Foram nas gerações 16 e 32-bit que os jogos de plataforma tiveram sua era de ouro. 88 Heroes aprendeu com o passado desse gênero e otimiza o que Super Meat Boy fez em 2010, acrescentando seu próprio estilo para torná-lo em um excelente indie.
Deixando de inovar nos estágios, foi reservado aos personagens o principal destaque do jogo. Lembrando muito Kid Chameleon, a jogabilidade se diversifica e transforma a maneira como você progride como algo único e diferente a cada nova vida.
88 do início ao fim
Dr. H8 (“eight eight” em inglês, sacou?) quer destruir a Terra utilizando 88 ogivas termonucleares. Você terá 88 heróis para desbravar 88 fases, que deverão ser vencidos em 88 segundos. Uma manobra dos terráqueos em seus últimos 88 minutos de vida antes da destruição.
Resgatando as histórias mais absurdas, dos grandes vilões de desenhos da década de 90, o trabalho de estreia da Bitmap Bureau vai além do visual e trilha sonora. A história pode ser simples, nos colocando sob teste para ir do ponto A ao B, porém o diferencial está nas 88 maneiras diferentes de cumprir essa tarefa.
Referência é o que não falta. São homenagens aos quadrinhos como Gonan, jogos de PC, com Amira of Arabia, 16-bits, com Big Lou, e até mesmo lembranças do estilo plataforma, com Commandude. São muitos expoentes do entretenimento em um único jogo.
O visual pixelado impressiona pelos detalhes, criando a versão de 88 Heroes de 007, Harlem Globetrotters ou mascote da Nintendo, com suas próprias características e carisma. Quando você perde uma vida no jogo, você também ficará espantado pelo visual e o que é possível fazer com pixel art.
Já que é para resgatar a era 16-bit, a produtora também se preocupou em criar uma trilha sonora sintetizada e “chiclete”. As músicas variam entre genéricas a algo mais impactante e com eletrônico, tentando criar a imersão correta para cada situação e inimigos a serem enfrentados. Infelizmente, assim como o visual criado para o mundo de 88 Heroes, a trilha acaba repetindo muito – mesmo sendo agradável. Seria melhor se cada personagem tivesse sua própria trilha.
88 maneiras de jogar
Os cenários são bem simples e variam entre os 4 “mundos” disponíveis: prédio comercial, esgoto, vulcão e estação espacial. A falta de diversidade no visual não impacta negativamente na experiência, que fica toda concentrada no gameplay.
Para deixar a jogabilidade diferente de tudo que já vimos, temos 88 poderes/habilidades que contribuirão para atravessar cada uma das localidades dentro do tempo limite. Essas “celebridades” que você controla tem uma ligação na luta contra Dr. H8, em uma breve e hilária biografia, revelada no momento em que cada uma entrar em jogo. ASCII The Magic Unicorn, por exemplo, é o último de sua espécie e acabou se camuflando de código de programação para sobreviver. Essa maluquice toda faz com que ele tenha um campo de proteção que “altera” o comportamento dos inimigos.
Você poderá voar com Kid Cupid, atirar com Tommy the Gun, usar espadas com Custard Trout, socar os inimigos com Digi-Punch, atacar ou não com Dr. Schitzo, além de diversos animais, como Eggsploder, robôs, como Powertron, e alienígenas, como Zorb, fora várias outras criaturas bizarras.
Os comandos são simples: um botão para pular, outro para usar sua habilidade e outro para deslizar a câmera para os lados. Cabe a cada personagem oferecer sua própria alteração aos comandos básicos. El Delayo terá um segundo de diferença entre o input no controle e a ação na tela; Retro Reptile deixará você controlar o antigo jogo da cobrinha (de celular, lembra?) em plena fase; Wang Wei é um Panda que inverte os seus controles; Ladder Lola, a minha preferida, utiliza uma escada para acessar qualquer área a qualquer momento.
Isso sem contar aqueles que não oferecem estratégia ofensiva ou defensiva, mas existem apenas para atrapalhar o seu jogo. Fly Guy, What? e Ian_Error nem sempre vão te ajudar. Para isso você tem a opção de explodir o seu próprio personagem e torcer para que o sistema aleatório mande alguém melhor da próxima vez.
Existe um fator positivo para essa jogabilidade tão diversificada: os cenários conseguem respeitar a limitação e estão preparados para os mais variados estilos de progressão, para que você consiga utilizar qualquer um dos 88 personagens. O único problema da fórmula em 88 Heroes – se não pudéssemos reviver cada um dos heróis mortos após coletar 88 moedas – é não ter um “game over” com a morte dos 88 personagens. Existe sempre uma última tentativa eterna, até você reviver mais amigos que te ajudem a chegar ao final da fase. Isso pode ser realmente irritante se você cair com alguma habilidade ruim.
Tudo isso você encontra nos três modos diferentes de jogo: Modo 88, o que seria o modo história, 8 Homens e um Destino, em que você escolhe apenas 8 heróis, e Solo, em que você terá 88 fases para enfrentar com apenas um personagem. Você também pode se preparar e testar as diversas habilidades com o Treino, disponível desde o início.
88 minutos para o chefão
Enquanto você joga, Dr. H8 está em seu covil assistindo tudo em sua imensa tela e controlando os inimigos que você enfrenta. Isso tudo para demonstrar o tempo restante, estimado na história, além de compor a interface do jogo. Inicialmente apenas mostrando os controles, biografia e nome dos personagens, Dr. H8 também interage com o jogo. Você verá robôs passando pela tela, o vilão consumindo seu refrigerante e recusando chá, ao destruir a cabeça de um dos seus empregados e até mesmo ter sua tela desligada quando alguém tropeçar em um cabo.
Tudo faz parte da história e do jogo. Sem contar as frases que ele solta quando você morre e perde um dos 88 heróis. Você vai ouvir pérolas como, por exemplo, “Eu fiquei sem bizarros para aniquilar” e “Oh! Seu interior parece tão bonito!”. Dr H8 também promete que publicará suas falhas no YouTube! Afinal o que melhor do que um vilão maléfico que dificulta o jogo, mas não deixa o bom humor para suavizar a jogatina e contribuir positivamente para o fator replay, por mais que você morra 176 ou 264 vezes.
Infelizmente a chance que temos de lutar contra o chefão, o mesmo do início ao fim, não é algo difícil. Resgatando o mesmo estilo de combate contra o Dr. Robotnik (vilão de Sonic), escapando dos seus ataques e pulando sobre um dispositivo para infringir dano, o desafio será breve e simples. Nem tudo é perfeito, mas com certeza isso não atrapalhará na diversão.
88 motivos positivos
Se eu listasse os 88 heróis disponíveis, isso tiraria toda a graça e surpresa do jogo. O divertido de 88 Heroes está em descobrir cada um e como utilizá-los, sendo um mais bizarro que o outro. O game dura umas boas horas, é bonito, divertido de jogar e engraçado para ter inclusive alguém ao lado assistindo.
São muitos elementos favoráveis para um jogo de estreia que quase não tem pontos negativos. Até mesmo o que dificulta e atrapalha nos 88 estágios foi pensado para existir como parte da experiência. Ou seja, temos aqui um jogo quase perfeito e que chega essa semana aos consoles depois de uma jornada de sucesso no PC.