Cloudpunk é um jogo distópico que te leva para Nivalis, um lugar onde a chuva incessante não impede a movimentação da população e dos hovercars que sobrevoam entre os prédios iluminados. Rania mal chegou e já encontrou o que fazer nesta cidade vertical, tornando-se a mais nova motorista de entregas da Cloudpunk, uma empresa semi-legal que faz delivery de tudo que for possível.
Neste belo ambiente em voxel art desenvolvido pela Ion Lands, você terá uma imensa metrópole cyberpunk para explorar, em uma aventura com elementos de RPG onde será necessário coletar e entregar diversas encomendas. Você também poderá percorrer a pé, e com isso terá a chance de conhecer os becos das camadas mais baixas, até as grandes praças iluminadas no alto dos prédios que quase alcançam a troposfera. No decorrer deste primeiro e interminável turno de trabalho, Rania vai conhecer histórias de humanos e androides que vão afetar seus pensamentos e mudar o rumo de sua noite.
Bem-vindo à Cloudpunk
Rania é uma mulher solitária e detesta a cidade grande, no entanto seus problemas financeiros se tornaram tão difíceis que lhe obrigaram abandonar sua terra natal e seguir para Nivalis, já que é um lugar cheio de oportunidades, onde certamente ela vai encontrar ajuda para superar tal crise.
Nivalis nunca dorme. Todos saem para curtir, trabalhar, alguns até se escondem, enquanto outros estão procurando algo ou alguém, e no decorrer de todos esses movimentos, há vários serviços de entregas sendo solicitados. E é a Cloudpunk que tem dominado o mercado, já que não questiona o conteúdo que está sendo transportado. É nesta empresa, que também aceita trabalhadores com facilidade, onde Rania encontrou um meio de custear sua estadia e talvez resolver seus problemas.
Seu contato é apenas com um agente da central da Cloudpunk, que dará as informações necessárias como local de retirada e entrega. Essa é sua principal tarefa, transportar algo do ponto A ao B, quase como em Death Stranding, porém aqui você recebe uma encomenda por vez e entrega no tempo que quiser, sem afetar suas recompensas. Com isso em mente, tenha certeza de que a tarefa não será tão complicada quanto poderia. Seria interessante se houvesse um tempo ou limite de danos para as entregas, o que traria um pouco mais de urgência e desafio para a jogatina.
A cidade está dividida em diversas camadas e, como era de se esperar, as mais baixas são aquelas mais pobres e decadentes, enquanto que as mais altas são reservadas aos poderosos. Esses lugares são cheios de detalhes e é fácil se encantar com sua beleza, além de lembrarem a ambientação de filmes como Blade Runner, a cidade de Coruscant da franquia Star Wars e muitas vezes O Quinto Elemento, já que as ruas estão tomadas de hovercars de todos os tipos, incluindo táxis. Se você gosta destes filmes, então ficará encantado com Nivalis.
Você pode dirigir livremente pela cidade, com exceção de alguns locais proibidos que somente em alguns casos terá acesso. Cada parte de Nivalis possui um mapa bem extenso. Há uma espécie de avenida principal que é por onde os carros ganham mais velocidade, e é através dela que Rania acessa os elevadores para as diferentes camadas da metrópole. Só assim é possível subir e descer pelas divisões. Não dá para fazer como o Korben Dallas, taxista interpretado por Bruce Willis no filme O Quinto Elemento, e descer até as profundezas sem passar por estes portais.
Geralmente, você será obrigado a entregar as encomendas para progredir em Cloudpunk, mas há tarefas específicas em que o jogo te deixa escolher entre entregar ou não o pacote, e além de perder as recompensas caso não entregue, suas escolhas também vão trazer algumas consequências para a narrativa. Isso ocorre poucas vezes, mas com o tempo essas decisões ficam mais difíceis, te fazendo escolher entre ser obediente ou fazer o certo – embora nem sempre está claro se realmente é o correto a ser feito.
Respostas primeiro, perguntas depois
Alguns eventos de Cloudpunk acontecem de forma confusa, como quando Rania decide atualizar seu assistente virtual. Primeiro coletamos, por acaso, um cartão de memória na rua, e somente após juntar um pouco mais de 1500 lims (a moeda do jogo) é que a motorista, ao entrar no carro, inicia a tal assistente e imediatamente solicita a troca para uma versão com outra IA, sem dar nenhuma opção ou contexto prévio para o jogador.
A troca de IA traz um velho e bom amigo da motorista, Camus, um cachorro que teve seu corpo vendido e agora passa a integrar o seu sistema de assistência. Mas a forma como isso acontece é estranha porque geralmente as coisas são ao contrário. Primeiro receberíamos um alerta do jogo, e assim ficaria em aberto uma submissão onde o jogador precisa procurar tais itens para implementar a melhoria.
Logo você notará que Cloudpunk está repleto de itens para coletar, e muitos seguem o mesmo caso de Camus. Não há contexto, e você só vai descobrir a utilidade dos itens conforme conversa com NPCs. Inclusive há diversas pessoas precisando de ajuda, alguns pedem para encontrar amigos, robôs, animais, cartões, entre vários outros itens, e provavelmente você terá uma boa quantidade deles em sua mochila, justamente por ter pego antes de conhecer tais pessoas. É um pouco esquisito, mas já adianta a conclusão de missões secundárias.
Muitos itens podem ser vendidos e comprados nas barracas ou com vendedores ambulantes, e felizmente a descrição destes objetos nos adianta quais podem ser descartados. Vendê-los é uma boa opção, pois Rania pode comprar novas mobílias para seu apartamento. São apenas cosméticos, mas é uma boa forma de interagir com o jogo. Também é possível comprar novas roupas, alimentos e, claro, melhorar o seu hovercar, afinal você precisa mantê-lo em boa forma para continuar trabalhando.
Depois de muito tempo, você descobre que existem lugares para manter seu carro em ordem, como as paradas de manutenções ou ainda os postos de gasolina. Você mal notará estes locais por serem pouco necessários durante toda jogatina. Em poucas ocasiões precisei consertar meu veículo, e olha que não foi por falta de batidas. Além de consertar e abastecer, você poderá aplicar algumas melhorias em seu carro, mas elas não trazem efeitos tão visíveis na direção, sendo mais cosméticas novamente.
Diversas perspectivas
Em uma determinada ocasião de Cloudpunk, você poderá trocar de hovercar, e será possível escolher um entre os diversos modelos de carros para seguir com seu trabalho. Tem design para todos os gostos. Por enquanto, a direção dos veículos acontece com a câmera comum, exibindo o carro, mas os desenvolvedores prometeram que no futuro incluirão uma câmera cockpit que trará ainda mais emoção ao dirigir pelas ruas de Nivalis. Já durante a jogatina a pé, você poderá optar entre três modos de visualização: em primeira pessoa, que proporciona maior imersão; terceira pessoa; ou ainda a câmera fixa que vai oferecer os melhores ângulos deste cenário noturno. Você pode mudar os modos a qualquer momento. Será uma tentativa de agradar a todos?
O jogo está repleto de diálogos, seja com clientes, a central da Cloudpunk ou mesmo com Camus. Felizmente, é fácil acompanhar toda essa narrativa já que os textos estão em português. O jogo tem até um cuidado em demonstrar termos de informática para leigos, como quando Camus diz estar um pouco sonolento e com dificuldade de entender as coisas ao ser instalado no velho hovercar, uma clara referência de que o hardware não tem capacidade para executar a aplicação com fluidez. Todos esses textos são divertidos e trazem momentos descontraídos para a narrativa, mesmo que algumas vezes surjam traduções estranhas.
Viajar por Nivalis também rende boas músicas de synthwave que tocam aleatoriamente, seja no carro ou enquanto estamos a pé. Infelizmente não dá para trocar as músicas livremente, mesmo que você hackeie a rádio da cidade para ouvir tudo que quer, mas a parte positiva é que a maioria das faixas mantêm o clima cyberpunk bastante agradável.
Cloudpunk não tem tanta ação. Você não vai participar de corridas ilegais, nem entrar em tiroteios. A proposta é mais focada em suas entregas, rendendo boas e misteriosas histórias que vão te envolvendo na rotina de cada um dos personagens. O que poderia melhorar essa experiência seria uma estrutura mais elaborada para a interface, ou um menu com informações dos NPCs. Itens e organização de missões também seriam muito bem-vindos para ajudar no acompanhamento desta progressão.
No entanto, trabalhar para a Cloudpunk rende um tour inesquecível por Nivalis, e mesmo que às vezes as coisas pareçam mal ordenadas, ainda é muito prazeroso ajudar humanos e androides em suas rotinas. Se você gosta do gênero cyberpunk, hovercars e uma cidade imensa para explorar, com certeza não deve deixar este emprego, digo, esse jogo passar despercebido.