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O grande detetive Hercule Poirot está de volta e não é só no cinema! Os fãs dos livros de Agatha Christie provavelmente estão bem animados com o lançamento do longa A Noite das Bruxas, que dará continuidade a essa versão moderna do investigador belga, mas pouca gente sabe que suas desventuras também estão presentes nos games.

A série “Agatha Christie” dos videogames já existe há algum tempo, com seu primeiro título lançado em 2005 para Wii e PC. Ao longo dos anos, 10 jogos foram lançados por diferentes estúdios, tendo o último ficado sob os cuidados dos escoceses da Blazing Griffin. Após lançar The First Cases em 2021, agora eles estão dando continuidade à sua história com Agatha Christie – Hercule Poirot: The London Case, mais uma prequel que nos coloca na pele de um Poirot mais jovem e inexperiente.

Coisas de detetive

The London Case é uma sequência direta de The First Cases, mas o primeiro não chega a ser obrigatório para jogar este aqui – afinal, são só histórias de investigação independentes. Novamente acompanharemos a trajetória de Hercule Poirot antes de se tornar uma lenda, mas com um diferencial: o jogo finalmente introduz Hastings, seu fiel ajudante nos livros. Temos aqui o que supostamente seria o primeiro caso solucionado pelos dois como parceiros, o que é bem legal.

Um roubo em um museu? Que original!

A história não segue nenhum livro específico da autora, mas obviamente faz um grande esforço para se parecer com suas narrativas. A trama gira em torno de uma valiosa obra de arte que será exposta em um museu de Londres, mas obviamente acaba sendo roubada de uma forma bastante misteriosa. Isso não acontece logo de cara e existe uma série de capítulos e pequenos momentos de investigação que precedem o grande plot, mas depois o foco fica somente nesse caso principal.

Se você é fã dos jogos do Sherlock Holmes, então já terá uma boa noção de como este aqui funciona. Ele é bem básico e limitado em absolutamente tudo que propõe, mas as principais mecânicas de investigação estão ali: checagem de pontos de interesse, interrogatórios nos diálogos, mapas mentais para juntar pistas e por aí vai. A boa notícia é que ele está 100% em português, um ponto muito válido, considerando que é um título repleto de textos e diálogos.

Até que o visual do jogo engana bem na visão isométrica

Agatha Christie – Hercule Poirot: The London Case é dividido em momentos de exploração e diálogos. Na exploração, assumimos Poirot em uma visão isométrica e devemos perambular pelo cenário, sempre em busca de objetos para examinar e qualquer coisa que possa desbloquear uma nova pista. Nos diálogos, nos deparamos com algumas conversas interativas que mostram seu poder dedutivo em ação, mas não é nada tão legal quanto parece.

Nem tão elementar

Para não soar injusto, podemos dizer que The London Case está em um patamar semelhante aos títulos do Sherlock Holmes, em termos de gameplay. Não tem ação e é tudo bem parado, mas aqui as coisas conseguem ser mais entediantes. A começar pela velocidade do personagem, que anda a passos de tartaruga e faz parecer que tudo está em câmera lenta. Não chega a ser o maior problema do jogo, mas dá um soninho.

A progressão é extremamente linear e dá todas as margens para erros possíveis ao jogador, então não existe nenhum tipo de punição quando damos mancada. Um exemplo: a todo momento nos enfiam diálogos em que devemos usar a lógica para descobrir algo sobre a outra pessoa. O Poirot simplesmente deduz uma informação e é você quem deve especificar como ele chegou àquela conclusão. Se você errar, ele simplesmente diz (em pensamento, óbvio) que aquilo não está certo, nos forçando a escolher novamente até acertar.

Joana d’Arc ou Trevor Lawrence?

Esse tipo de coisa acaba estragando parte da experiência, já que a gente acaba não se importando em errar. Outro detalhe que me incomodou é que nem sempre a lógica do jogo funciona; em alguns momentos, o Poirot chega a umas conclusões absurdas que te deixam completamente perdido, então isso prejudica parte da naturalidade da investigação. Podemos notar isso acontecendo principalmente nos mapas mentais, onde devemos juntar pistas para definir os próximos passos. Acaba sendo mais um processo de tentativa e erro do que de raciocínio.

Ainda que não seja perfeito, Agatha Christie – Hercule Poirot: The London Case consegue proporcionar uma experiência de investigação minimamente satisfatória. Está longe de ser marcante, mas quem curte o gênero pode gostar de caçar o grande ladrão de artes na pele do jovem Poirot. O gameplay falha, mas entrega algo aceitável. O verdadeiro problema deste jogo acaba sendo majoritariamente técnico.

Feio arrumadinho

Não sei como este título está se saindo nas outras plataformas, mas o port de Switch está bem triste – a começar pelo tempo de loading, que leva no mínimo 30 segundos para carregar qualquer tipo de cenário. Chega a ser sofrível o quanto precisamos esperar durante o gameplay, pois o jogo precisa carregar praticamente o tempo inteiro.

A pior parte é que os gráficos nem são bonitos! Logo de cara já dá para notar que eles estão bem abaixo de qualquer expectativa, trazendo um polimento bem básico e limitações em todos os aspectos possíveis. Quando estamos jogando com a câmera isométrica, as imperfeições acabam sendo disfarçadas, mas a perspectiva muda o tempo inteiro por conta dos diálogos, tornando nítida sua falta de beleza.

Cheguei achando que era sangue, mas infelizmente é só cera

Os modelos dos personagens infelizmente não conseguem se salvar. Todo mundo aqui é um boneco feio e sem vida, com um olhar frio e matador. Quando eles estão conversando, apenas a boca se mexe, tal qual um legítimo jogo de 20 anos atrás. A dublagem acaba salvando parte dessa experiência, com uma atuação decente, mas que ainda traz diversos momentos de estranheza.

Aqui destaco os monólogos de Poirot, que apresentam um evento bizarro: sempre que ele está falando em pensamento, a qualidade do áudio fica péssima! Parece que gravaram com um microfone de camelô, o que não faz nenhum sentido, considerando que em outros momentos está tudo certo. Eu simplesmente não entendi o que acontece com este jogo, mas em termos técnicos, ele está sempre sofrendo com alguma bizarrice aleatória.

Dito isso, novamente reforço que Agatha Christie – Hercule Poirot: The London Case não é de todo ruim, mas está longe de ser um jogo daqueles que saímos recomendando para todo mundo. Quem é fã de investigação ou de Agatha Christie pode até curtir sua vibe forjada em toda aquela pompa europeia, mas não vai passar disso. Continua sendo uma franquia bastante obscura que merecia um pouquinho mais de cuidado, principalmente pelo peso do nome que carrega.