O caos mundial que a Nintendo costuma causar sempre que decide mexer com Advance Wars não é brincadeira. Lá em 2001, quando a franquia estava estreando no Game Boy Advance, o primeiro título da série foi adiado devido aos atentados terroristas que assolaram os Estados Unidos no dia 11 de setembro. Quando finalmente resolvem tirar o jogo da geladeira (após um “rápido” intervalo de 15 anos), a Rússia invade a Ucrânia e força um novo adiamento.
Só agora, mais de um ano depois da sua janela de lançamento inicial, Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp está vendo a luz do dia. Ao invés de um título 100% inédito, optaram por relançar os dois primeiros jogos da série em moldes mais modernos, trazendo gráficos repaginados e algumas novidades no pacote. Gosto bastante dos originais (lançados para o GBA em 2001 e 2003, respectivamente), mas assumo que poderiam ter caprichado um pouquinho mais nesse aqui.
Guerra para crianças
A premissa de Advance Wars é bastante simples, mas não deixe o visual infantilizado do jogo te enganar. Temos aqui uma bela mistura de estratégia com combate tático, só que sem a parte do RPG (que costuma ser o gênero mais explorado dentro desse estilo). Aqui os personagens não sobem de level e nem podem ser customizados com equipamentos novos – seu único objetivo é entrar no campo de batalha e mostrar ser o comandante mais dominante.
Dito isso, se você é um jogador de Fire Emblem ou qualquer outro RPG tático, é importante ter em mente que as semelhanças entre eles são meramente ilustrativas. Advance Wars é praticamente um jogo de xadrez, onde não adianta sair atacando as tropas inimigas com força total sem ter o mínimo de estratégia. Por isso, ele acaba sendo mais difícil que os demais e pode acreditar: o menor dos deslizes pode ser o suficiente para condenar uma batalha.
Se você chegou a jogar os antigos, então já sabe bem o que esperar de Re-Boot Camp, pois são literalmente os mesmos jogos. A maior diferença fica a cargo da renovação visual, já que agora temos cutscenes muito bem animadas e um traço mais amigável para os personagens – que terão até algumas falas dubladas, adicionando uma camadinha extra de personalidade para cada um (mas bem pequena mesmo, não crie grandes expectativas). Já no campo de batalha, decidiram adotar um estilo gráfico que parece um tabuleiro com bonequinhos – talvez para tentar amenizar a temática pesada do jogo.
O enredo de Advance Wars é bem bobinho, para não dizer irrelevante. Basicamente, assumimos o papel de alguns comandantes da nação Orange Star, que está sendo atacada pelo país vizinho Blue Moon. O jogo todo consiste em trocas de ofensas e disputas territoriais, do jeitinho que uma guerra costuma ser. Apesar dos personagens terem alguns diálogos e interações entre si, não é nada muito interessante ou que prenda a atenção do jogador. Contudo, são nas batalhas que a diversão acontece.
Precisa-se de um general
Após as primeiras batalhas (que servem apenas como um longo tutorial para ensinar todas as mecânicas do jogo e funções de cada veículo ou unidade), você logo percebe que Advance Wars não faz nenhuma questão de pegar leve com o jogador. Existem muitas formas de vencer uma batalha e cabe exclusivamente a nós definir as melhores táticas de acordo com as circunstâncias do terreno, exército inimigo e outras questões. No geral, você vence de dois jeitos: derrotando todas as unidades do oponente ou tomando seu quartel-general para si.
Essa versatilidade nas possibilidades de vitória é um dos seus maiores atrativos, pois nem toda batalha pode ser vencida na força bruta. Muitas vezes será necessário usar unidades como isca para limpar o caminho, enquanto outro veículo solitário leva algum soldado sorrateiramente até a base inimiga. É claro que falando parece ser super fácil, mas por mais infantil que o jogo pareça ser, cada batalha é capaz de causar uma tensão sem igual. Uma única unidade perdida pode ser o suficiente para acabar com suas táticas, então aqui cada movimento conta.
Ainda existem alguns poderzinhos maneiros que podemos usar de tempos em tempos. Cada comandante tem uma habilidade específica que garante alguma vantagem temporária em combate, então faça bom uso delas, pois são fundamentais para a vitória. Eu sei que tudo isso soa incrível e que o jogo parece estar bem completo – e de fato, ele está. Advance Wars continua tão divertido quanto era antigamente, mas tem um problema aí: tudo isso já estava nos originais.
Todos esses elementos de gameplay não foram adaptados de nenhuma forma, os devs apenas pegaram os clássicos do GBA e refizeram para o Switch. A única diferença relevante é a possibilidade de acelerar o combate (e nem é nada tão rápido quanto aparenta). Não quero ser injusto, afinal Re-Boot Camp me divertiu bastante, mas estamos falando de dois jogos que envelheceram muito bem e que, sinceramente, não precisavam desse remake (ou reboot, remaster e seja mais o que estão chamando esta coletânea). Se tivessem investido em um título totalmente inédito para a franquia, acho que teria sido melhor aproveitado.
Quanto às demais novidades, não existem muitas. Foi adicionado um modo de criação de fases, onde podemos usar elementos de ambos os jogos para criar nossos próprios campos de batalha (o que é legal, mas nada de mais), além do multiplayer online. A possibilidade de enfrentar outros jogadores na rede empolga, mas ainda conseguiram estragar a experiência. Por algum motivo, você só pode enfrentar pessoas que estão na sua lista de amigos e que tenham o jogo, ou seja: não dá para combater jogadores aleatórios nem participar de partidas ranqueadas. Qual o sentido disso?
Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp não deixa de entregar o que prometeu: uma oportunidade de reviver dois clássicos com gráficos modernos ou de conhecer a franquia do zero. Não deixou de ser divertido e viciante em nenhum aspecto, mas também não chega a impressionar quem já é das antigas. No caso dos novatos, o fato de estarem cobrando preço cheio nele provavelmente vai afastar a maioria. Entretanto, uma coisa é certa: sempre vale a pena dar uma chance para Advance Wars.