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Desde que Aliens: O Resgate impressionou a todos em 1986, com direção de um então novato James Cameron e uma atuação indicada ao Oscar da lendária Sigourney Weaver, a promessa de um bom jogo inspirado na propriedade sempre circulou por aí. No entanto, nenhum game conseguiu exatamente capturar a sensação única que a sequência de Alien: O Oitavo Passageiro trouxe ao misturar elementos do cinema de ação com o terror de um organismo perfeito que caça suas vítimas com uma ferocidade inabalável. Agora, com Aliens: Fireteam Elite, a hora parece ter finalmente chegado. 

Adaptando não apenas o universo de Aliens como também incluindo elementos das prequelas mais recentes, Prometheus e Alien: Covenant, Fireteam Elite traz bastante do cânone para animar os fãs mais devotos. A conexão com os filmes mostra um comprometimento da dev Cold Iron Studios em situar o jogador no meio desse mundo controlado por corporações misteriosas e onde os recrutas se metem em uma enrascada de que não fazem ideia ao topar combater hordas de xenomorfos.

Organismos perfeitos

Para aclimar os jogadores, Aliens: Fireteam Elite traz quatro campanhas curtas com três fases cada, ambientadas nos cantos mais perigosos imagináveis. A primeira nos coloca em uma refinaria tomada pelos xenomorfos, enquanto a segunda nos leva à superfície do planeta LV-895 para batalhar contra as feras e alguns sintéticos corrompidos. A terceira, por sua vez, traz o jogador ao interior das ruínas antes utilizadas pelos Engenheiros, e a quarta, por fim, nos põe frente a frente com a colmeia de xenos.

Não tem nada de bom nesses vasos.

O pelotão conta com três integrantes, os quais podem selecionar inicialmente até quatro classes de soldados (cinco, se completarem a campanha). As classes de artilheiro e demolidor permitem causar dano das formas mais tradicionais, enquanto os técnicos dependem mais de um controle de área com torretas. Já os médicos são uma classe essencialmente de suporte, podendo implementar estações antitraumatismo no meio do combate. É necessária uma sinergia entre classes para o sucesso.

Cada uma das classes conta com uma progressão separada, ou seja, é necessário jogar e rejogar as fases se quiser desbloquear suas habilidades. Existem dois níveis que devem ser conquistados: o ranque de jogador, que se aplica a todas elas, e o nível de classe, este sim que deve ser atingido com cada uma delas. Isso implica na presença de uma certa grind para se ter todas as classes na escala ideal, além de um bom gerenciamento das habilidades únicas a cada uma. 

A classificação de combate, então, surge como uma espécie de power level do jogador, que deve equipar habilidades na tela de vantagens para incrementar esse nível, incluindo também novas melhorias para as armas. Essa classificação também traz um elemento de repetição a Aliens: Fireteam Elite, determinando que certas fases devem ser completadas com um nível específico. Isso deve agradar aqueles que querem rejogar fases com seus amigos – sem falar nos Cartões de Desafio, que alteram drasticamente cada partida.

Habilitar as vantagens é como um puzzle.

Algo que havia chamado a atenção, negativamente, em Aliens: Colonial Marines era sua péssima inteligência artificial para os xenomorfos, e aqui isso não poderia ser mais diferente. Em Fireteam Elite os xenos são extremamente rápidos e agressivos, principalmente nas dificuldades mais acentuadas, deixando o fracassado jogo da Gearbox no chinelo. Não dá para reclamar da IA que a Cold Iron Studios programou, tornando o organismo perfeito realmente ameaçador como ele deveria ser. 

Este é um jogo de velocidade. Temos um embate entre a velocidade dos xenomorfos e a velocidade do jogador, que deve pensar quando recarregar sua arma ou parar para aplicar um kit de primeiros socorros. Existe uma tensão real nesses momentos em que devemos planejar nossas pausas, com o perigo iminente de sermos trucidados pelos aliens caso haja qualquer tipo de demora. Isso é algo que percorre a campanha principal inteira, sem falar que o sangue ácido dos bichos ao morrerem machuca.

Ellen Ripley aprova

Jogando Aliens: Fireteam Elite em single-player, temos também a inteligência artificial amiga, e embora ela seja competente para ajudar o jogador quando preciso, não chega ao mesmo nível que vemos nos inimigos. Um problema da IA amiga surge no comportamento essencialmente ofensivo dos sintéticos que nos acompanham, sendo muito eficientes para causar dano nos xenomorfos mas pouco competentes na hora de evitar o dano sofrido. Por isso, recomendo jogar com amigos.

Malditos caçadores.

Ainda falando de sintéticos, a presença destes como inimigos praticamente transforma o jogo em um cover shooter, onde devemos usar a cobertura para evitar o fogo adversário. Nestes momentos, devo dizer que a fórmula não funciona tão bem quanto poderia, deixando algumas saudades dos xenomorfos. É uma tentativa de chacoalhar as coisas, o que é louvável, mas é fato que Aliens: Fireteam Elite se destaca muito menos quando está emulando os elementos de outros jogos, como Gears of War.

O que apimenta o combate é o elemento de risco introduzido pelas dificuldades mais elevadas. Enquanto as mais baixas trazem ressurreições menos limitadas e companheiros de IA mais competentes, as mais altas introduzem riscos como o fogo amigo, o que deve tornar as partidas multiplayer do jogo ainda mais interessantes. Nem me fale da aparição dos face huggers mais ao final da campanha, que vão fazer muitos jogadores pensarem duas vezes antes de atirar na direção de seus amigos.

Não bastando o título, devo dizer que a diversão é muito melhor quando o foco está nos xenomorfos, e mesmo que algumas seções da campanha os abandonem, sempre existe pelo menos uma mistura que os inclui logo em seguida, sem cometer o erro crasso de Colonial Marines, que se tornava um verdadeiro clone de Call of Duty ao passar grandes seções com apenas inimigos humanos. Este erro não é cometido pela Cold Iron Studios, para a felicidade dos fãs. 

Não deixe o face hugger chegar perto!

Enquanto a variedade de xenos agrada, com classes como o Cuspidor, os Caçadores e variações mais fortes como os Pretorianos, isso é exatamente o que falta nos objetivos. Cada uma das doze fases incluídas na campanha consiste em ir a um local, acionar um botão e combater onda após onda de xenos, e repetir tudo de novo. Pode até haver alguma variedade visual com respeito aos locais que visitamos, mas nada disso mascara o fato de que os objetivos se repetem demais de missão em missão. 

Agravando um pouco mais a falta de variedade de objetivos, temos apenas um outro modo de jogo adicional no lançamento, Hordas. Este modo consiste da típica fórmula de combater ondas de xenos e sobreviver o máximo de tempo possível, e embora o modo prometa recompensas, o jogo poderia muito bem apresentar mais variações de seu pão com manteiga. Aliens: Fireteam Elite não faria nada feio diante da concorrência se contivesse, por exemplo, um modo que nos coloca no controle dos xenos.

Prato cheio de nostalgia

Testando tanto a versão de PS5 quanto a de PS4 do jogo, posso dizer que a diferença entre as duas consiste na taxa de quadros elevada da primeira, além do uso do feedback háptico para as armas. Graficamente falando, o jogo é atraente o bastante para despertar um interesse na sua direção de arte, fiel aos filmes da franquia com seu toque de retrofuturismo. Para agradar ainda mais, existe um pouco de customização estética para os fuzileiros, podendo trocar aparências e até adesivos de armas.

Uma banda de outro mundo.

Apesar de suas limitações, o jogo da Cold Iron Studios acerta o bastante para situá-lo como um sucesso para a marca Aliens. Se Alien: Isolation fez bem ao homenagear a fórmula do primeiro filme, dirigido por Ridley Scott, os fãs da sequência de James Cameron com certeza encontrarão neste jogo algo de seu agrado. Fora que se trata de um verdadeiro prato cheio de nostalgia, com a trilha de Austin Wintory emulando muito bem as composições de Jerry Goldsmith e James Horner.

Aliens: Fireteam Elite é uma boa pedida para aqueles que querem retornar ao mundo dos xenomorfos para bancar o/a badass e dizer “get away from her you b*tch!” mais uma vez para relembrar a glória do passado. Com a franquia cinematográfica atualmente em um hiato e sem sinal de retorno, pelo menos teremos isso para passar as saudades.