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Recentemente o mercado nacional de games tem se mostrado uma verdadeira mina de ouro, com excelentes títulos saindo um atrás do outro, seja no ano passado com o excelente Pocket Bravery, ou este ano com Mullet MadJack e Zet Zillions. Agora é hora de dar chance ao horror nacional, com o primeiro ato de Asleep, um jogo brasileiro com uma boa dose de inspiração em Silent Hill e outros games semelhantes.

Quando o jogo deu seus primeiros sinais de vida, fui atrás da Black Hole Games para saber mais desse projeto e agora após tanta espera Asleep atendeu ao que eu esperava? Admito que foi uma mistura de sentimentos, mais voltados para o positivo, com algumas ressalvas a serem feitas, mas é um passo rumo aos segredos dos próximos atos.

Refém de seu próprio lar

Confusa, perdida e em um quarto que sequer lembra ser o seu, Ana Lúcia desperta após mais um de seus recorrentes pesadelos, em uma terra escura, com céus carregados e uma geografia torta, onde uma velha e solitária senhora diz a jovem que é hora de despertar. Assustada ela apenas escuta a chuva lá fora, sem conseguir dormir, começa a explorar o estranho local que lembra sua casa.

Imagem de Asleep

Ao sair do quarto, móveis cobertos se fazem ver em todos os cantos desta sala infinitamente longa, onde Ana Lúcia logo se vê sendo perseguida por uma criatura em meio as sombras, após o que parecem metros intermináveis de escuridão, chegamos a uma cozinha, onde uma animada senhora pede a Ana Júlia que busque sua filha, que esta brincando pela cidade.

Assim começa o primeiro capitulo de Asleep, colocando o jogador direto na ação, como todo bom jogo de horror, não há longa explicação sobre o que, ou por que isso está ocorrendo, apenas sabemos que está! Enquanto busca entender o que está acontecendo, Ana Lúcia irá conhecer mais de si mesma e das outras pessoas que também estão perdidas neste limbo do Nordeste Brasileiro da década de 90.

Afinal de contas por que estes terríveis pesadelos a atormentam e quem são essas pessoas que passam os seus dias nesta cidade coberta por névoas e infestada de criaturas, onde espaço e tempo não fazem sentido? Resta ao jogador buscar pelos locais da cidade por pistas e respostas, enquanto foge de monstros que em certos momentos irão fazer com que você segure o ar na vida real.

Imagem de Asleep

Jardineiros das colinas

Asleep traz uma gameplay point-&-click bem satisfatória e fácil de se pegar o jeito, podendo ser jogado tanto pelo mouse, quanto pelo teclado, infelizmente no quesito controle o jogo deixou a desejar, já que o Dualsense do PS5 ficou maluco com o jogo. Com forte inspiração em clássicos do gênero survival horror, temos aqui uma versão do que seria um Silent Hill caso fosse lançado para Gameboy como um jogo, e não como uma visual novel, como em Play Novel: Silent Hill.

Ana Júlia irá explorar neste primeiro ato, sua “casa”, casas e locais abertos pela cidade, tais como parques e até mercearias entre abertas e por fim a escola onde se espera encontrar a garotinha que temos a missão de levar até sua mãe. No entanto não será tão fácil, pois certos lugares estão cheios de criaturas que temem apenas a luz e algumas, até mesmo isso é incapaz de feri-las.

Controlar seu inventário é a chave para o sucesso, seja levando baterias, chaves ou itens de cura, sempre tenha consciência de quem em Asleep não há baú para armazenar seus itens, então em caso de necessidade, gaste um item que não irá fazer tanta falta mais a frente. O jogo não possui arma, apenas uma lanterna a qual Ana Lúcia pode enfraquecer e afastar certos monstros, ou iluminar a rota de fuga para sair do alcance dos mais aterradores.

Imagem de Asleep

O jogo possui um sistema de realidades bem interessantes, com certos momentos se passando em uma realidade mais escura e sombria, algo semelhante ao outro mundo de Silent Hill. Caso fique demais para você, é sempre possível encontrar locais com uma luz amarela, onde é possível se ficar seguro e usar um espelho para voltar ao quarto de Ana Lúcia, onde ela pode checar documentos, memórias e escrever em seu diário, o que irá salvar o jogo, e permitir que ela descreva suas opiniões para lermos e conhecermos mais deste universo.

O amargo do doce

Eu realmente gosto de doces com sabores azedos, como as balas Hong Tai, Super Lemon, Soda ou Cola e o mesmo é para com videogames e Asleep tem o começo do gosto bom para um jogo de horror, no entanto, tem seus amargos também. O primeiro ato do jogo abriu fortemente a premissa do universo, história e temáticas, algo que foi bem trabalhado ao longo do tempo que se estendeu da minha conversa com eles, até o jogo chegar em minhas mãos.

No entanto, ainda que bem vindas, acredito que as piadas e referências acabaram sendo um pouco de mais e uma espécie de muleta ao fim do dia. Durante o primeiro ato temos várias referências a série Silent Hill e uma em especial a Clock Tower, uma dos grandes influenciadores da infra estrutura e narrativa de Asleep. A alusão ao Guaraná Jesus, maleta escolar e tazos, por mais que bem vindas, acabaram ficando um tanto quanto soltas na narrativa, servindo como disse, uma muleta para a nostalgia.

Imagem de Asleep

Para um primeiro ato, o jogo é como se espera, bem curto, em torno de 3 a 4 horas para se fazer tudo e analisar com calma a construção de mundo, seu mapa a lá Silent Hill 1, ruas desaparecidas e caminhos estranhamente bloqueados. As criaturas são interessantes, a escrita é simples, mas impactante e capaz de entregar sem rodeios uma boa narrativa.

No mais, Asleep – Ato 1 é uma taça de Lillet antes do prato principal e rodeada com pequenos aperitivos do que se esperar de uma história maior, que estou ansioso para desfrutar com calma e ponderação enquanto calculo se consigo cruzar um corredor a mais com o folego de Ana Lúcia, ou alguma criatura sairá do chão para atacar a jovem que busca respostas nesse estranho universo.

70 %


Prós:

🔺 Gráficos em pixel art bem trabalhados, design de criaturas e locais bem feitos
🔺 Narrativa interessante, com grande potencial de crescimento
🔺 Dublagem excelente, nenhuma voz ficou estranha ou forçada

Contras:

🔻 Até mesmo para um primeiro ato, é demasiadamente curto e deixa um grande vazio
🔻 Pouco desafiador no geral

Ficha Técnica:

Lançamento: 09/05/2024
Desenvolvedora: Black Hole Games
Distribuidora: Nuuvem
Plataformas: PC