Em 1984, a Nike assinou um contrato com o jovem e talentoso Micheal J. Jordan, que havia acabado de ingressar na NBA, desenvolvendo um calçado exclusivo para o jogador. Assim nascia o Air Jordan, primeiro tênis que desencadearia uma febre entre os jovens daquela época e que se tornaria uma moda que conquista as pessoas até hoje, com a cultura dos sneakers. E qual o motivo disso tudo? Apenas o básico que você precisa saber para jogar Anger Foot!
Desenvolvido pela Free Lives e distribuído pela Devolver Digital, também conhecida como “a casa dos acertos”, Anger Foot é um jogo que conversa profundamente comigo ou pelo menos uma parte de mim, aquela que gosta de tênis estilosos, balas voando, Hard Bass estourado nos meus fones de ouvido, bebidas e muita violência com comédia. Um FPS bizarro, divertido e desafiador, com muito backtracking por diversos níveis para recuperar seus tênis e desbloquear novos modelos.
Блин, мои кроссовки украли
Anger Foot começa com muitas similaridades ao “Hotline Miami”, ao mesmo tempo em que consegue ser totalmente diferente. Com a primeira missão sendo um tutorial, descobrimos como Anger Foot está atrás de um novo conjunto de tênis “super ultra exclusivos”, porém seu fornecedor foi roubado pela Gangue da Violência. Com eles escondidos no prédio ao lado, resta ao Anger Foot fazer aquilo que toda pessoa comum fária nessa situação: chutar seu caminho até seu par de tênis!
Neste primeiro momento armado apenas com seus pés, Anger entra no complexo derrubando portas sem pestanejar em busca de seus sapatos, deixando uma trilha de caos e cadáveres por onde passa, distribuindo chutes tão fortes que suas almas foram parar direto no Gulag do outro mundo. Ao final do caminho, um homem-lagarto aterrorizado entrega ao jogador os tênis roubados em troca de sua vida e com o último item de sua coleção em mãos, Anger Foot pode retornar em paz.
Ao chegar em casa e acessar seu forte, com direito à portas blindadas de titânio para proteger sua coleção, Anger Foot completa finalmente sua busca. No entanto, parece que a cidade tem outros planos para ele, pois o líder da Gangue da Violência destrói a parede de seu cofre e leva seus tênis mais caros e raros, cada um dos quatro pares para entregar aos líderes das demais gangues da Cidade de Merda. Como se não bastasse, acima deles existe alguém ainda mais sinistro e arquitetando o roubo dos tênis de Anger, uma figura conhecida apenas como Ministro do Crime!
Com o auxílio de sua namorada, que só queria ter uma noite de filmes tranquila, Anger novamente vai precisar chutar uma cidade inteira em busca dos seus tênis. Agora resta ao jogador percorrer cada um dos 15 níveis comandados por quatro grupos diferentes e que seguem somente uma lei: a do crime. Pela Cidade de Merda enfrentaremos a Gangue da Violência, cheia de assassinos e ladrões, a Gangue da Poluição, com os maiores porcos da cidade, a Gangue dos Negócios, sedenta por dinheiro, e a Gangue da Devassidão, pronta para satisfazer seus desejos.
Pé na porta e balas voando
Anger Foot é uma espécie de pária, sendo alheio às gangues que dominam a cidade, pois para ele os tênis são sua vida e seus “delicados pezinhos” são mais mortais que uma bola de futebol com uma ogiva nuclear amarrada. No começo do jogo usamos nossos pés para chutar portas, que podem esmagar oponentes contra as paredes e afundar seus crânios com chutes extremamente letais. Caso esteja bêbado, vidrado em energéticos ou viajando após comer sapos alucinógenos, Anger Foot pode sofrer mais danos, recebendo alguns golpes extras, podendo causar danos ainda mais brutais.
Com a progressão do jogo, logo descobrimos como pegar armas derrubadas pelos nossos inimigos, inicialmente apenas pistolas e coletadas após derrotarmos os inimigos vestidos como gopniks de roxo. Com o pacote completo, desde os tracksuits do que seria a Adidas ou Puma desse universo, vamos enfrentar diversos inimigos divertidamente estereotipados. Com o passar dos níveis o desafio aumenta, com novos inimigos, armas e armadilhas.
Submetralhadoras, escopetas e até mesmo bestas incendiárias são apenas alguns exemplos do tipo de armamento que conseguimos ao longo de Anger Foot. Infelizmente o balde, uma das armas mais engraçadas, não pode ser usada, pois ele é usado por um grupo que se veste como a Coraline (Neil Gaiman), com sua capa de chuva, e usam um balde cheio de cobras. Esse balde também funciona como uma espécie de portal intergalático para uma dimensão de cobras infinitas e que não param de surgir para ameaçar você.
Além de muitas armas e tiros, o jogador pode lançá-las para deixar os inimigos atordoados por alguns segundos, permitindo que você chegar perto o suficiente para um chute fatal. Para não depender apenas das armas, o jogador desbloqueia novos tênis utilizando as estrelas conquistadas ao completar um nível e seus desafios, com uma pela completude da fase e outras duas pela conclusão dos desafios extras; estes variam entre passar o nível todo sem matar ninguém, matar apenas com chutes, não usar armadilhas nem explosivos, usar apenas armadilhas e explosivos, entre outros vários.
Uma coleção letal de pisantes.
Em um dos meus animes favoritos, “Kaiji: Ultimate Survivor”, há uma cena muito marcante que mostra a importância da determinação do protagonista apenas com o peso de seus passos. O mesmo pode ser aplicado em Anger Foot, pois cada um de seus tênis é uma arma diferente, porém disfarçada como calçados. Você terá uma versão com Detonadores, que transforma cada porta chutada em uma bomba, os Uppercuts, que lançam os inimigos contra o teto, e os Segunda Volta, que ressuscitam Anger Foot caso ele morra. Uma miríade de milagres e violência na sola dos pés.
Estes ainda são apenas os tênis liberados durante os níveis, pois sempre que se junta cinco estrelas um novo tênis é liberado. O jogo conta com 16 pares de calçados especiais liberados por meio de estrelas e quatro após derrotar os chefes das gangues. Eu até poderia falar como eles alteram a gameplay, mas não quero estragar a surpresa, além das lutas serem criminalmente divertidas.
Falando sobre a diversão em Anger Foot é impossível não citar a própria Cidade de Merda (Shitty City no original), que parece uma versão gigante de um dos bares que mais frequentei na minha vida. Você encontra pessoas sem noção e socialmente inaptas, além de certas missões permitirem que o jogador controle Anger Foot em sessões de exploração e interação com os moradores locais. Pode acreditar que você irá se deparar com diálogos e situações muito inesperadas.
A Cidade de Merda é um ecossistema que sobrevive do consumo irrestrito de bebidas alcoólicas e cafeinadas, crimes estúpidos cometidos por pessoas inaptas e muito hard-bass. Alguns dos encontros mais engraçados foram o da jovem bilionária que vende portas para os locais onde Anger Foot e o jogador já passaram, o filho vendendo os sanduíches que roubou da mãe e um grupo super educado de homens-lagartos que dizem ter as melhores taxas de assalto e violência corporal da região, caso aceitemos ser roubados por eles.
Estilo acima de tudo!
Assim como meus tênis Air Force 1 Low e Nike SB Japanese Roots, Anger Foot preza pelo estilo acima de tudo. Com um visual comicamente impactante, numa mistura de grunge art com grafite, a cidade é preenchida com cores vivas, muito roxo, laranja e vermelho, como base de luz. A cidade é uma gigantesca tela Gopnik com um “quê” de Thug, fazendo com que você mergulhe de cabeça nesse mundo, assim como fiz com o maior prazer.
Ainda usando os sneakers como analogia, além de belos, eles são funcionais e muito confortáveis, até mesmo para mim com pés “zoados” por conta de fraturas. Anger Foot não buga, não trava e não falha em entregar tudo aquilo que promete e se espera dele pelo trailer, com muita ação frenética. Me lembrando muito de quando mergulhei em Hotline Miami e, mesmo sendo dois jogos completamente diferentes, eles proporcionam memórias semelhantes.
Da mesma maneira ao jogar Hotline Miami, lembro de dirigir ouvindo Synthwave, e com Anger Foot, me lembro do quanto curtia pegar a estrada com amigos ouvindo Hard Bass. Se visualmente Anger Foot já é excelente, no quesito trilha sonora ele não deixa a desejar também, com trilhas e sonoplastia de ponta. Não temos trilhas licenciadas clássicas, como Oktoberfest, Cheeky Breaky ou Собачий кайф, mas sua trilha original é tão contagiante quanto. Sem contar que ver os inimigos dançando ao morrermos é sempre divertido.
Arrisco dizer que Anger Foot seria uma versão My Friendly Neighborhood para maiores de idade. Os dois são visualmente parecidos, mesmo sem os fantoches, porém os personagens lembram muito algo que poderia aparecer em um desenho ou programa infantil. Com muito crime, violência, música eletrônica, sangue e explosões, além de cobras voadoras (muitas cobras), Anger Foot é um excelente convite para colocar seu par de Puma Suede Classics, uma tracksuit da Adidas, e chutar tudo o que encontrar pela frente!
Prós:
🔺 Loop de gameplay divertido, níveis sempre inovadores
🔺 Desafiador, mas não injusto, fases podem ser abordadas diferentemente
🔺 Grande variedade de armas e calçados
🔺Estilo visual, trilha sonora e sonoplastia excelentes.
Contras:
🔻 O estilo visual pouco convencional pode afastar alguns jogadores
Ficha Técnica:
Lançamento: 11/07/2024
Desenvolvedora: Free Lives
Distribuidora: Devolver Digital
Plataformas: PC