um jogo acessível que roda em qualquer computador. A tática deu certo: os 17 servidores dedicados à América do Sul vivem cheios durante os horários de pico, mesmo quando o ping é alto.

O jogo oferece 7 classes diferentes para escolher, cada um com suas próprias habilidades. Furioso é o soldado padrão: tem dano alto, é rápido e resistente. Vanguarda possui mais vida, tem a mesma precisão à curta e longa distância e ainda pega granadas dos inimigos abatidos. Espectro é a classe franco-atirador, que fica invisível quando parado e não aparece no mapa. Sombra fica invisível enquanto corre, tem dano de queda reduzido e é eficaz à curta distância. Granadeiro usa um lança granadas e é muito resistente a explosões. Tanque é lento mas possui vida muito alta, regeneração ativa e imunidade à golpes pelas costas. Por fim o Atirador é o mais balanceado de todos, com mapa melhorado e arsenal variado. Independente da classe que escolher, a curva de aprendizado é praticamente nula.

Opa, um Sombra quase invisível.

Todas as classes podem usar duas armas (uma principal e outra secundária) e duas habilidades, além de um tipo de bomba e faca, configuradas no famoso sistema de Loadouts. Cada classe possui 6 habilidades únicas, destravadas conforme você sobe de nível. Ao atingir o nível 14 você libera a melhor habilidade de cada classe, ganhando vantagens como maior velocidade na cadência do tiro, recarga, precisão, vida extra e assim por diante.

Além das habilidades você destrava também novas armas, visuais e acessórios, sendo grande parte através de caixas. Tais caixas contém itens aleatórios classificados por raridade, de Comum a Lendário. Se você der o azar de pegar armas ruins, algo bastante frequente, basta desmontá-las para juntar pedaços de metal e trocar por novas caixas. Um ciclo vicioso de recompensas herdado de Call of Duty e com uma certa inspiração em Overwatch.

Xablau! Matei um youtuber.

Claro que ao jogar pela primeira vez você sentirá uma certa desvantagem ao enfrentar jogadores mais experientes. Um adversário no nível 30, por exemplo, já possui armas melhores e várias habilidades destravadas. Para evitar o desbalanceamento a Aquiris adotou o sistema de pontuação compartilhada, em que você ganha pontos de experiência ao ajudar um outro jogador do seu time. Até mesmo no modo Todos Contra Todos é possível ganhar pontos extras, permitindo evoluir rapidamente a classe que mais gostar. Basta ter paciência e ir aprendendo tudo aos poucos.

O game oferece também outros três modos tradicionais do gênero: Rei do Pedaço, Disputa de Times e Captura de Pontos. São 10 mapas ao total, todos bem produzidos e adaptados para funcionar perfeitamente nos quatro modos oferecidos. As partidas são rápidas, você pode votar no próximo mapa e mudar de classe quando achar necessário. Seja você novato ou experiente com FPS multiplayer, a diversão será a mesma.

Beleza vs Desempenho

Uma coisa é certa: não espere por um game visualmente incrível. Dá para notar que a Aquiris priorizou o desempenho do jogo, para rodar em PCs mais fracos, do que entregar um Crysis 3 da vida. Ainda assim faltou capricho na física dos personagens e realismo da destruição dos cenários, que não sofrem avarias. É realmente frustrante atirar em vidros que não quebram ou explodir uma granada no meio de uma biblioteca e não ver folhas voando. A forma como os personagens caem ao morrer também ficou simples demais.

Essa aqui morreu de dor nas costas.

Eu entendo que estas foram as decisões de desenvolvimento em prol do desempenho, mas custava adicionar opções extras para quem tem um PC mais potente? Ver detritos voando pelo ar adiciona emoção extra às partidas, vide a franquia Battlefield. Torço para que, nas próximas atualizações, melhorias e novas opções sejam adicionadas ao game.

Ballistic Overkill está em português, mas foi originalmente dublado em inglês: todos os diálogos das classes estão na língua inglesa. É uma pena, pois gostaria de ouvir alguns diálogos (geralmente engraçados) na nossa língua pra quebrar a tensão da partida. Ainda assim, fiquei surpreso com a qualidade de toda a obra: o game é leve, rápido, divertido, balanceado e viciante. São características importantes para fazer deste um game de sucesso e com vida longa.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024