Skip to main content

Quando penso em Cyberpunk imagino um ambiente de alta tecnologia, porém de baixa qualidade de vida, megacorporações que são os centros de poder e histórias sombrias cheias de mistérios. Jogos como Snatcher ou Rise of the Dragon traziam essa abordagem e serviram de inspirações para 2064: Read Only Memories Integral, que vai além, proporcionando uma reflexão sobre temas atuais da nossa sociedade e ainda se diferencia pelo fato de não ser sombrio, tendo até mesmo algumas piadas em sua narrativa.

Este é um point-and-click de aventura com grande foco na narrativa e fortemente inspirado em jogos dos anos 90 com gráficos em pixelart. Explore a futurística cidade de Neo-San Francisco, onde cada local conta com uma trilha sonora eletrônica, enquanto resolvemos os mistérios desta história. E esteja atento pois suas escolhas vão moldar o progresso do jogo.

Em busca do Criador

Neste jogo somos um jornalista que enfrenta problemas na carreira e que em um belo dia tem seu apartamento invadido pelo primeiro robô sapiente do mundo, uma ROM (máquinas de relacionamento social e organização de dados) chamado Touring. Este pede sua ajuda para encontrar seu criador, que aparentemente foi sequestrado. A partir disto, nos aprofundamos em uma narrativa que vai além da busca pelo desaparecido, em que conhecemos uma cidade tecnológica cheia de personagens que colaboram para encontrar pistas sobre este sequestro e que também possuem seus próprios problemas ampliando a atmosfera da narrativa.

Imagem do jogo 2064: Read Only Memories Integral
Ok, os diálogos utilizam o rodapé da tela, mas olha esse espaço aos lados e acima, essa tela podia ser maior né.

Caso você não seja acostumado com este gênero – assim como eu – saiba que 2064: Read Only Memories Integral é bastante cansativo, há uma grande quantidade de diálogos e todos em inglês sem nenhuma outra opção de tradução. São poucos os momentos de puzzles e geralmente são bem fáceis de resolver; a interação com os objetos é bastante linear, dando a impressão de que a narrativa também será assim. Isso pode causar um pouco de tédio no início, mas, ignorando este aspecto, quando começamos a nos aprofundar na história, percebemos o quanto ela trata de assuntos atuais de maneira carismática e isso nos estimula a continuar descobrindo-a.

Durante nossa investigação, interagimos com vários personagens e todos possuem narrações feitas por famosos como: Melissa Hutchison e Dave Fennoy (The Walking Dead), Erin Yvette (Oxenfree), Austin Creed (WWE’s Xavier Woods), e até Youtubers como Jim Sterling (Jimquisition) e SungWon Cho (ProZD). A narração deixa o clima mais agradável, dando a possibilidade de interpretar os sentimentos que os personagens estão demonstrando nos diálogos.

Profundo e envolvente

2064: Read Only Memories Integral oferece diferentes linhas narrativas conforme nossas escolhas. Isso possibilita vários finais e para descobri-los não se requerem habilidades específicas e sim escolhas diferentes. Acredite: esse é um dos grandes desafios. As escolhas podem ser difíceis porque os personagens são tão carismáticos que acabamos nos apegando a eles e optando de forma emocional.

Imagem do jogo 2064: Read Only Memories Integral
Conforme progredimos, desbloqueamos os diversos pontos do mapa.

No jogo, a alteração genética dos seres humanos está se tornando algo comum, com muitos optando por alterar radicalmente seus corpos para expressar sua individualidade. As inteligências virtuais, criadas para serem simples assistentes digitais, agora estão exercendo maior controle sobre a vida das pessoas, isso aterroriza parte da população e, como na vida real, há aqueles que julgam tanto as escolhas quanto o uso das tecnologias, gerando os famosos conflitos de opiniões.

Estes temas vão se apresentando de maneira fluida, acontecendo naturalmente enquanto investigamos o caso principal e desta forma 2064: Read Only Memories Integral nos faz refletir sobre o que é ser humano, sobre acessibilidade, empatia e vários outros questionamentos. É impossível não compará-los aos assuntos que vivenciamos no nosso dia a dia e como as pessoas reagem ao que é diferente.

O ambiente de 2064: Read Only Memories Integral é bem carismático. As animações das pixelart podem ser simples em momentos específicos, é verdade, mas, em geral, proporcionam um ambiente retro futurístico bastante agradável e, em conjunto com as trilhas sonoras eletrônicas, a experiência fica divertida e a narrativa cada vez mais intrigante. Mesmo com sua sutileza, a composição gráfica é bastante colorida e os desenhos cheios de particularidades, o único detalhe é que a tela do jogo poderia ser maior.

Imagem do jogo 2064: Read Only Memories Integral
As alterações genéticas permitem, por exemplo, a criação de pelos, orelhas e até rabo de animais em humanos.

Os puzzles são bem fáceis de resolver, geralmente envolvem pegar um item e entregar para outro personagem ou colocar em algum local específico, porque a proposta é justamente a atenção na narrativa e a importância das nossas ações durante o progresso. Isso, sem dúvidas, nos prende cada vez mais. A maior dificuldade que podemos enfrentar é quando não sabemos identificar um objetivo por conta do inglês.

2064: Read Only Memories Integral é uma versão definitiva do jogo que originalmente foi lançado em 2015. Ele adiciona melhorias nas animações e novos elementos: uma nova história com os personagens, um player de músicas para ouvirmos a trilha sonora, o livro digital de artes conceituais, vídeos de trailers e outros conteúdos. Essa versão, porém, é exclusiva para o Nintendo Switch que, além dos itens adicionais, traz boas adaptações para os comandos, permitindo jogar com ambos os Joy-Cons ou apenas com um deles.

Embora 2064: Read Only Memories Integral tenha esse aspecto todo voltado aos anos 90, ele proporciona uma experiência muito interessante, possuindo uma narrativa bastante envolvente, personagens simpáticos e uma ambientação cyberpunk onde tudo flui muito bem. Enquanto estamos cada vez mais exigentes com os jogos, esperando interações cada vez mais complexas, esse jogo vai na contramão, mas isso não faz dele um título ruim, pelo contrário, seu estilo é suficiente para nos divertir.