Tratando-se do gênero “Survival Horror”, os últimos jogos que joguei que realmente me deixaram apreensivo e com medo foram Resident Evil 4 e Dead Space. Mas mesmo esses títulos sendo obras muito boas, havia um porém para aqueles que estavam atrás de um verdadeiro Survival Horror. Tanto Leon quanto Issac estão bem armados em seus respectivos games, transformando a experiência do medo em algo menos impactante e cedendo mais espaço para a ação.
Amnesia: The Dark Descent, da Frictional Games (a mesma produtora de Penumbra), segue um caminho diferente. Amnesia se passa no começo do século XX e detém um clima todo vitoriano. Você joga na pele de Daniel, que ao acordar em um castelo lê um bilhete que o instrui a assassinar o dono do castelo, Alexander, além de alertá-lo de uma força sobrenatural que o persegue. Acontece que o bilhete foi escrito pelo próprio protagonista. À primeira vista é uma trama sem ousadia, mas que ganha força ao longo do jogo enquanto você desvenda sua história através de bilhetes e diários.
Apesar de ser um jogo com visão em primeira pessoa, Amnesia não é um game de ação. Você não possui arma alguma e seus objetivos são sempre encontrar alguma forma de transpassar algum obstáculo ou destrancar alguma porta para assim seguir no jogo. Aliás, muitas vezes se tem a sensação de estar jogando um point and click / adventure . A interação com os objetos é feita de forma bem direta e simples. A exemplo de Penumbra, temos aqui um sistema de física e manipulação realista; pode-se segurar a maioria dos objetos e manipulá-los de qualquer forma. Algumas ações no jogo respondem à forma de como você manipula o seu mouse. Por exemplo, a velocidade que você aplica no mouse é a mesma em que a porta vai abrir dentro do jogo. Outro exemplo é que alguns puzzles (quebra-cabeças) exigem que você gire certo objeto para que ele se encaixe adequadamente.
Todos os itens, sejam os usáveis como poções de vida e acendedores ou aqueles necessários para a conclusão de certos puzzles, têm sempre uma aura azul ao redor deles. Apesar dos puzzles constantes, eles não são exatamente desafiadores. É possível ir do começo ao fim sem travar em nenhum deles, já que além das dicas visuais, as notas e diários espalhados pelo jogo geralmente dizem na cara o que é necessário fazer.
Esse tipo de decisão com pouca ação e puzzles simples valoriza o que pra mim é sem duvida o maior trunfo de Amnesia: a ambientação. O tempo todo você está num castelo escuro, sempre descendo e se embrenhando em áreas cada vez mais escuras. Não bastasse um ambiente sombrio e macabro, existe o fator sanidade dentro do jogo. Se você já conhece H.P. Lovecraft e os Cthulhu Mythos sabe do que eu estou falando. Como você não possui armas, logo não existe forma alguma de combate. Mas devido a certos acontecimentos na trama do jogo, o castelo está povoado por estranhas criaturas. Então, ao encontrar algum inimigo pelos corredores e calabouços do castelo, só lhe resta uma alternativa: fugir e se esconder até ele ir embora. O problema é que ao avistar essas criaturas você perde sanidade. Apenas a simples visão de algum monstro já causa danos a sua mente que só pode ser reparado quando você consegue avançar no game resolvendo puzzles ou descobrindo mais da história. Outra forma de perder sua sanidade é ficar tempo demais no escuro. Você tem formas de se manter em lugares iluminados através de itens limitados como acendedores que ateiam fogo a tochas e velas ou usar sua lanterna a óleo. Por outro lado, a luz atrai monstros para você. A melhor coisa a fazer ao avistar uma criatura é desligar sua lanterna e virar para a parede, evitando a perda de sanidade por avistar criaturas que não são desse mundo.
Não só de encontros com criaturas é que é gerada a tensão neste jogo. O castelo é gigante e os cenários são muito bem construídos, variando de esgotos inundados a bibliotecas, de prisões a laboratórios. Todos os ambientes são escuros e cheios de corredores com portas que rangem. O som também é parte fundamental na ambientação do game: a todo tempo ouve-se sons de insetos, ventos, e outros sons abafados, sejam de criaturas a espreita ou mesmo de pessoas gemendo ou gritando por ajuda. Esse trabalho áudio visual é tão bem feito que incita mais o medo na hora de andar pelo castelo do que qualquer encontro com as criaturas.
Amnesia é um jogo bem simples, com mecânicas diretas e sem complexidades. Porém a atmosfera que o jogo oferece ao jogador é fascinante, algo que é raro de ser ver hoje em dia seja em qualquer gênero. O medo vivido pelo personagem consegue transpassar o monitor e afetar o jogador. Amnesia: The Dark Descent é uma experiência de sentidos que define realmente o que é um horror de sobrevivência, já que aqui você luta apenas para sobreviver e não combater. Tanto que desafio, ou melhor, recomendo à você leitor jogar este game no escuro, sozinho e com fones de ouvido.