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Em novembro passado, o tão falado GTA brasileiro foi lançado na Nuuvem e na Steam em Acesso Antecipado e dividiu os jogadores, com alguns apoiando o jogo enquanto outros o acusaram de não ser nada mais, nada menos do que um golpe. Afinal de contas, 171 realmente merece o título de GTA brasileiro ou não?

A resposta curta é que sim, porém a longa é que não. Ainda há muito o que se fazer para o jogo chegar a sequer ser considerado um Saint’s Row brasileiro, mas, divago. Em meio a alegações de apropriação de fundos e compra de assets, as provas se mostram sozinhas e dão ainda mais força a teorias irrefutáveis de que algo se perdeu na tradução de sonho para realidade.

Germinando uma ideia

Que aqui, nas terras de Pindorama, é possível se encontrar os mais diversos mods de GTA nas lojas de R$1,99 isso já sabemos. Parece que tanto o continente da América Central quanto do Sul participam de uma corrida armamentista para criar a versão mais bizarra de GTA, seja ela Dragon Ball, Sonic, briga de torcida organizada ou Naruto.

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Admito que invadir as casas é algo bem divertido

Cada versão era mais bizarra do que a outra e davam ao jogador diferentes habilidades para explorar e causar o caos nos universos sandbox do jogo. Seu objetivo era criar diferentes formas do jogador explorar o mapa e causar pânico, geralmente em San Andreas, jogo que era o mais pedido nas lan houses, dando uma hora de liberdade irrefreada aos jogadores.

Com isso, GTA San Andreas marcou muitos jogadores mais pelo sandbox do que pela excelente narrativa de Carl Johnson e os membros da gangue Grove Street. E é, nesta idealização, que 171 colocou todas as suas fichas. Com o intuito de criar o verdadeiro GTA Brasileiro, a Betagames Group causou ondas de repercussão.

Com o projeto nascendo em 2010, justamente quando as modificações de GTA San Andreas estavam em alta, 171 começou a tomar forma. Porém, foi apenas no dia 17 de Novembro de 2022 que o jogo finalmente aterrissou na Steam, sendo vendido em acesso antecipado por 59,99.

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Bola de futebol feita de chumbo

171 traz mais do mesmo

Partindo da premissa inicial, a ideia de um jogo estilo GTA no Brasil é realmente algo louvável e extremamente bem vindo, afinal o jogo original é um sucesso mundial e nada mais digno que uma adaptação de uma história de crime no pais que lançou excelentes filmes como Cidade de Deus, Cidade dos Homens, Trash: A esperança vem do lixo e O Matador.

Ou seja além do material base para a inspiração do jogo, 171 também possui inúmeras obras para servir de inspiração para sua narrativa. Infelizmente, isso é algo que, até o momento, não temos nem ideia se será implementado no jogo, uma vez que tudo a que temos acesso é um sandbox.

Existem algumas missões, áreas a serem dominadas e vários diferentes tipos de serviços, mas, ao final de contas, o que podemos fazer em 171? Agora, o que podemos fazer é explorar o mapa e as ditas missões e trabalhos, que variam entre cobrança de dividas (onde devemos matar alvos), entrega de drogas e, se o jogador estiver bem equipado, entrar em guerra com certos grupos e conquistar territórios.

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Dez anos e mais uma grana preta arrecadada para ter esse céu “poluído”?

Os serviços em si variam entre fretes de produtos e objetos para NPCs usando motos com baús e serviços de taxi. Lamentavelmente, não temos missões de patrulha com a polícia ou serviços de resgate com os médicos. Chamou minha atenção que, diferente de GTA, onde a ambulância aparece quando matamos alguém, aqui não. Eu achei a ambulância apenas estacionada, várias e várias vezes.

Seria o título uma previsão?

Tal como em GTA, 171 também leva um crime como seu título. No caso do jogo da Rockstar Games, temos o ato de roubo de veículos, enquanto 171 se refere ao crime de estelionato. Ironicamente, essa escolha pode ser algo que acabou saindo pela culatra, uma vez que o estúdio sofreu acusações de desvio dos fundos destinados à produção do jogo.

O jogo apresenta vários assets que foram produzidos e liberados gratuitamente através da comunidade da Unreal Engine e aqueles que foram comprados se distanciaram dos assets originais anunciados. O site MixMods fez um compilado sobre os assets usados no jogo 171.

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Tunar por tunar, por que não tem nenhuma missão ou evento com carros

Seguindo o dito na página de MixMods, não afirmo que o jogo tenha sido uma maneira de se tomar fundos indevidamente, porém, o tempo, recursos e assets dos quais a equipe desfrutou se traduziriam para a espera de um jogo melhor. Entendo que o estúdio é minúsculo, próximo a outras grandes empresas, mas, ao mesmo tempo, existem vários outros estúdios e criadores solos que fizeram história com muito menos.

171 é uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que ele te permite causar o caos ao cometer crimes e tunar alguns carros com o dinheiro adquirido através dos trabalhos espalhados pelo mapa, ele não te oferece nenhum conteúdo a longo prazo.

Não há uma grande narrativa ou história por trás de tudo, não há um motivo maior, apenas caos e ócio. Não existe uma história de vingança de um jovem garoto que viu seus pais morrer pela violência policial ou marginal desregrada, ou uma história de superação em um meio onde todas as cartas estavam contra ele. Não há nada.

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Queria conteúdo? Não vai achar aqui

Há alguma esperança?

Eu gostaria de dizer que sim, mas a resposta mais provável até o momento é de que não. O jogo recebe ainda updates, sendo o mais recente do dia 19 de Janeiro, mas não acredito que algo maior que o que foi apresentado seja entregue, o que é muito triste. 171 poderia ter se tornado uma grande luz para jogos 3D nacionais.

No entanto como outros títulos grandes do gênero, mordeu muito mais do que poderia mastigar com suas promessas. 171 acaba se tornando assim um pária para a comunidade nacional, uma piada entre círculos de desenvolvedores e um exemplo de o que evitar durante a criação de um GTA realmente brasileiro.