Os jogos CRPG certamente marcaram época. Desde verdadeiros clássicos, como Baldur’s Gate, até jogos mais modernos, como Wasteland 3, o gênero sempre agraciou os jogadores com os títulos mais complexos, densos e detalhados da indústria. Seguindo a tendência, Encased é um RPG que, além de se inspirar fortemente nos jogos citados, busca beber de outras fontes externas, incluindo até mesmo a franquia S.T.A.L.K.E.R.
Dentro de um domo, caberá ao jogador explorar e descobrir os mistérios que envolvem essa estrutura inexplicável. Trabalhando para uma organização encarregada de extrair tudo o que há de valioso do local, a ambientação envolve uma mistura futurista com um ar de velho oeste, onde um evento misterioso mudará o rumo da empresa e dos encarregados de habitar o local.
As classes opostas se atraem
Todo bom RPG começa pela customização, e Encased mostra sinais promissores quanto a esse elemento. Apesar de não ter uma profundidade comparada à de títulos como Solasta: Crown of the Magister e Baldur’s Gate 3, o jogo possui uma história bem interessante no que se refere às diferentes classes representadas.
Durante o processo de habitação do domo, a C.R.O.N.U.S, empresa responsável pelo processo, dividiu os colonizadores em diferentes grupos, cada um representado por cores diferentes. Não irei detalhar todos, mas os que ficaram no setor branco, por exemplo, são os cientistas, e são personagens que possuem mais facilidade com armas altamente tecnológicas e em hackear sistemas computacionais. Por sua vez, os que ficaram no setor preto são encarregados da segurança, sendo personagens com atributos altos de combate.
As diferenças de classe não influenciam somente nos atributos, mas também na relação entre os personagens. Pessoas do setor marrom, responsáveis pela administração, podem ter um tom de autoridade, fazendo com que os outros cumpram o que ele diz ou que o odeiem. É importante notar que existe uma barra de reputação, onde suas ações impactam em como as outras classes te enxergam.
Deixando Stephen King orgulhoso
Como dito anteriormente, a história se passa dentro de um domo, mas o que seria isso? Bom, a premissa de Encased é que ninguém sabe ao certo o que é essa estrutura, apenas que uma empresa está encarregada de explorar o local. Esse domo lembra muito a premissa de Under the Dome, romance do escritor Stephen King sobre um domo misterioso que encobre uma pequena cidade.
Relíquias de um passado desconhecido encontradas pela empresa são examinadas e levadas para fora do domo. Entretanto, nem mesmo as mentes mais brilhantes são capazes de entender completamente o que se passa ali dentro, deixando lacunas enormes de conhecimento no que se refere à história local.
Além das relíquias, o Encased conta também com anomalias dentro do domo. Quem já jogou S.T.A.L.K.E.R já sabe muito bem o que esperar. As anomalias funcionam como uma espécie de eventos de energia radioativos, cujo efeito pode ser neutralizado por alguns instantes ao se arremessar pequenas porcas em sua direção. A sua origem e o que realmente significam são um mistério para os cientistas.
Potencial e fãs impacientes
Há bastante tempo no período de acesso antecipado, Encased sofre com o mesmo problema de muitos CRPGs: a falta de dinheiro. O projeto mostra um potencial imenso, mas os fãs já mostram sinais de perder a paciência com a empresa. Algumas das reclamações no Steam citam a falta de atualizações e os atrasos no cronograma, o que não é muito animador.
Indo para o jogo em si, algumas mecânicas ficam aquém do esperado. O combate, que é um fator importante em jogos do gênero, não possui variações interessantes. Não é possível, por exemplo, usar coberturas para reduzir a chance de acerto. O combate de Encased deixa a impressão que apenas a distância é um fator a ser considerado durante a batalha.
Para não ser injusto, o jogo conta com vários efeitos diferentes nos duelos. Existem diversas armas que podem ser aprimoradas, além de efeitos psíquicos que fazem personagens focados nessas habilidades funcionarem como magos ou clérigos em RPGs medievais tradicionais.
Além do combate, a interface de quests possui algumas decisões estranhas de design. Em vez de aparecer as atualizações logo de cara, você tem que rolar toda a barra para baixo a fim de se manter atualizado sobre a sua aventura. Isso sem contar que o tracking das quests, apesar de teoricamente existir no jogo, não funciona, fazendo com que você tenha que se virar para descobrir onde ir e o que fazer. Não entendi o motivo disso, mas espero que repensem essas decisões em atualizações futuras.
Por fim, creio que a desconfiança dos jogadores é justificada. Encased está há um bom tempo mostrando que é um jogo com potencial, mas não conseguiu sair disso. Em tempo, apesar do potencial, alguns elementos da versão de acesso antecipado, como o combate e a interface, poderiam ser melhorados. Com o que se tem em mãos, no momento do lançamento oficial o jogo tem tudo para atingir as expectativas dos fãs, mas sem mudanças em alguns aspectos provavelmente não será nenhum título que irá bater de frente com os grandes do gênero.