Depois de experimentar grandes sopros de originalidade e evolução em jogos de estratégia, com títulos como Tooth and Tail e They Are Billions, eis que surge um título que vai na contramão e resgata (até demais) a jogabilidade do passado. É fácil entender o que os desenvolvedores da Petroglyph estão tentando realizar aqui, uma vez que muitos deles são veteranos da franquia Command & Conquer, mas resta saber se isso basta ou se a principal novidade inserida foi devidamente executada.
De imediato, Forged Battalion começa com uma historinha meia-boca para justificar seu cenário: o aquecimento global ferrou o planeta e um gênio da tecnologia apresentou uma solução que pode salvar a humanidade, desde que as nações se curvem diante de seu comando. Todos os governos aceitam, mas pequenos bolsões de resistência existem aqui e ali. Na campanha, cabe ao jogador controlar um desses bolsões.
Está claro que enredo aqui não é o foco, é pouco mais do que um arquivo de texto rolando na tela, mas passar por ele toda vez que o jogo abre é uma constante lembrança que construção de universo não é prioridade em Forged Battalion e que o botão de pular introdução nunca foi tão necessário. Felizmente, ele existe.
A seguir, preste muita, muita atenção nas instruções que aparecem: é o cerne do jogo. O que diferencia Forged Battalion de qualquer clone de Command & Conquer lançado sob o sol não está dentro do campo de batalha ou na hora de construir e sim no seu criador de facção. A ideia é que, a partir de uma complexa árvore de tecnologias para desbloquear e evoluir, nenhum jogador irá desfrutar do jogo da mesma forma ou com o mesmo estilo.
A facção do eu sozinho
Ao invés de se dar o trabalho de desenvolver diferentes grupos de oponentes, civilizações ou raças, como costumamos ver por aí, a Petroglyph deixa a faca e o queijo na mão do jogador. Compre as tecnologias que deseja antes mesmo da partida começar, com pontos adquiridos em outras partidas, customize e selecione suas unidades e monte diferentes pacotes táticos antes mesmo de ver o que o aguarda na linha de frente.
E não vou mentir: o nível de customização é ousado. De cara, Forged Battalion só oferece cinco tipos de unidades bem básicas: Infantaria, Veículo Leve, Veículo Pesado, Aeronave e Torre. A partir da customização, você vai criar o que te convém: um blindado semi-indestrutível que regenera sua própria armadura? Uma aeronave invisível que despeja ácido nos inimigos? Um Tanque de Artilharia que pulveriza prédios inimigos? Cada uma destas tecnologias precisa ser desbloqueada primeiro, cada um desses veículos hipotéticos precisa ser montado e alistado primeiro.
O choque nos primeiros dez minutos de jogo é brutal: são muitas variáveis para dominar, antes mesmo de qualquer tiro ser disparado ou mesmo dar de cara com seu primeiro mapa. Não há um tutorial adequado para as melhores escolhas, uma vez que não há melhores escolhas. Cada um, teoricamente, tem seu estilo. Em termos de proposta de jogo, Forged Battalion é fiel aos seus princípios: esqueça aquela progressão dentro de cada partida, as decisões de quais tecnologias utilizar já foram tomadas fora dela.
Isso também significa que você terá que “grindar” pela sua facção. O jogo te oferece um número limitado de pontos iniciais, que apenas arranha a superfície da customização. Para desbloquear o resto, você terá que batalhar, batalhar e batalhar com aquelas unidades torpes e quase genéricas do começo. Se você já jogou um título de celular ou pay to win, já conhece a estrutura: o que é bom não está disponível de cara. Exceto que aqui a Petroglyph não tentou arrancar seus trocados para liberar o que realmente faz o jogo ser diferente. Mas se prepare para muitas partidas insossas e derrotas se quiser ver o que Forged Battalion tem a oferecer.
Salve-se quem puder
Ou não.
Quando acontecer o contato com o inimigo, você irá perceber que boa parte da sua customização tem pouca valia na confusão que se instala, enquanto o oponente, seja a IA ou outro jogador, despeja tropas mistas sobre você com desenvoltura. Tudo isso embalado em gráficos sem qualquer personalidade. Mas a música é boa, com aquele clima retrô de Command & Conquer (sim, o compositor é daquela época).
Entretanto, a lamentável verdade é que, embora haja uma grande dose de raciocínio para criar uma facção, na hora da prática triunfa quem coloca mais unidades na luta. Determinadas unidades são mais eficientes contra outras? Certamente. Mas nada disso importa quando você está enfrentando tropas de todos os tipos misturadas e não há a menor possibilidade de criar uma formação tática com suas próprias unidades.
Determinar pontos de convergência para suas tropas? Não existe. Contador de quantas unidades existem em cada batalhão? Também não existe. Selecionar as aeronaves quase sempre resulta em selecionar outras unidades próximas também. O resultado é uma maçaroca de unidades juntas trocando tiros contra outra maçaroca.
Forged Battalion simplifica ainda mais suas partidas ao utilizar um único recurso para ser administrado. E ele é abundante, permitindo a construção de largos exércitos. E enquanto você está tentando dividir suas tropas em batalhões organizados, seu inimigo está criando um enxame que avança. Velocidade de ação e volume de forças são muito mais importantes aqui do que aquele helicóptero invisível que atira plasma em que você investiu tanto, o que, infelizmente, joga no lixo a própria proposta do jogo.