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Era só apertar o botão de Jogar e eu já podia ouvir o rangido, como se ancestrais engrenagens do início do tempo fossem colocadas em movimento, um trovão profundo emanando do âmago da Terra, uma vibração que estremece paredes e almas. São as criaturas colossais de Giants Uprising? Não, é apenas a ventoinha da minha GPU rodando com 100% de capacidade. Seu hálito quente lança ventos que aquecem minha perna, tão próxima da saída de ar do PC. São as labaredas do inferno interagindo com meu corpo, é meu hardware pedindo socorro.

Sim, esse é um preâmbulo dramático para dizer que o jogo em Acesso Antecipado ainda tem uma longa estrada de otimização pela frente. Ele detecta que minha configuração está na faixa Recomendada e ajeita todas as suas opções para níveis Épicos. O consumo de minha GPU poderia me tornar rico com criptomoedas, mas estou apenas jogando.

Ajeito as configurações para níveis menos intensos, ajusto o número de frames, reduzo a qualidade dos efeitos. Giants Uprising continua deixando minha placa de vídeo no limiar de dobrar o espaço-tempo. Nem parece o mesmo PC que rodou tão bem o exuberante Chernobylite sem sufoco.

Giants Uprising
Enfim, a liberdade em Giants Uprising

Porém, esse é o mesmo equipamento. Apenas acontece que a Varsav Game Studios está passando por problemas de otimização com seu título, algo que eles mesmo admitem após o lançamento. Como o título está em Acesso Antecipado, esse detalhe pode ser relevado, desde que você não tenha um pendor para o melodrama. Esse não é o primeiro nem será o último jogo independente que passa por minhas mãos com o mesmo desprezo pela minha GPU. Até mesmo grandes estúdios abusam dos limites.

Liberdade vai cantar em Giants Uprising

Entender a proposta de Giants Uprising talvez jogue uma luz sobre o que está consumindo tantos recursos de processamento: é um jogo sobre Gigantes, criaturas colossais que foram escravizadas pela raça humana. Você controla um desses titãs e todo o resto parece minúsculo aos seus pés. Isso significa que as legiões de humaninhos que tentam te matar são tratados como partículas, cada um deles com sua física própria possivelmente, assim como os prédios que sucumbem diante de seus golpes avassaladores ou a poeira que se levanta quando bato o pé no chão. Então, estou pagando caro por todo esse tamanho e potência.

Nosso gigante escapa de uma arena, onde gigantes são colocados para lutar para diversão de seus mestres e senhores. Nossa meta é a liberdade, porém os exércitos dos homens estão espalhados por toda a região. A chama de um levante arde dentro de nós. Os Gigantes irão se erguer e tremo só de pensar em um esquadrão deles na tela ao mesmo tempo lutando contra inumeráveis partículas, digo, soldados humanos.

Giants Uprising
Os exércitos inimigos estão do outro lado do rio, tão miudinhos…

Por incrível que possa parecer, a jogabilidade é divertida. Nosso herói (com seu aliado humano que lhe dá instruções no ombro) é uma máquina de destruição. Quebrar construções e matar soldados é literalmente a forma como ele se cura. Existem vacas e ovelhas no cenário que também podem ser transformados em refeições regenerativas, mas a principal forma de se curar e causando devastação em massa, um Rampage revolucionário.

É possível pegar pedaços de vigas ou pedras imensas e arremessar contra seus inimigos. A grandiosidade do herói também se reflete em seus passos lentos e pesados. Essa lentidão de movimentos pode irritar às vezes, mas sempre é possível dar uma arrancada aniquiladora para frente.

Quanto maior o tamanho, maior a queda

Outra bronca em relação a Giants Uprsing diz respeito ao nível de dificuldade. É compreensível que os humanos subjugaram os Gigantes com brutalidade, engenhosidade e grande número, inventaram armas específicas para confrontá-los. Ainda assim, nosso protagonista é frágil como papel. Um descuido no ato de destruir insanamente pode resultar em morte. Nesses momentos, toda a potência e toda a grandiosidade do herói caem por terra.

Giants Uprising
OLHA A BORDOADA DESCENDO!

Então, por um lado, o jogo tenta nos convencer de que somos uma ameaça muito acima do patamar dos humanos. Do outro lado, somos constantemente humilhados por chuvas de flecha, correntes, tiros de canhão ou outras armadilhas e a cautela se torna necessária no campo de batalha. Ironicamente, é mais fácil enfrentar outro Gigante em combate do que os exércitos de humaninhos.

Apesar de todos os equívocos, a Varsav Game Studios tem um produto sólido em suas mãos. A obrigatória otimização será necessária durante esse período de Acesso Antecipado e algo já deve ser melhorado até o final de novembro, segundo eles. Alguns ajustes na dificuldade, ou mesmo um seletor de dificuldade, poderiam ser introduzidos. Ultrapassados esses impasses, Giants Uprising tem tudo para divertir, com uma perspectiva diferenciada das histórias de fantasia e aquela destruição gostosa com gosto de infância, quando erguíamos cidades com prédios de papelão e passávamos por ela rugindo felizes.