Comprei um 3DS e me arrependi. Não, mentira, eu AINDA não me arrependi, mas só porque meu objetivo inicial era jogar The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D. Joguei e achei espetacular, um verdadeiro presente para quem, como eu, considera Ocarina um dos melhores jogos da história. Mas o problema é que estamos no final do ano e o único jogo do 3DS que até agora me interessou foi esse. Em novembro e dezembro sairão Super Mario 3D Land e Mario Kart 7, mais dois games que estão na minha lista de compras, mas depois deles provavelmente o portátil voltará para a gaveta. E isso é grave.
Como todo mundo que acompanha o Gamerview deve saber, o mercado de videogames portáteis está passando por uma certa crise de identidade e de necessidade. Smartphones e tablets estão virando os videogames de bolso (ou de bolsa) de muita gente. Tem até quem tenha elevado o iPad ao posto de seu videogame principal, como o editor do Gizmodo Brasil que cita isso e argumenta muito bem neste excelente texto do site.
Quando falamos de smartphones e tablets, estamos falando de aparelhos que são um monte de coisas e realizam bem várias funções. E jogar é uma dessas funções. Você pode argumentar que jogar tocando na tela é ruim, que os controles físicos fazem falta, que os jogos são casuais ou o que mais quiser, mas o fato é que existem games que se adaptam bem a esse novo formato. Angry Birds e Cut the Rope são exemplos já batidos, mas Machinarium, Monkey Island e outros adventures aterrissaram muito bem na plataforma, além de jogos de estratégia simplificados e adaptados para os controles na tela.
Do outro lado temos videogames portáteis que são, em essência, apenas videogames e tentam realizar outras funções de formas desastrosas. Tentem navegar na internet com um PSP ou mesmo um 3DS. É pra passar raiva. Mas aí você fala: “Certo, mas eu quero mesmo é jogar. Pra mim isso já basta”. Ok, mas jogar o que? Recapitulando, o mais novo videogame portátil do mercado foi lançado há oito meses e tem UM jogo de peso. E ele é um remake. Enquanto o Vita não vem, o PSP continua em seu estado vegetativo há mais de ano. Pegando a situação dos dois, temos todo o setor de videogames portáteis dedicados estagnado há mais de 12 meses.
Já me adiantando, eu sei que no Japão o PSP e o Nintendo DS ainda vendem muito, mas estamos falando de uma questão quase cultural na terra do sol nascente. Pokémon, Dragon Quest e Monster Hunter vendem bastante por lá, mas só por lá. Pokémon ainda consegue escapar a esse sucesso localizado, mas não é exatamente aquele hit que vai fazer pessoas virarem noites para comprar o portátil e o jogo na primeira hora do lançamento aqui no ocidente.
Agora vejam o mercado de smartphones e tablets. A quantidade de jogos sendo lançados e alimentando o setor é absurdo, muito deles saindo completamente da ideia de jogo casual. É só olhar o trailer de Shadowgun, uma cópia de Gears of War para iOS e Android, e ver que as desenvolvedoras estão levando a sério o negócio. Ou ainda a versão de Dead Space mobile que eu adoraria jogar no meu PSP, mas que só chegou para os dispositivos da Apple. E a tendência agora é que os próximos jogos para iPhone dêem mais um salto rápido em gráficos com o processador A5 no iPhone 4S. A Epic mesmo disse na terça-feira que o novo Infinity Blade vai usar várias das tecnologias gráficas empregadas em Gears of War.
Agora voltamos novamente ao que temos de mais avançado em dedicados. O 3DS já perde tecnicamente para o iPhone 4S e vários Androids disponíveis no mercado, e isso só vai se agravar nos próximos anos. Não bastando isso, a própria Nintendo está tropeçando nas suas pernas. O Slide Pad é um acessório simplesmente ridículo. A ideia de fazer um portátil com apenas um analógico em pleno 2011 já foi estúpida o bastante, mas a esperança era de que a Nintendo conseguisse compensar isso de alguma forma criativa.
Mas não, menos de um ano anunciam um acessório para corrigir o erro de projeto, e esse acessório ainda é ruim. Pilhas, Nintendo? Porra! Em que ano estamos mesmo? Eu esperando pelo menos uma bateria interna do periférico para somar um pouco mais de tempo à pouca autonomia normal do 3DS… Já o PlayStation Vita parece seguir um caminho um pouco melhor, fazendo o esquema de oferecer tudo para ninguém reclamar da falta de nada. Mas o reflexo disso é um preço alto de lançamento. Se os US$ 250 do 3DS já eram considerados altos e influenciaram as vendas baixas, o que dizer dos US$ 300 para a versão Wi-Fi+3G do PS Vita?
Bem, não tenho nenhuma solução para o cenário atual dos videogames portáteis dedicados e acho que essa geração do 3DS e PS Vita pode ser realmente a última para esse tipo de aparelho. Isso tudo é mais um desabafo de alguém que sempre gostou de ter um portátil para games na mochila, que tentava sempre jogar uma partidinha de Golden Axe no mini-game durante as aulas do colégio e enlouqueceu quando ganhou o primeiro Game Boy.
Vai que essa é mesmo a evolução natural das coisas, que os videogames portáteis como conhecemos devem morrer para dar lugar a outros equipamentos mais conectados e multifuncionais. O que na verdade não seria nem uma morte, não é? Acho que a melhor palavra seria reinvenção. Mas para a Sony e, principalmente, para a Nintendo, essa reinvenção pode ser bastante traumática.