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Quem mora em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e já visitou shopping centers voltados para um público de maior poder aquisitivo, já deve ter visto alguma loja da rede Zara. Essa marca é a mais conhecida do grupo espanhol Inditex, o maior fabricante mundial de roupas.

A Inditex tem uma filosofia de trabalho, digamos, interessante. Suponhamos que apareça em algum lugar (um desfile de moda, um filme, qualquer coisa) uma roupa com potencial. Essa informação será passada para seu time de designers, localizado em seus escritórios centrais, e em um mês roupas “inspiradas” nesse trabalho original de outros já estarão disponíveis nas lojas do grupo espalhadas por todo o mundo.

Obviamente, as acusações de plágio abundam. Mas existem plágios e plágios: algumas vezes as peças eram tão idênticas que não tiveram outra opção que retirar as cópias de circulação, mas outras vezes… Claro, é difícil você provar uma acusação de plágio, a não ser que seja tão óbvio que salte na sua cara. Todas as camisetas são cópias do trabalho da pessoa que inventou a camiseta?

Nos videogames acontece mais ou menos a mesma coisa. Por exemplo: o primeiro jogo de plataforma tal como entendemos hoje foi Donkey Kong (acho, posso estar errado, mas para nosso argumento funciona). Isso significa que todos os jogos de plataforma a partir daí são plágios? Não, apesar de que alguns abusam do direito de modificar certos “detalhes” como Popeye, da própria Nintendo, que simplesmente acrescentou uma filosofia Pac-Man ao jogo. Da mesma forma, se Super Mario Bros. foi o primeiro plataforma com fases que ocupavam mais de uma tela, isso significa que, digamos, Mega Man é plágio?

Pelo mesmo motivo de que uma camiseta não é plágio de outra simplesmente porque as duas têm duas mangas, o fato de um jogo utilizar um “estilo” que foi criado em outro não pode ser considerado plágio. Claro que existem certos jogos que abusam (sim, Dante’s Inferno, estou olhando pra você, seu safado), mas ainda assim é difícil sair acusando… A não ser que o estilo seja tão específico que fique difícil de provar que não foi apenas uma “homenagem”. E tenho dois exemplos bastante famosos, mas que pouca gente notou:

Primeiro: Crazy Otto. “Como assim, famoso? Nunca ouvi falar desse jogo.” É verdade, caro leitor, é bastante provável que você nunca tenha ouvido falar desse jogo, mas eu aposto duas mariolas que você jogou Crazy Otto.

Vamos explicar a história: Crazy Otto foi criado por uma companhia dedicada a hacks de outros jogos. Ela fez, por exemplo, Super Missile Attack, um hack de Missile Command – e a Atari caiu matando em cima deles e eles tiveram que fazer dois jogos originais de graça pra não serem processados. Depois disso, eles se voltaram para o mega-sucesso do momento, Pac-Man. Criaram alguns labirintos e power-ups novos, trocaram os fantasmas por uns alienígenas e botaram umas pernas no Pac-Man.

O resultado final foi muito bom. Na verdade, foi excepcionalmente bom, muito melhor do que o original. Então eles resolveram mostrar o jogo pra Midway, licenciada da Namco nos EUA. A Midway estava cansada de esperar pela sequência oficial de Pac-Man (Super Pac-Man), viu o potencial de Crazy Otto e compraram o jogo. Aí simplesmente trocaram os sprites, botaram umas telas com historinha entre as fases e voilà! Nascia… Ms. Pac-Man.

Obviamente o jogo é um plágio. E o fato de ter sido lançado pela Midway não afeta isso em nada, porque a Midway era apenas uma licenciada, colocou o jogo no mercado sem autorização da Namco (ainda que posteriormente tenha entregado os direitos do jogo para a companhia japonesa).

Claro que também podemos pensar: jogos de labirinto de uma tela em que o jogador controla um personagem que sai comendo coisas… Como pode ser que um não seja plágio do outro? Taí o exemplo de K.C. Munchkin! (o Come-Come do velho Odyssey) que não me deixa mentir, tanto que a Philips perdeu o processo de plágio da Namco e da Atari.

O segundo exemplo: Okami. Sim, é um jogaço, lindão, merece todos os prêmios de melhor do ano que ganhou. Mas precisava seguir tão à risca a fórmula de Zelda? Mundo aberto com várias vilas, desafios que estão falsamente abertos desde o começo mas que só se liberam com novas habilidades… Tem até o ajudante chato pra cacete.

E o mais impressionante: o jogo talvez seja tão parecido com Zelda como Dante’s Inferno é parecido com God of War. Mas enquanto o jogo da Visceral Games só levou pancada, o pessoal do Clover Studio recebeu dezenas de notas 10 por todos os lados. E é algo que não consigo entender, porque os dois copiam as suas fontes à perfeição. Meu lado cínico tende a pensar que o problema é que o Clover Studio pelo menos escolheu para copiar algo que prestasse, mas deixa pra lá… Talvez a diferença seja que pelo menos Okami aparentava algo diferente, enquanto Dante’s mantinha exatamente o mesmo estilo.

Dando uma “entortada” na famosa frase, talvez a conclusão seja de que, nos videogames, a mulher de César não precisa ser honesta, só precisa mesmo parecer honesta. E claro, ter alguma qualidade, porque você pode ser original o quanto quiser, mas se for uma porcaria, todo mundo vai preferir jogar a cópia de qualidade.