FOMO (Fear of Missing Out). Essa é uma expressão que tem marcado presença em diversos meios, mas principalmente no mundo dos games ela é uma boa maneira de descrever o que conduz as diferentes partes do público a um serviço ou um jogo ou, até mesmo, a um console específico. O medo literal de ficar de fora da nova tendência que todos estão desfrutando, ou melhor, aqueles com o privilégio de adquiri-la.
Pois eu admito que esse medo me tomou conta nas últimas duas semanas, pensando nos God of War, Spider-Man e outros exclusivos que virão por aí na plataforma da Sony. Considerando ainda os acordos de exclusividade assinados para este ano e o próximo, fui tomado pela tentação de adquirir um console PlayStation 5 menos que três meses depois de acolher um Xbox Series S e, para ser completamente sincero, perdi.
Com o país em estresse econômico, o futuro incerto e os preços de hardware subindo cada vez mais, me desviei do caminho proposto no texto anterior e adquiri essa besta enorme que é o aparelho da Sony para a 9ª geração de consoles, esquecendo-me por um instante da mesma lógica que propus na segunda edição do Diário Gamer: 2021 será um ano magro para novos softwares, ou em outras palavras, games.
Ainda assim, com um backlog imenso, tomei a decisão de aposentar meu PS4 Pro e logo substitui-lo por um Play 5, e nas próximas semanas, devem se desenrolar os efeitos da minha escolha através de uma sensação ou de euforia, ou de amargo arrependimento, ou os dois. Fora que temos os riscos de adquirir um console novo tão cedo em sua vida útil, com o perigo de problemas técnicos e erros de hardware e software.
A pergunta persiste: Vale a pena comprar um novo console agora? Minha resposta também persiste: Não. Mas de qualquer forma eu continuo sendo humano, portanto falho em minhas decisões de vida e sou tomado pelo mesmo hype que consome os outros. E isso está engendrado no meu caráter de maneira que é difícil se proteger do bombardeio de informações e expectativas alheias.
Em seu seminário TED sobre o FOMO, Bobby Mook exemplifica a sensação como algo que não é novo à experiência humana, mas que se reforçou nesse período atual de telas, telas e mais telas, impedindo-nos de viver no momento. É uma palestra interessantíssima e descontraída, que descreve exatamente esse sentimento que me tomou de assalto e me fez tomar uma grande decisão impulsiva.
Trata-se, no fim de tudo, de uma questão de relevância, ou como eu enxergo a relevância. Será que serei um gamer relevante se estiver na plataforma “errada”? Será que a minha plataforma de escolha será relevante pelos próximos sete ou oito anos? Isso é algo que, com a tática mais e mais comum de acordos de exclusividade, se agrava como uma angústia sem fim.
Depois de uma geração inteira tendo acesso a diferentes plataformas, estes se tornaram privilégios aos quais me acostumei e não estava preparado para abrir mão. Só não parei e pensei muito bem antes de tomar minhas decisões anteriores, o que leva a correções de curso constantes e um sentimento de dúvida eterno, pois não tenho o hábito de parar, pensar e depois, só depois, agir.
Agora, depois do imenso desabafo, vamos ao único jogo que aproveitei de verdade no período em que este Diário Gamer foi elaborado: The Medium, disponível no Xbox Game Pass. O novo esforço da Bloober Team remete bastante aos jogos de terror clássicos, mas principalmente me remeteu àquele período em que víamos títulos como Obscure, Haunting Ground e Rule of Rose, para nomear alguns títulos B do período de mais ou menos 2002 a 2006.
Os ângulos fixos de câmera de The Medium são uma novidade para a Bloober, habituada com a perspectiva em primeira pessoa de seus títulos anteriores, e apesar de alguns problemas com a movimentação da personagem principal, eles contribuem para uma feel mais cinemática do jogo, como o Vinícios já exemplificou em seu ótimo review. O negócio inclusive é Old School com letras maiúsculas.
Quanto à história de The Medium, estou seriamente dividido. Enquanto é realmente frustrante constatar que o trailer de anúncio, aquela beleza em CGI com trilha de Akira Yamaoka, nada tem a ver com o jogo final ( a protagonista Marianne sequer menciona uma gravidez passada), a trama tem suas guinadas interessantes e impressiona ao caminhar para lugares realmente sombrios, mesmo não chegando a um final satisfatório.
Ficando apenas realmente decepcionado com seu final em aberto, posso recomendar The Medium àqueles que sentem saudades de Silent Hill ou mesmo os jogos que citei lá em cima. É uma experiência razoavelmente breve (devo ter concluído o game em pouco mais que 7 horas), mas é uma que vale instalar e conferir, até porque se trata de um dos primeiros títulos realmente next-gen no mercado com sua ideia de mundos divididos.
Bom, este foi o Diário Gamer desta quinzena. Espero ter contribuído com alguma informação relevante ou fomentado reflexões nos leitores, a quem eu agradeço desde já pela atenção. Para conferir edições anteriores, acesse-as aqui, e para reviews autorais completos e notícias, é só acompanhar o Gamerview diariamente.