Se a primeira impressão é a que fica, Interpoint estaria condenado ao limbo dos jogos que não merecem seu dinheiro suado. Não, sério. O começo do jogo é desanimador.
A premissa é apresentada através de um pedaço de papel largado no chão: existe tecnologia para viajar para outras dimensões e a empresa para a qual você trabalha está construindo uma estação de pesquisa em outra realidade. O mesmo pedaço de papel (é um texto longo) explica que os funcionários não estão muito contentes com as condições de trabalho e isso não tem nada a ver com baixos salários ou assédio moral. Novamente, o bilhetinho largado também te conta que a passagem no final do corredor é o tal portal. Não, não é essa imagem do cabeçalho. Sim, é uma singela porta comum no final do corredor.
Você atravessa a portinha e termina o primeiro capítulo de três disponíveis. Não é um começo empolgante. Nem de longe. Em dois minutos (tempo que você gastou lendo e dando uns quinze passos) já acabou o capítulo.
Eu digo pra você que piora.
O segundo capítulo abre com um banquinho, desses de praça, no meio de uma estrada que se estende ao infinito para a esquerda e para a direita. Há uma luz de poste iluminando o banquinho e um bosque atrás. É bem prosaico para ser uma dimensão alternativa, mas é o que temos para hoje. Interpoint não te oferece nem uma remota explicação do que fazer a seguir.
Sem tempo para pegar a estrada, resolvo “subverter” a lógica do jogo e me embrenhar pela mata. É uma mata cansativamente enorme, quase um open world, mas só com cogumelos e árvores. Pelo som dos meus passos, parece que estou pisando em sinteco (eles corrigiram esse buraco de imersão um patch depois de eu ter passado por isso). É uma mata tão grande que eu me questiono se não tomei o caminho errado, mas também dá preguiça de voltar tudo. Por pura teimosia, sigo em frente. Quero ver como os desenvolvedores vão me barrar de atingir o horizonte.
Então, há um efeito visual de reajuste de realidade e estou diante da porta do complexo. É, estou em outra dimensão, porque esse tipo de coisa não acontece quando eu passeio pelos bosques normais. Eu teria me lembrado. E assim acaba o capítulo 2.
O interior do complexo de pesquisa é aquele típico interior de complexo de pesquisa que você já viu em mil jogos: tem luzinhas coloridas, canos nas paredes de concreto, manchas de sangue no chão, caixas espalhadas, portas automáticas, nenhuma indicação de onde ir ou o que fazer.
Em uma das salas há uma roupa anti-radiação em uma câmara de vidro. Eu abro a câmara de vidro, a roupa despenca como se fosse um ragdoll. Não importa o que eu faça, não dá para vestir a roupa, embora outro bilhetinho no chão me diga que a roupa é importante (dica: não é, perdi um tempo danado com isso).
Em outra sala, há uma caixa de energia que eu posso manipular, mas não entendo para quê. Também há um bilhete explicando que essas caixas podem fornecer energia para as coisas. Interpoint adora bilhetes, há vários por todo o mapa, alguns enormes. Para ler, você precisa segurar o botão de interação ou o texto some.
Finalmente, encontro uma sala com um espécie de arma dentro de uma caixa. Uso o botão de interação diversas vezes nela, de diferentes ângulos. Nada acontece. Acidentalmente, passo por cima da caixa e o meu personagem finalmente pega a arma. É o único objeto do jogo com que você interage não usando o botão de interação, mas pisando nele.
A última porta disponível está bloqueada. Eu entendi o funcionamento da arma e dreno a energia de êxtase que bloqueia a porta. Mas a porta não abre. Clico nela diversas vezes, uso o botão de interação loucamente e nada acontece. Devo estar esquecendo algo. Uso a arma em todos os objetos possíveis do jogo. Nada acontece. Passo por todas as salas novamente. Saio do jogo. Volto no dia seguinte ao mesmo capítulo, refaço tudo em três minutos, a porta não abre… Até que ela abre com o botão de interação.
Eu digo pra você que melhora.
Parabéns se você leu até aqui. Não, sério. É necessária uma grande dose de paciência para ir tão longe sobre um jogo ruim, certo? Então, é à partir desse ponto que Interpoint melhora e melhora muito. Não que ele não dispense polimento, esse é um problema que precisará ser resolvido enquanto o jogo estiver em Acesso Antecipado: há falhas na otimização, quedas de frames, iluminação que não corresponde às fontes de luz, falta de iluminação em várias partes, sons abafados ou inadequados. Enfim, o jogo está cru.
E, ainda assim, é um título bastante promissor. Comecemos pela arma que você utiliza: ela drena energia de fontes próximas. Isso significa que você pode desativar campos de êxtase ou remover radioatividade de lugares afetados. Essas e outras energias podem ser aplicadas em diferentes cenários. Você vai precisar quebrar a cabeça em diversos pontos para entender como avançar e isso não é um demérito do jogo. Interpoint não é um jogo de tiro ou de terror (embora tenha elementos de horror). Interpoint é um jogo de puzzle e você vai se sentir feliz quando descobrir como usar a arma a seu favor.
A partir do terceiro capítulo você terá também um inimigo perturbador com que se preocupar. Mas nada é frustrante demais. É impossível morrer, por exemplo. Mas você pode ficar aprisionado em diferentes dimensões e terá que navegar por estranhas realidades para retornar ao último checkpoint, o que acrescenta uma camada bastante interessante e inesperada ao jogo. É como jogar mapas diferentes sem sair do lugar.
O terceiro capítulo também delineia um enredo mais promissor, quando você descobre quem é você, o que está fazendo ali e quem não deseja que você esteja ali. As viagens entre os planos de existência se tornam mais frequentes e enigmáticas e há um quê de Half-Life na atmosfera.
Quando o terceiro (e muito mais longo) capítulo termina, me surpreendi: queria mais! Esse é outro defeito de um título em Acesso Antecipado: quando pega o ritmo, quando fica bom, ele acaba. A desenvolvedora prometeu outros três capítulos até o lançamento e até lá ficarei no aguardo, torcendo para que os defeitos sejam corrigidos, ansioso para ver como a história irá terminar e satisfeito por não ter desistido no começo, como você, lendo este artigo.