Jogos de tiro em primeira pessoa com aspecto retrô saem aos montes, a todo momento. Ion Fury, Project Warlock, Immortal Redneck, Void Bastards, a lista vai longe. Pode até ser estratégia pra vender nostalgia para os jogadores com seus mais de 30 anos, mas há um charme especial nisso tudo. Além da característica visual, jogos desse nicho tendem a ter um “feeling” difícil de encontrar nos jogos modernos.
O retorno da Apogee em 2021, agora uma distribuidora focada em jogos independentes, nos trouxe uma surpresa: Turbo Overkill foi anunciado no ano passado como o jogo de estreia desta nova fase da empresa, em parceria com a desenvolvedora Trigger Happy Interactive. Um FPS retrô que mistura pixel art com 3D e gameplay inspirado no reboot de DOOM (2016), mas com suas próprias ideias malucas.
Pra quem nunca ouviu falar na Apogee, trata-se de uma distribuidora fundada por Scott Miller em 1987, que posteriormente passou a ter duas divisões: a 3D Realms, focada em jogos de tiro, e a Pinball Wizards. A empresa ficou mundialmente conhecida com Duke Nukem e Wolfenstein 3D, dois clássicos que ajudaram a definir o gênero. Logo, a minha expectativa com Turbo Overkill estava nas alturas.
Tive acesso à preview build do game com o Episódio 1, que inclui uma boa quantidade de fases, armas e inimigos. O jogo começa com o protagonista, Johnny Turbo, sendo orientado pela inteligência artificial S.A.M.M. enquanto pousa seu carro voador em um canto de Paradise, uma metrópole cyberpunk à lá Blade Runner. Nestes primeiros minutos o jogo já impressiona com a mistura eficaz dos modelos low poly e suas texturas de baixa resolução com efeitos de iluminação e partículas bem caprichadas. É um mundo simples porém bastante detalhado, com chuva rolando, reflexos pra todo lado e uma trilha sonora rock and roll que combina com tudo.
Os atrativos de Turbo Overkill
O gameplay de Turbo Overkill é bastante frenético: tanto o protagonista quanto os inimigos se movem e atiram muito rápido. É como se o jogo estivesse rodando nos 200% de velocidade, potencializando a ação e a violência, já que tudo explode em pedaços com direito à chuva de sangue. Aliás, o sangue espirra pra todo lado, até no teto de ambientes fechados. Com inimigos que raramente erram seus tiros, a estratégia aqui é usar as armas e as habilidades no momento certo. E não piscar.
Johnny conta com uma motoserra na perna que permite fatiar os inimigos enquanto desliza pelo chão. Essa ideia, que inicialmente parece difícil de funcionar, acontece sem grande esforço enquanto corre ou escorrega por rampas encontratas nas fases. Praticamente um Tony Hawk sangrento. Fora as habilidades tradicionais, como esquiva e correr pela parede (usando botas magnéticas), o jogo oferece “vending machines” onde você compra munição, habilidades, e faz argumentações em seu corpo e aprimoramentos nas armas. Basta coletar moedas derrubadas pelos inimigos para gastar nessas lojinhas. Aliás, essas máquinas prestam homenagem à Bioshock e Fallout.
O arsenal do jogo é bem amplo e também herda de DOOM a ideia de cada arma ter duas funcionalidades diferentes, as quais você desbloqueia aos poucos durante a campanha. A pistola inicial, por exemplo, possui um tiro secundário que trava a mira em vários alvos e explode todos eles com um único tiro carregado. Esses upgrades podem ser encontrados em caixas Teratek, que só abrem com uma chave específica, forçando a exploração – que também oferece outros segredos para encontrar, como Tech-Chips.
Frenesi sob medida
As fases foram muito bem construídas, com o espaço necessário para o frenesi da ação funcionar. Muitas delas são verticais, incluindo impulsionadores herdados de Quake, para alcançar lugares mais altos ou usar como vantagem contra os inimigos. Turbo Overkill é um jogo desafiador, principalmente se for jogar nas duas últimas dificuldades oferecidas (Serve Me Pain e Murder Machine), mas a satisfação vem na mesma intensidade.
Se você não gosta de FPS muito rápido, este game provavelmente não irá agradar. A ação exige reflexos rápidos a todo momento, com pouquíssimas pausas, e nem todo mundo curte isso. Os inimigos são realmente bons de mira, exigindo que o jogador use os cantos do cenário para se proteger. Mesmo com armadura cheia, não dá pra enfrentar tudo sempre de frente.
Jogando por um pouco mais de 4 horas, não senti que a história pudesse ficar mais interessante. Seu objetivo é eliminar Syn, uma inteligência artificial que saiu de controle e cujo código malicioso deixou milhares de humanos aprimorados (com partes mecânicas no corpo) sob seu domínio. Fica evidente que o foco está todo na ação e experiência de gameplay, ainda mais pelo fato de Johnny ser mudo igual o Doomguy. Ou seja, um FPS tradicional e old-school.
Quanto aos inimigos, você começa enfrentando capangas normais e logo se depara com coisas bizarras, como homens que possuem lâminas no lugar dos braços e uma TV no lugar da cabeça, drones cujo ponto fraco é um cérebro exposto na parte superior, e por aí vai. E assim como em DOOM, os novos inimigos são introduzidos com um destaque especial.
A Trigger Happy Interactive está no caminho certo para entregar um jogo diferenciado, com a criatividade que o gênero exige para se destacar. Embora esta versão de Acesso Antecipado não mostre muita coisa de Turbo Overkill, a desenvolvedora informou que a versão final (1.0) contará com os 3 episódios planejados com muitas fases e conteúdo, saindo ainda este ano também para os consoles PlayStation, Xbox e Nintendo Switch.