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Parece que já se passou uma eternidade, mas o primeiro Left 4 Dead saiu em 2008. Treze anos depois, dá para cravar com absoluta certeza de que o bom e velho L4D teve mais influência sobre o mundo dos games do que a gente imagina. Para o bem ou para o mal, Back 4 Blood está mais para o modo “old school” e tenta ser um sucessor espiritual quase que direto do antigo Left 4 Dead.

De volta às origens

E eu cito aqui o primeiro Left 4 Dead porque, além de ter sido o primeiro grande sucesso no gênero de “hordas de criaturas humanoides que lembram zumbis e em modo cooperativo”, ele foi desenvolvido pelo pessoal da Turtle Rock, o mesmo estúdio que trabalhou em Back 4 Blood (o segundo Left 4 Dead foi feito pela Valve Software). Sim, esqueça os memes e posts de Twitter que tentam te convencer que Back 4 Blood é uma imitação de Left 4 Dead, porque ele literalmente é um pouco disso, mas feito pelo mesmo estúdio.

Como eu adiantei no primeiro parágrafo, a influência de Left 4 Dead no mundo dos games é gritante. Claro, tecnicamente o modo Zombies de Call of Duty: World at War chegou ao mercado seis dias antes, mas a referência, para todos os fins, tem sido Left 4 Dead. O jogo foi tão popular que criou seu próprio gênero (já viu alguém te recomendando um game que é “tipo Left 4 Dead”?), que teve inclusive alguns títulos bons, como Payday, Killing Floor, Dead Island e Warhammer: Vermintide. Cada um desses jogos trouxe uma ou outra novidade, e até o modo Zombies de Call of Duty nunca perdeu sua popularidade.

Como de praxe em jogos desse tipo, dá para usar o cenário a seu favor

Então, o que Back 4 Blood precisa fazer para se destacar? A escolha do pessoal da Turtle Rock foi claramente em tentar se manter fiel na jogabilidade e adicionar um sistema de cartas. De resto, são quatro jogadores, que devem sair de um ponto e chegar a um local seguro (a famosa “safe house”), dar uma coletada em armas e itens, e continuar enfrentando as hordas de infectados de todos os tipos – dos mais comuns, que morrem com poucos tiros até os grandalhões que exigem mais trabalho e coordenação em equipe.

Cartas, para quê te quero?

O tal sistema de cartas é bem interessante no papel. Cada carta possui uma habilidade específica, que geralmente é para compensar alguma fraqueza de cada personagem, ou para diminuir um pouco as ameaças dos oponentes. Há centenas de combinações possíveis, e como cada jogador escolhe com qual carta quer começar o mapa (e a cada fase é possível aplicar novas cartas), o jogo em equipe rola também na hora de justamente selecionar as cartas. Com “supply points” conquistados nas fases normais, o jogador pode desbloquear novas cartas e formar um deck mais forte ainda.

Mas o que eu senti é que as cartas parecem não causar um impacto tão grande assim na jogatina. Uma delas serve para seu personagem carregar mais rapidamente a arma, por exemplo, enquanto outra te dá uma vida a mais (essa é bem útil sim), mas na prática, são perks com impacto limitado. O que faz sentido, já que a Turtle Rock obviamente não deve querer que os jogadores relacionem as cartas a “cheats” ou mesmo descubram combinações que deixem o jogo fácil demais. Tentativa legal, mas depois de um tempo você meio que nem se importa mais em buscar novas cartas, porque as que o game te oferece logo de cara já quebram o galho.

Second Chance é provavelmente a melhor carta que você vai ter à disposição no início do game

No Xbox One e no PS4, o game não trava a taxa de quadros por segundo, que oscila por volta dos 30 fps, com a situação visivelmente pior no Xbox One: por vezes a taxa cai abaixo dos 30, enquanto que no PS4, a taxa às vezes sobe acima dos 30 quadro por segundo. Nas duas plataformas, essa inconstância é percebida a quase todos os momentos. Pelo menos, a modelagem e a resolução não foram tão comprometidos. Na geração atual (incluindo o Xbox Series S), a experiência é extremamente suave, a 60 quadros por segundo em basicamente todos os momentos.

Nova geração, mas parece antiga

Testei o game no Xbox Series X e já tinha jogado o beta no PS5. Por algum motivo, eu percebi um descompasso no frame pacing em certos momentos. Isso é algo que provavelmente não se resolveria com VRR, já que o game continua rodando a 60 quadros por segundo, mas com um frame intercalando no outro no momento errado. Ainda não apurei tudo isso a fundo, e pode ser que muita gente nem sequer perceba nada, mas é algo que eu também vi no beta no PS5.

Em relação a acessibilidade, Back 4 Blood infelizmente não traz muita coisa, e só faz mesmo o básico ao oferecer texto-para-fala, legendas para menus e modos de adaptar o HUD aos diversos tipos de daltonismo. Depois de vermos o que Ubisoft, Microsoft e Sony têm feito, o pessoal da Turtle Rock fez pouco mesmo. Mas possivelmente, por ser um estúdio menor, não tiveram tempo (quer dizer, recursos) para implementar tais funcionalidades, o que é uma pena mesmo.

Os cenários são bem variados. Nesses mais escuros, a jogatina fica mais emocionante

Já os jogadores que exigem máximo desempenho de seus controles, Back 4 Blood é um dos games que possui opção de mexer na zona morta dos direcionais (a famosa dead-zone). Se o seu controle (ainda) não possui drift, é uma boa diminuir esses valores para obter uma precisão um pouquinho maior nos tiros. Há assistência de mira também, que não é lá tão invasiva, mas também pode ser modificada para te ajudar ainda mais, ou ainda menos.

Bom para solitários

Bom, para quem é adepto do jogo solitário, a boa nova é que Back 4 Blood te deixa jogar a campanha sozinho, com três bots ocupando o lugar dos outros 3 jogadores que te ajudariam. Os bots são até espertinhos e nunca ficam no seu caminho, por exemplo, e sempre correm para te resgatar quando você “cai” (quando perde toda a energia e fica impossibilitado de andar, necessitando que um companheiro te salve). Dá para jogar a campanha sozinho numa boa sim. Com estranhos, o jogo flui legal e pelo menos a minha experiência foi com pessoas focadas em manter o trabalho em equipe funcionando bem.

Por falar em campanha, existe uma história em Back 4 Blood sim. O game se passa em um planeta Terra distópico e pós-apocalíptico assolado por um parasita altamente contagioso, que faz com que as pessoas se transformem em criaturas com características típicas de zumbis, que querem atacar qualquer sobrevivente para disseminar o parasita. Sobrou para um grupo de sobreviventes acabar com essa ameaça toda.

Não tenho certeza se “5% a mais de velocidade” é um perk muito bom não…

Há cutscenes contando a história e mostrando interações até engraçadas entre os personagens e também ligando os pontos entre os atos da campanha, mas se você pular essas cenas, não vai perder muito não. Vale a pena assistir as primeiras só para se situar e fim de papo, já que algumas dessas cutscenes ficam até maçantes com o tempo. E de qualquer forma não acredito que alguém que vá atrás de um sucessor espiritual de Left 4 Dead ia se interessar muito pela trama.

Por falar em campanha, são três atos principais e um final, totalizando catorze fases. Não vou dizer que é pouco conteúdo, até porque jogar com amigos é divertido e até certo ponto é possível ir aumentando a dificuldade, mas depois de uns quatro ou cinco mapas, pode ser que o cansaço bata à porta.

Há um modo competitivo, chamado Enxame, em que os times de quatro jogadores cada lado se enfrentam. O grande problema é: eu não consegui jogar esse modo. Mesmo com crossplay ativado, eu esperei bastante tempo e por várias vezes e não consegui formar uma partida completa de oito jogadores. Pode ser que Back 4 Blood seja mais sensível que outros jogos em relação às configurações de NAT e outras coisas nos roteadores e redes dos jogadores? Pode ser. Mas eu não tenho essa dificuldade no modo principal de jogo, então eu julgo que isso é simplesmente falta de jogadores mesmo.

As cutscenes até que são divertidas

Tá no Game Pass, então passa

E este pode ser o grande problema de Back 4 Blood: é um game legal nas primeiras horas. Mas depois das primeiras horas, você sente que já viu quase tudo. Jogar com amigos é legal, mas eu também percebi que a graça de jogar com amigos nesse game é botar o papo em dia, e não o game em si. Parece que Back 4 Blood é menor do que a soma de suas partes.

A premissa é boa, a jogabilidade também, a ação lembra muito Left 4 Dead (e pra quem jogou na época, a nostalgia pode bater), mas é um jogo raso, com um sistema de cartas por vezes confuso (eu nem lembrava mais quais cartas eu tinha, e tá tudo bem). Como ponto positivo, Back 4 Blood estreou direto no Game Pass, tanto no PC como no Xbox. Para as outras plataformas, por enquanto eu passaria longe do preço cheio e esperaria um desconto.