A comunidade gamer se lembra do fiasco que Agony foi. O jogo, que prometia ser um desbravamento pelos planos infernais na verdade, se mostrou uma grande decepção. No entanto, teria uma Succubus aberto suas garras e cavado um caminho de redenção para fora do inferno de notas baixas de Agony? A resposta curta é não, e a resposta longa é que dificilmente isso irá acontecer. Succubus apresenta o mesmo problema de Agony, embora possua uma representação única e interessante do inferno e outras partes da abóboda celeste.
Ainda assim, o jogo falha em prender o jogador com conteúdo, a não ser que você seja fã de BDSM ou um adolescente edgy. Trazendo um jogo com um foco maior em combate em relação a Agony, o novo projeto da Madmind Studios traz armas, magias e uma Succubus linda de morrer. No entanto, como eu já passei da puberdade anos atrás, não fiquei na ponta dos pés pensando no quanto as madrugadas seriam “radicais”. Já aviso que no texto alguns temas bem fortes serão abordados.
De longe é feio, de perto parece estar longe
O gênero do terror psicológico tem sido usado mais do que uma bola de vôlei na praia de Copacabana em pleno verão de 1990. Agony passou longe de sequer causar pavor em alguém, a não ser que você tenha uma verdadeira fobia de jogos stealth que não são realmente stealth e vaginas nas paredes. Assim também é o mundo de Succubus. Passando os olhos pelo cenário, vemos sempre algo apelativo, sejam órgãos sexuais, sejam demônios transando ou estuprando alguma pobre alma.
Primeiramente, é necessário saber que a protagonista de Succubus é a Rainha Vermelha do final secreto de Agony. Essa criatura infernal se alimenta do libido, sangue e dor de suas vítimas, sejam elas demônios ou as almas dos condenados. Com isso, o jogo traz um sistema de combate em primeira pessoa, usando armas brancas ou magias – o importante é deixar um rastro de corpos e sangue.
O jogador pode usar um par de adagas que podem ser lançadas como bumerangues, uma espada, foices e martelos. Bem como várias magias, a Spark está sempre equipada, mas as outras mudam conforme a armadura utilizada pela personagem. O maior problema de Succubus é que, tirando o fato de ter que lutar contra os demônios do inferno, não há muito mais que dê ao jogador um motivo para seguir em frente.
Na versão de prévia, o primeiro nível segue um caminho linear com alguns segmentos de combate, onde matamos alguns condenados e demônios. O jogador pode usar a tecla Shift para executar os inimigos de diversas maneiras, e cada arma possui várias animações de execução. Também é possível usar um chute e lançar os inimigos para serem empalados.
Difícil continuar, né?
O maior problema de Succubus é não se aprofundar de cabeça na mitologia do inferno e da própria criatura titular. Bem como na lenda oriunda do Oriente Médio, onde a criatura ganhou a crença popular, aqui vemos a protagonista arrancando várias “bingolas”. A falta de um aprofundamento na história me fez querer terminar o mais rápido possível. No entanto, muito poderia ser aproveitado, como uma história onde a mesma vive entre a terra e o inferno caçando homens infiéis ou tomados por luxúria.
Da mesma forma como a industria pornográfica, Succubus foca fortemente no apetite sexual do público que fantasia com a personagem, ou seja, deixando qualidade de gameplay, lore e pontos de interesse de lado para fomentar essa libido e o sadismo dos jogadores. Para mim, é a parte mais risível do título e de como eles tentam pintar essa imagem da Succubus maligna e sem escrúpulos, como algo verdadeiramente infernal.
Em determinados momentos, encontramos almas condenadas presas a aparatos de tortura e podemos interagir com elas. Por exemplo, encontramos um homem e uma mulher grávida. O homem pode ser espancado enquanto tem uma ereção, que é arrancada após o mesmo ter sua mandíbula socada para fora. Já quanto à mulher grávida, assim que nos aproximamos dela, podemos ver o bebê dentro de sua barriga, que é puxado para fora e tem sua garganta mordida pela protagonista.
Isso mostra o quão superficial é o conteúdo de Succubus, que vem apenas para tentar chocar, mas não assustá-lo ou fazê-lo remoer a presença de um bebê no inferno, por exemplo. Não existe o debate de como uma alma ainda não tingida pelo pecado desceu ao inferno com a mãe. Pio IX condenou o aborto em 1869, após dizer que a alma passa a habitar o corpo de um feto no momento da concepção. Mas o mesmo jamais “afirmou” que as almas vão para o inferno, e continua-se crendo que as almas dos fetos ficam na terra ou no limbo, dependendo da visão de cada pessoa, é claro.
Volte para as profundezas
Succubus poderia ter aprendido muito com o que eu considero o melhor jogo da atualidade que trata de uma visão cristã: Blasphemous. O sidescroller da Team 17 é fortemente inspirado pela fervorosa fé do povo espanhol, trazendo à tona o tema da penitência, do flagelo e do auto sacrifício. O jogo começa e termina sempre levantando pautas diferentes e apresentando personagens de caminhos diferentes da vida.
Succubus, por sua vez, não apresenta nada sobre o cenário lúdico cristão ou sobre sua mitologia. Não vemos nada além de um jogo que preza pelo visual e superficial, mas que no fim do dia serve apenas para nos lembrar que rostinhos “bonitos” não são o suficiente sem conteúdo.