A conclusão de Dark Souls deixou uma lacuna no coração dos amantes de jogos com uma dificuldade bem acima da média que te fazem querer arrancar os cabelos, mas é claro que a Bandai Namco jamais deixaria o estilo que ela ajudou a popularizar morrer com a franquia que lhe deu origem. Não, eu não estou falando de Sekiro.
Mudando radicalmente os ares sombrios da série Souls e dispensando o toque da FromSoftware, Code Vein é mais um promissor título soulslike que está totalmente a cargo da Bandai Namco. Tudo bem, podemos dizer que ele também é bem sombrio, mas não no mesmo teor que estamos acostumados em um Dark Souls da vida – afinal, Code Vein é basicamente um anime, então ele sabe ser sombrio à sua própria maneira nipônica.
Assim como sua maior inspiração, Code Vein é um jogo que flerta com a morte, mas de várias maneiras. A trama é toda envolta a essa temática: o mundo em que vivemos é apocalíptico, as pessoas sacrificam suas memórias em troca de poder e tudo que recebem é uma sede de sangue insaciável, o que as faz perder toda a sua humanidade e as transforma em uma espécie de vampiros “zumbificados” – ou até em criaturas piores e mais grotescas.
Quem perde sua humanidade é chamado de Perdido, nada mais justo. Ainda existem aqueles que são capazes de controlar essas habilidades e lutar contra essa sede de sangue, chamados de Aparições. As Aparições não estão em uma situação muito melhor que os Perdidos, pois eles também estão mortos, mas de alguma forma ainda mantém a sua consciência e resistem aos seus impulsos mais selvagens.
O seu personagem é uma Aparição que perdeu a memória e deve descobrir mais de seu passado ao mesmo tempo que também procura saber mais sobre uma misteriosa garota que o acompanha. Tudo isso enquanto enfrenta as ameaças de Silva, o que supostamente será o antagonista do jogo (ou seja, metade do Brasil pode ser o vilão de Code Vein).
Você criará sua Aparição do zero, customizando aparência, nome e codinome (isso aqui só serve para ser identificado no modo online). Por se tratar de um jogo com visual de anime, as ferramentas de customização oferecem muito mais liberdade e até que, mesmo sendo uma demo, já haviam muitas opções para personalizar o personagem – com exceção das roupas, mas isso pode ser diferente na versão final do jogo.
Achei interessante o fato de podermos adicionar detalhes ao cabelo e modificar a roupa ao seu gosto. Por exemplo, minha personagem foi uma mulher, então além de escolher um corte de cabelo entre uma infinidade de opções, eu ainda podia aplicar uma franja ou um rabo de cavalo à parte, como uma peça de personalização e não parte do penteado padrão. Com as roupas é algo parecido: você tem o conjunto completo e pode ir removendo partes que não curtiu tanto para deixar mais ao seu gosto. São possibilidades simples e satisfatórias que dão mais identidade ao seu personagem.
O modo de jogar é bem Dark Souls e, se você já tiver jogado qualquer jogo da franquia, já estará familiarizado desde o início. Só senti um pouco de falta no peso que o personagem poderia ter com muitas roupas ou armadura pesada, o que não acontece mesmo quando se está equipado com uma arma gigantesca – apenas os movimentos de ataque são influenciados pelo tamanho da arma.
Ao invés de escolhermos uma classe na criação do personagem, em Code Vein temos os Códigos de Sangue. Assim são chamadas as classes do jogo e você pode alternar a qualquer momento equipando a que você deseja. Cada Código tem um estilo de luta e uma preferência de equipamentos, assim como as skills também são alteradas. Você pode desbloquear vários outros Códigos conforme avança.
Novas skills podem ser desbloqueadas nos Viscos, as “fogueiras” de Code Vein. Aqui não tem novidade alguma, assim como nas fogueiras de Dark Souls, nos Viscos você pode usar todo o sangue coletado (fazendo o papel das almas) para subir de nível ou desbloquear novas skills na classe que você estiver usando.
A primeira coisa que foge bastante do padrão Dark Souls é o fato de quase sempre estarmos acompanhados. Pelo menos nos trechos jogados nesta demo, tive um NPC me acompanhando praticamente o tempo inteiro, o que facilitou um bocado pelo fato de eu nunca ter que enfrentar as criaturas sozinho (fora que os BOTs causam um bom dano).
Talvez isso seja uma forma de improvisar um “multiplayer” para quem preferir jogar offline, mas ainda é possível jogar um co-op online. Infelizmente não tive sorte testando o multiplayer, pois não encontrei ninguém jogando em todas as minhas tentativas. Talvez fosse um bug, talvez não houvesse ninguém pelo fato da beta ser fechada – acabei ficando só na vontade!
Os gráficos não me pareceram exuberantes, mas também não são feios. Tudo me lembrou Devil May Cry 5 o tempo todo, mas talvez seja só o excesso de sombras e as criaturas bizarras carregando foices e machados gigantes. A trilha sonora foi legal até certo ponto. Aquelas músicas épicas com um coral ao fundo que marcaram Dark Souls também estão presentes aqui, mas só em alguns momentos, como no menu, no tutorial ou em cutscenes. Durante o gameplay achei tudo meio genérico.
Agora a pergunta que não quer calar: e a dificuldade? Acho que podemos concordar que só pelo fato de Code Vein ser um souslike já torna ele um jogo acima da média, mas pelo menos no prólogo apresentado nesta demo não houve nada de tão desafiador. Os combates seguem a mesma dinâmica da série Souls, exigem estratégia e administração de stamina, e ainda enfrentaremos inimigos que arrancam metade do nosso HP com um único hit. Mas só o fato de estarmos quase sempre com alguém para nos dar cobertura já faz toda a diferença – o que é bom e ao mesmo tempo ruim, porque os NPCs não calam a boca um minuto sequer, o que já me deixou irritado bem rápido.
Apesar da eterna comparação, Code Vein demonstrou que tem sua própria identidade e não é só um “Dark Souls de anime”. Ele tem um enredo interessante, um universo bem construído e promete trazer muito mais desafios do que o pouco que foi oferecido nesta demo. Podemos esperar mais um ótimo jogo do gênero que pode muito bem dar uma cara nova para o estilo caso o seu co-op apresente novidades. Se você é fã da série Souls e ainda é fã de animes, então você ganhou na loteria.