Dizem que quem já jogou um JRPG, já jogou todos. O que não somente é algo que pode ser dito de quase todos os gêneros (RPGs medievais, FPS, “Battle Royale”, jogos de corrida), como também uma tremenda injustiça com clássicos com Final Fantasy VII ou Chrono Trigger. Mesmo quando desenvolvedores ocidentais, como a MassHive Media aqui, tentam se aventurar no território dominado pelos japoneses, somos brindados com pérolas como Septerra Core, Regalia: Of Men and Monarchs ou mesmo Anachronox, que se destacam e muito da média. Porém, é exatamente o que acontece aqui: se você já jogou um JRPG, já jogou Azure Saga: Pathfinder. O que sobra em referências e aderência aos padrões do gênero, falta em criatividade ou mesmo em carisma para seus personagens e seu universo.
O homem que caiu das estrelas
O título nos coloca no comando de Synch e sua trupe de improváveis aliados. Náufrago de uma civilização futurista em um planeta desconhecido, a princípio ele tem apenas a companhia de seu servo androide, mas outros clichês ambulantes vão se juntar ao seu time ao longo da aventura, como a sacerdotisa decotada, o nobre guerreiro que coloca a honra acima de tudo, a renegada cínica, uma sacerdotisa da floresta e mais. Junte povos em guerra, uma ameaça misteriosa que exige que as nações se unam e uma reviravolta no roteiro telegrafada desde a cena de abertura e temos um RPG que não ousa.
Não se pode, entretanto, negar que a desenvolvedora fez um trabalho de coração em Azure Saga: Pathfinder. Os gráficos são belissimamente ilustrados nas cenas de diálogos, enquanto nas sequências de jogabilidade não deixam a desejar, embora optem por um visual mais “fofinho” dos personagens. Há um ar de jogo para plataforma móvel no seu visual e em seus botões enormes, mas daqueles muito bem produzidos.
Enquanto Sync tenta descobrir uma forma de sair desse planeta onde a tecnologia não existe mas a magia domina, vamos gradativamente aprendendo sobre seus conflitos e seus principais atores. O protagonista falha em nos conquistar, mais interessado em suas próprias metas, sendo difícil simpatizar com ele. Isso se altera um pouco com a evolução da trama, mas talvez já seja muito tarde para quem resolveu experimentar Azure Saga: Pathfinder. Sua equipe de coadjuvantes tampouco ajuda e as conversações são, no mínimo, mornas.
Um de cada vez
Os combates acontecem por turno e possuem uma leve camada estratégica. Selecionar as habilidades certas, assim como equilibrar o consumo de mana e a vida de seus personagens é importante para vencer as batalhas que acontecem quase sempre com pouca informação. Termos como ACC, ATK, EVA, BLK, DEF são jogados na tela sem explicação. Embora alguns pareçam óbvios, na verdade não são. Além disso, frequentemente há embates com inimigos dos quais não é possível saber quantos pontos de vida possuem.
É possível combinar habilidades especiais dos três personagens ativos na sua batalha em ataques teoricamente mais fortes, mas nem sempre é possível constatar que o resultado é realmente maior que a soma das partes. Felizmente, cada personagem também possui uma barra de Fury que permite desbloquear um movimento especial capaz de virar a maré da batalha.
Embora não seja perfeito, o sistema de combate funciona e permite variações interessantes – desde que nenhum de seus personagens desfaleça, é claro. Se isso acontecer, você irá se deparar com um dos mecanismos mais injustos já criados em um RPG tático: você ressuscita seu personagem com um pergaminho raro, que não custa pouco, somente para vê-lo tombar imediatamente depois no mesmo turno, porque levanta com apenas um fiapo de vida e seus oponentes desferem ataques de área ou covardemente miram justamente no ressuscitado.
Gosto de passado
A obsessão pelas mecânicas de RPGs do passado não está presente apenas no combate em turnos: ela aparece também na estranha sensação de lançar um jogo para PC sem suporte a mouse. Navegar pelos menus tem um quê de jogar Pokémon no teclado, com telas após telas após telas para se chegar aonde deseja. Com o tempo se acostuma, mas ainda soa anacrônico. Com tantas opções de combate ou elementos para se gerenciar na equipe, atalhos de teclado ou o uso do mouse se mostrariam grandes ferramentas e sua ausência reforça a impressão de um produto pensado inicialmente para plataformas móveis. Ou um console mesmo.
Falta também um ajuste fino na movimentação, já que um pixel de grama é o suficiente para impedir o avanço dos personagens e fazer curvas pelo cenário lembra mais o navegar de um tanque de guerra do que a locomoção humana. Some essa dificuldade de caminhar com a grande tendência de aparecerem batalhas aleatórias quanto mais tempo se passa em cada tela, e andar se torna um aborrecimento. Ainda que o surgimento repentino de inimigos seja outro pilar dos JRPGs de outrora, em Azure Saga: Pathfinder o recurso soa cansativo.
Agora combine esses dois últimos problemas com um determinado mapa onde o jogo induz você a se perder e vagar a esmo e temos a fórmula certa para fechar o jogo, repensar suas escolhas de vida, respirar fundo e voltar somente no dia seguinte.
O título esconde alguns de seus trunfos depois de horas de jogabilidade, como a capacidade de fundir joias para reforçar seus componentes de proteção e os muito tardios sistemas de tatuagem e fabricação de itens. Em contrapartida, o mini-jogo de pescaria (outro ponto na longa checklist dos JRPGs) aparece cedo e logo revela-se inútil.
Azure Saga: Pathfinder promete uma aventura épica com cara de RPG japonês e não mente para seus jogadores. Talvez na parte do “épico”, mas o conceito é bastante elástico. Para quem deseja algo mais, mesmo atado a gêneros e subgêneros, trata-se de uma oportunidade perdida, tão somente um jogo competente que trilha caminhos tantas vezes percorridos anteriormente.