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Dezenove anos é tempo suficiente para cicatrizar as feridas causadas por um trauma? Talvez para algumas pessoas, mas não para Jonathan Weaver, agente do FBI. Há quase duas décadas atrás, quando ainda era um garoto, o personagem perdeu seus pais e seu irmão devido ao trabalho de um assassino serial conhecido como Providence, que já havia tomado quatro vidas antes disso. O bandido nunca foi capturado e, mesmo nunca tendo sido esquecido pelo protagonista, o caso foi dado por encerrado. Isso até um fatídico dia em que, dezenove anos após os incidentes, uma mensagem é enviada especificamente a Jonathan. Nela, um simples recado: “J, você se lembra da tragédia de dezenove anos atrás? Ela está para acontecer novamente.”

Esse é o contexto de Again, que coloca o agente Weaver na investigação à procura da pessoa que destruiu sua vida. Após receber esse aviso, novos assassinatos começam a ocorrer, todos com extrema similaridade aos crimes cometidos por Providence no passado. Não apenas as causas das mortes são iguais, como o “cartão de visitas” do assassino serial, sempre encontrado no local, é o mesmo. Trata-se de um Olho da Providência, ou um Olho que Tudo Vê, recortado de uma nota de um dólar. A premissa é simples e, apesar de tramas similares poderem ser vistas facilmente em qualquer seriado policial, ela funciona e é bem apresentada.

Aliás, apresentação é com certeza uma das melhores coisas que o jogo tem a oferecer. Os modelos dos personagens são fotografias de atores reais, e os vídeos que ocorrem em certos momentos são todos FMV. É uma pena que eles não apareçam com mais frequência; além da pura nostalgia da época em que muitos jogos eram feitos dessa maneira, seu estilo um tanto quanto brega é perfeito para o tom da narrativa, que oferece, obviamente de maneira proposital, os clichês mais básicos de um thriller policial. Pode-se ainda somar a isso uma abertura na qual os nomes de vários personagens e localidades são mostrados, além de tempos em tempos a aventura ser intercalada com uma vinheta que não deve em nada a séries televisivas. Assim, é uma pena que jogar Again não seja nem remotamente tão interessante quanto esses elementos de sua apresentação.

Again

Logo no começo da aventura, Weaver descobre que “em locais onde eventos ocorreram” – assim é descrito pelo jogo – o agente é capaz de ver o passado caso toque em um desses Olhos da Providência. Mas, para ver tudo o que se passou, é necessário que o ambiente do presente fique idêntico a como foi anteriormente, no momento desses acontecimentos. Fazer isso é bastante simples; uma lata de cerveja está na mesa no passado, mas não no presente? Abra a geladeira que se encontra ao seu lado, posicione a lata no local correto e pronto. Uma lâmpada está quebrada no passado, mas não no agora? Pegue uma escada, suba e quebre-a. Existem vários elementos do cenário que estão diferentes nos dois tempos, e caso você se foque nos errados perderá um pouco de sua barra de Psyche. Esvaziá-la significa game over, mas realisticamente isso nunca vai acontecer. Encontrar as disparidades relevantes é muito fácil, e é necessário que você erre várias vezes para que falhe.

A outra parte da mecânica de jogo revolve em torno de conversas. Novas informações levam a novas pistas, que por sua vez levam a novas testemunhas. Esses diálogos, no entanto, nunca oferecem caminhos diversos para você conduzir sua investigação. Tudo que deve ser feito é clicar com a stylus em todas as perguntas até que todas as opções acabem. Algumas vezes o jogo tenta mesclar as duas mecânicas, entretanto a simplicidade se mantém. Por exemplo, em dada cena é necessário encontrar um cigarro de uma marca que não é mais produzida. O item só pode ser conseguido com a ajuda de um outro personagem, mas para que o objetivo seja conquistado não é necessário convencê-lo ou engá-lo. Você precisa apenas conversar com ele e exaurir as possibilidades de fala. O mais chato dessas horas é que nem sempre é lógico com quais pessoas devemos conversar. Isso leva a momentos em que você apenas vai passando através da lista de personagens que encontrou, dialogando com cada um deles até que alguém tenha a resposta à pergunta que você procura.

E é basicamente isso. Repita o processo dessas duas mecânicas entre cinco e seis vezes e você terá Again. Depois de algumas horas de jogo eu me via fazendo as atividades necessárias de maneira automática, tudo apenas para ver qual seria o próximo acontecimento da história, que perto do final acaba por tornar-se óbvia, perdendo assim seu apelo. Há também alguns problemas na tradução, que abrangem desde erros gramaticais até construções que, mesmo se corretas, soam artificiais e acabaram por diminuir qualquer efeito de imersão proporcionado pela trama e charme da apresentação que eu sentia. Ver o presente e o passado ao mesmo tempo em duas telas diferentes é interessante, mas os outros elementos estruturais do título parecem inacabados fazendo com que toda a experiência de Again seja insatisfatória.