A Konami conseguiu! Temos um novo Silent Hill feito do jeitinho que a Team Silent fazia nos tempos de PlayStation 1 e 2. Ou seja, com uma ambientação impecável, uma história impactante de terror psicológico, inimigos criativos e uma jornada temerosa para os jogadores passarem sufoco. Esqueça as tentativas ocidentais… Silent Hill f é a prova máxima de que os jogos da franquia devem ser produzidos exclusivamente pelos orientais.
É inegável que a Konami fez uma boa escolha selecionando a NeoBards Entertainment para assumir a produção. Apesar de pouco conhecida aqui no ocidente, a desenvolvedora chinesa colaborou em produções da Capcom e da Square Enix nos últimos anos, como Final Fantasy VII Rebirth. O estúdio é formato por veteranos da indústria e isso fica evidente na qualidade de Silent Hill f, que definitivamente veio para revitalizar a série.

Recuperando a essência do horror japonês
A história de Silent Hill f, ambientada na cidade rural de Ebisugaoka nos anos 60, conta sobre as angustias da jovem Shimizu Hinako. Enquanto vive uma rotina pacata, ela precisa lidar com problemas familiares e traumas pessoais. Ao brigar com os pais, Hinako sai de casa para se encontrar com os amigos da escola. No caminho, ela descobre que os moradores sumiram e uma névoa dominou tudo. E assim começa sua jornada, recheada de horrores e descobertas introspectivas.
Este é o primeiro Silent Hill ambientado no Japão, o que por si só já é algo bastante especial. Ebisugaoka, uma cidade cercada por montanhas e natureza, é bela e promove muitos momentos de admiração mesmo quando dominada pela melancolia trazida pela névoa. Uma beleza atraente e igualmente perigosa, garantindo a apreensão contínua do jogador durante a exploração.

Ao iniciar o game, é oferecida a opção de dificuldade para a ação e os puzzles, de forma separada. Recomendo fortemente escolher “Difícil” nas duas, para ter a experiência completa. A opção “Perdida na Névoa” traz a dificuldade mais elevada do game, que eu só indico para quem for jogar novamente após concluir a história pela primeira vez, pois os inimigos ficam implacáveis e o puzzles são bem mais complexos.
Silent Hill f promove uma experiência extraordinária, cujo a história – muito bem escrita por Ryukishi07 – o faz indagar o que é real e o que não é. O que houve com os moradores de Ebisugaoka? Por que os amigos de Hinako agem de um jeito estranho? O que aconteceu com a irmã mais velha, Junko, que foi embora para se casar? Graças às anotações encontradas e adicionadas no diário, o jogador consegue entender um pouco mais de cada personagem, cada local, cada monstro, etc. A cultura japonesa também é muito bem explorada aqui, com explicações sobre as tradições locais e a adoração à Inari-sama (kami japonês das raposas).

Gameplay tradicional, mas com novidades
O gameplay segue o básico dos jogos clássicos, mas oferece algumas coisas novas: Hinako possui uma barra de estamina e outra de sanidade, que permite focar no inimigo. Ao encher a barra de foco, você dispara um golpe mais forte, porém perde sanidade no processo. Se a barra de sanidade zerar, você começa a perder vida lentamente. Para manter a sanidade, a protagonista precisa tomar analgésicos ou acalmar a mente nos hokora, um santuário xintoísta em miniatura utilizado no jogo para salvar o progresso, ofertar itens encontrados em troca de fé e sortear omamori (gastante pontos de fé).
Omamori são amuletos japoneses que conferem melhorias passivas, muito úteis para diversas situações (como precisar de mais vigor para encarar o combate), sendo importante alternar entre os amuletos disponíveis no inventário. Você encontra alguns omamori na exploração e boa parte você consegue no hokora ao sortear. Os itens que dão fé são informados no inventário, caso prefira ofertá-los ao invés de consumí-los. Alguns dão bastante pontos de fé, como carcaças ressecadas e chá de kudzu. Você também encontra itens importantes para aumentar a capacidade do inventário e fazer os upgrades da protagonista (aumentar vida, sanidade, vigor e espaços para usar os omamori).

Para o combate, Hinako pode carregar até três armas brancas, como foice, cano de aço, faca, machado, etc. A velocidade e dano varia entre eles, sendo que os maiores permitem carregar o ataque. Ao usá-las, estas armas vão perdendo a durabilidade, que só pode ser reparado usando um kit de ferramentas (item com utilização única). Ao enfrentar os inimigos é preciso aprender os padrões dos ataques, tanto para esquivar quanto para contra-atacar, e ainda assim você pode ser surpreendido. Quando surgem em quantidade, o caldo engrossa bastante e fugir se torna uma boa opção. Até porque os inimigos derrotados não dão recompensa. É meramente um caso de sobrevivência ou de necessidade para abrir passagem.
De modo geral o combate é simples, mas funciona muito bem e é satisfatório. Só não tem nada de soulslike como falaram por aí na internet. E, surpreendentemente, tal combate evolui um bocado mais pra frente na campanha. Porém, para não dar spoilers, não vou comentar o que acontece…

A beleza no terror
Silent Hill f é um jogo extremamente bonito. A cidade, inspirada no período Showa, foi muito bem concebida para criar a ambientação que se espera de um survival horror, com cenários detalhados e um senso de estranhesa e tensão a cada nova área explorada. Tal mundo divide espaço com o Santuário Sombrio, para onde Hinako vai em seus pesadelos, representando o “Otherworld” deste novo título. O jogo intercala entre as realidades para evoluir sua história, sempre no ritmo certo e surpreendendo o jogador.
É realmente interessante ver uma cidade comum sendo corrompida, aos poucos, por um tapete de flores vermelhas e matéria orgânica pútrida e purulenta. E, como de praxe na franquia, tudo tem um significado, uma simbologia por trás das manifestações. Felizmente nada é apresentado à toa, sem conexão, apenas para causar susto. Aqui a experiência é realmente psicológica, como todo Silent Hill tem que ser. Desconfortável e instigante ao mesmo tempo. E toda essa tensão não seria a mesma se não houvesse a participação do lendário compositor Akira Yamaoka, que assina grande parte das músicas, junto de Kensuke Inage – responsável pelas trilhas do Santuário Sombrio.

Silent Hill f roda muito bem no PC, versão que testei para este review. A performance está impecável, mesmo nas configurações máximas. Nem parece um jogo produzido na Unreal Engine 5, de tão liso que ele roda. E certamente o aspecto mais surpreendente no game está em sua iluminação, que abusa do Lumen. Só um aviso importante: todas as cenas animadas rodam travadas em 30 FPS, por escolha artística. E, claro, tem DLSS pra dar aquela força nos frames caso precisar.
A campanha tem uma ótima duração, de cerca de 12 horas. Essa duração vai depender da dificuldade que escolher e, principalmente, do tempo que levar para resolver os puzzles. São todos muito criativos, embora alguns deles sejam bem crueis e te deixam preso no progresso. Mas é aí que mora a graça do survival horror tradicional. Concluído o jogo, você verá o final principal e terá acesso ao Novo Jogo+, que abre áreas antes fechadas para explorar. Você encontrará também novas anotações, complementando a história, bem como ter acesso aos 4 finais extras (incluindo o UFO, claro).
Como fã da franquia, eu não poderia estar mais feliz. Silent Hill f é uma obra-prima, um survival horror exemplar. Uma experiência marcante e especial, daquelas que ficará na memória por muito tempo e que promoverá a discussão entre os jogadores para interpretar seus significados.
Prós:
🔺Visual e ambientação impecáveis
🔺Monstros incríveis, um mais medonho que o outro
🔺Trilha sonora extremamente imersiva
🔺História bem escrita, recheada de cultura japonesa
🔺Dificuldade separada para ação e puzzles
🔺New Game+ com mais revelações e 4 finais extras
🔺Localização PT-BR no capricho
Ficha Técnica:
Lançamento: 25/09/2025
Desenvolvedora: NeoBards Entertainment
Distribuidora: Konami
Plataformas: PS5, Xbox Series, PC
Testado no: PC


