A Tale of Paper é o projeto estreante do estúdio espanhol Open House Games, bebendo da fonte de vários títulos de plataforma modernos como Unravel Two, Little Nightmares, Limbo, Inside e outros. É um jogo pequeno produzido por uma equipe igualmente pequena, mas que consegue ter sua própria personalidade e fazer bonito, mesmo “competindo” contra tantos jogos incríveis do mesmo gênero.
Deixando de lado bonequinhos de lã e mundos sombrios, em A Tale of Paper assumimos um protagonista feito de papel que deve alterar sua forma para superar obstáculos e avançar em sua jornada. Apesar do mundo ao nosso redor não ser feito de papel, esse elemento – que não só dá nome como também é o foco principal do jogo – é utilizado de uma forma única e criativa.
Frágil como papel
O enredo do jogo segue aquele tom misterioso que também vimos nos jogos citados anteriormente. Absolutamente nada é revelado ao jogador, apenas vemos uma luz dando vida a um boneco de papel inanimado e a partir daí devemos seguir em frente e descobrir onde esse jogo vai acabar.
Essa luz também garantiu ao nosso boneco algumas habilidades mágicas como remover parafusos, ativar dispositivos com a mente e até mudar sua forma! Através do origami, nosso boneco pode assumir a forma de animais e ganhar habilidades exclusivas, como dar um pulo muito alto ao se transformar em um sapo, por exemplo. Não parando por aí, ele também pode assumir formas mais simplórias como a de uma bola de papel amassada, mas cada uma tem o seu próprio propósito no jogo.
A Tale of Paper carece de palavras ou explicações em qualquer aspecto, então não espere um jogo complexo e cheio de objetivos. O máximo que ele nos oferece são algumas imagens sutis no cenário que podem indicar a função de algum botão específico, mas isso só no comecinho do jogo. A partir dali, cabe unicamente ao jogador avaliar cada obstáculo imposto e como superá-lo, fazendo bom uso das diversas formas que vamos desbloqueando no caminho.
O jogo não é difícil, mas oferece puzzles bem legais e estimulantes ao longo de suas oito fases, que infelizmente são muito curtinhas, então é bem possível terminá-lo em pouco mais de uma hora já na sua primeira jogada. Ele é tão curto que bate até uma frustração quando acaba, deixando aquela sensação de “poxa vida, é só isso?” – e a resposta é sim, infelizmente é só isso.
Lute pela sua vida
Os obstáculos das fases são bem balanceados e variam entre desafios de plataforma e ameaças iminentes que nos perseguem o tempo todo – no mesmo estilo dos “nêmesis” de Little Nightmares. O jogo não tem combate, então nesses momentos só temos que fugir o tempo inteiro. De todos os inimigos, o que mais gostei foi o robô aspirador, afinal faz todo o sentido: ele quer deixar tudo limpo e você é uma “sujeira” no caminho (sem contar o fato de que foi a primeira vez que um aspirador de pó me botou medo).
Os gráficos do jogo já são um tanto ultrapassados, mas os desenvolvedores souberam disfarçar esse detalhe fazendo bom uso da iluminação. O game segue em ambientes escuros praticamente do início ao fim e muitas vezes contamos somente com alguns pontinhos de luz pelo caminho (novamente remetendo à Little Nightmares), então mal dá para perceber seus gráficos inferiores.
Uma coisa que me incomodou muito em A Tale of Paper é o fato de não existir nenhuma indicação de onde vamos pousar após um pulo – algo essencial, pois estamos falando de um jogo de plataforma onde devemos pular o tempo inteiro! O personagem não tem sombra em nenhuma de suas formas, então quando você pula, precisa ficar adivinhando onde ele vai cair e, muitas vezes, recomeçar todo o trecho do zero porque morreu ou caiu de bobeira. Logo na primeira fase já sofri muito com isso.
Outro defeitinho chato que acabei testemunhando é quando o personagem fica preso entre elementos do cenário, o que felizmente é bem menos comum, mas acontece. Comigo já aconteceu logo na primeira fase, quando errei um pulo (novamente reforçando como o fator citado no parágrafo anterior atrapalha) e caí entre duas caixas que estavam embaixo. O boneco ficou preso entre elas e não tinha como sair de lá, me forçando a reiniciar a fase e começar tudo de novo, já que o jogo não salva o progresso entre um checkpoint e outro.
Tirando esses pesares, A Tale of Paper é um jogo de plataforma decente que conseguiu criar uma identidade sem deixar de lado suas fortes inspirações (o que é ótimo). Se ele fosse um pouco maior e não tivesse o problema do pulo, teríamos um jogo consideravelmente melhor, mas o que já temos também não é de se jogar fora. Com o perdão do trocadilho, é um jogo que soube trabalhar bem com o seu “papel”.