O mais novo jogo, ou melhor, a mais nova obra artística da Tarsier Studios, estúdio sueco responsável por Little Big Planet 3 e Tearaway, só tem pesadelo no nome. Quase como um sonho para qualquer fã do estilo plataforma, Little Nightmare está lado a lado de pequenos notáveis como, por exemplo, Inside e Unravel.
Desde o primeiro momento em que acordamos nesse belíssimo e medonho universo, notamos que a simplicidade é fator de muita criatividade, talento e cuidado. Tudo como parte da fórmula que nos transporta para o desenrolar de uma história madura, capaz de visitar os medos e inseguranças da nossa infância, mas com seu próprio estilo.
Prepare sua capa de chuva amarela e fique de olhos bem abertos para conseguir enxergar pela pequena chama em sua mão, pois você precisará sobreviver ao perigo do escuro.
Cadê a história?
Seja com uma visita curiosa ao site oficial do jogo ou apenas jogando Little Nightmares, você fará parte de mais um dos milhares de jogadores que precisarão se unir na tentativa de construir a história desse jogo. Então vamos contribuir para as teorias, mas sem spoilers!
Você está no comando de Six, uma garotinha de capa amarela, que acorda de um pesadelo com uma Gueixa, que usa uma máscara de teatro kabuki, num local úmido e metálico. A partir de então você terá uma breve jornada (algo em torno de três horas de jogo) em um local conhecido apenas como The Maw, uma espécie de navio que comercializa carne. A cada novo nível que você alcança, um novo desafio te espera: um assustador açougueiro, sem olhos e de braços compridos, ou cozinheiros gordos e ameaçadores.
Nada é explicado! Six está sozinha nesse mundo, apenas encontrando com os The Nomes, pequenos gnomos (sem o G) com coloração sépia e que surgem correndo de onde você menos espera. Até o final do jogo você passará por quatro ambientes e que vão te chocar a cada detalhe encontrado. Somente próximo ao encerramento é que teremos uma noção maior do que pode ser tudo aquilo que está ameaçando a pequena garota.
Muitas teorias existem sobre a origem de Six, quem é a Gueixa do pesadelo, quem são os “funcionários” medonhos que habitam esse navio, as carnes, a porta vigia e sua luz, o formato triangular igual ao capuz de Six, a energia vital representada por uma névoa negra e até mesmo outros personagens e elementos que vão fazer parte do encerramento do jogo. Para quem, assim como eu, quiser saber mais sobre essa história, a Titan Comics anunciou que lançará no dia 31/05 o primeiro volume de uma mini-série de quadrinhos que expandem e exploram o que não foi narrado em jogo.
Também recomendo vídeos que tentam explicar a história, mas o melhor de Little Nightmares é você criar a sua própria. Com certeza você entenderá o básico e que poderá compartilhar com outras pessoas para ter aqueles momentos agradáveis de discussões e teorias sobre o que acontece com Six no The Maw.
A beleza do medo
O trabalho da Tarsier Studio mostra um amadurecimento do que já vimos em trabalhos anteriores, porém conseguimos notar o estilo do estúdio sueco. Com muita escuridão, a ponto de realmente não enxergarmos nada, as áreas iluminadas ou habitadas por outros personagens, que normalmente são salas repletas de elementos, encantam pelo nível de detalhes. Longe de ter um visual realista, Little Nightmares lembra os nostálgicos desenhos animados europeus da década de 80 e 90, que tentavam recriar a realidade com traços e cores carregados, numa paleta de cores pastel que auxiliam na atmosfera velha, suja e úmida.
Six dispensa comentários, pois se comparamos este jogo com Inside e Unravel, acredito que ela consegue superar em muito os outros personagens que já tiveram seu espaço em 2016. Sua expressão corporal é o principal da atuação dela nesta história. O pouco do seu rosto que nos instiga a aproximar a câmera para tentar captar algum sentimento, porém mesmo coberta pela capa de chuva amarela, nós conseguimos entender suas angustias, medos e aflições, seja no escuro ou fugindo de alguma ameaça. Você ficará com frio e fome (e será a fome que vai te chocar cada vez mais), levando sua personagem ao extremo, além de interagir graciosamente com as condições do ambiente em que você estiver. Quer outra surpresa agradável? Corra com a chama em sua mão acesa e você verá o cuidado no desenvolvimento desse jogo.
Todos os ambientes, incluindo a escuridão, também interagem com o intuito de completar o estilo artístico do jogo. Você poderá interagir com quase tudo e quase tudo ou quase todos também poderão interferir em sua jornada. Basta usar o R2 e as possibilidades serão diversas ao usar as mãos de Six pelo cenário.
Run, Six, Run!
A pequena garota estará sozinha e, para piorar, sem nenhum objeto que possa usar como arma para se defender. Você contará apenas com o fogo que você carrega para iluminar o seu caminho e acender lampiões ou velas; tudo complementará a história que ronda o The Maw.
Correr, fugir e se esconder são as únicas opções para você durante as quase três horas de jogo, porém não serão tarefas simples. O simples andar pelo ambiente pode despertar os inimigos por conta de poças d’água ou até mesmo pelo ranger das tábuas no chão. Próximo ao fim do jogo é possível notar que o estilo plataforma ganhará uma nova configuração e desafiará o jogador colocando a urgência do seu progresso ainda mais acima do perigo constante que encontramos até então.
Toda essa correria em busca do desconhecido, afinal você seguirá sempre em frente sem saber o motivo e apenas tentando sobreviver, revelará que o visual também é responsável por um level design impecável. Explorando horizontal e verticalmente, em que um pequeno interruptor perdido numa sala pouco distante, poderá te levar por um caminho até uma porta que antes estava eletrificada ou você precisará contar com o caminhar do inimigo para alcançar certos itens que contribuirão para o seu progresso. Nada propositalmente colocado para dificultar sua jornada, prepare-se para cair pelas laterais ou ao fundo do cenário por conta da profundidade que existe na exploração lateral 2D, ao melhor estilo já firmado por Little Big Planet. Muitas vezes a mínima desatenção de onde você cairá ou pisará pode levar Six à morte.
Como plot twist na narrativa e também na jogabilidade, Little Nightmares nos surpreende ao mudar a maneira como jogamos ao mesmo tempo em que encontramos o último e único chefão. A mudança inesperada no ritmo resgata tudo o que aprendemos desde o início para encararmos o último desafio desse título indie. Tudo isso para nos levar à uma das melhores surpresas, e pode acreditar, mesmo sendo um jogo breve, você terá várias e excelentes descobertas nessa jornada macabra.
Uma pequena notável
Não sei se tivemos a oportunidade de jogar o melhor título de 2017, porém com toda certeza você terá a chance de jogar um indie que abdica da narrativa e sacrifica sua trilha sonora, reservando um estilo sonoro angustiante em momentos de clímax e principalmente na segunda metade do jogo, para uma experiência neutra em The Maw.
A imersão criada e as sensações que temos a cada ambiente explorado, só possível por conta dos controles simplificados, coletar todos os desafios ou apenas ficar observando cada localidade desse navio macabro são os principais pontos positivos e que servem como diferencial para qualquer outro jogo que propõe o mesmo estilo de exploração 2D.
Com certeza ainda teremos mais conteúdos a serem lançados pela Bandai, afinal a primeira tela do jogo detecta novos conteúdos disponíveis, e tudo isso contribui para que você dê uma chance para que Little Nightmares esteja ao lado de outros títulos que ganharam destaque ano passado. Com certeza você não se arrependerá do investimento feito, muito menos dos sustos e aflições que ganhará de brinde!
Esse é uma das primeiras análises que escrevo para o Gamerview em que não posso comentar muito sobre a história, pois qualquer comentário sobre quem são os inimigos, onde Six está e o que você encontrará na segunda metade do jogo, podem estragar toda surpresa que o estúdio sueco preparou para te chocar e maravilhar. Prometo retornar em breve com um post sobre os conteúdos extras, a história e a ligação com os quadrinhos.