Muitos brasileiros podem não saber, mas Davy x Jones não é nome de YouTuber. Pode ser uma verdade chocante, principalmente dita assim logo na abertura desse texto, mas, se acalme, você irá conseguir superar. O fato é que Davy Jones, na verdade, é o nome de uma figura lendária, para não dizer mitológica, que teria existido na época dos piratas, séculos atrás.

Nesse sentido, a franquia cinematográfica Piratas do Caribe pode ser levemente didática para nosso contexto: há algo de macabro na lenda de Davy Jones. É essa aura mítica e quase burlesca que a desenvolvedora polonesa The Parasight resolveu utilizar para construir um jogo que oscila entre o RPG de exploração e o frenesi bélico dos FPS mais modernos.

Davy x Jones

Mente versus Corpo

Aqui, controlamos o lendário Davy Jones, um pirata sanguinário que singrava os sete mares atrás de seu arquirrival, o igualmente temido Barba Negra. Infelizmente, e essa é a premissa inicial do jogo, não deu. Na batalha derradeira, Barba Negra leva a melhor, Davy Jones é morto e seu cadáver é lançado para as profundezas do oceano. A partir dessa abertura, não controlamos mais Davy Jones. Nós passamos a controlar seu corpo, decapitado. E estamos no Locker, a versão bucaneira do além.

A estranheza do jogo vai muito além de qualquer peripécia de Johnny Depp. Davy x Jones nos separa em duas entidades: Davy e Jones. Uma é o crânio muito falante do pirata, a outra é seu corpo autônomo, que se limita a repetir “Jones”, quando está contrariado. Desse embate de vontades, surge uma dinâmica hilária. Um não pode “viver” (como muitas aspas) sem o outro. Os dois estão obcecados pela mesma meta: escapar do Locker, retornar ao mundo dos vivos e destruir Barba Negra. É a boa e velha história de vingança, temperada com cenários que ora lembram Wandinha, ora lembram Clair Obscur: Expedition 33 (o mesmo motor gráfico ajuda nessa similaridade).

Davy x Jones

A estranheza de Davy x Jones se manifesta em todos os detalhes. Enfrentamos inimigos que são manequins saltitantes, navegamos em um híbrido de baleia zumbi com escuna pirata, existe uma cabeça de porco que não para de falar sobre como foi morta pelo Davy Jones, barris vivos aparentemente administram todos os serviços dessa sociedade e nosso guia é uma galinha pescoçuda com voz de criança irritante. A aleatoriedade domina esse universo a cada segundo que se explora.

O grande destaque dessa insanidade é o dublador hiperativo de Davy, o crânio falante e sarcástico. De certa forma, ele é o verdadeiro protagonista, nós somos somente aquele que controla as cordinhas da marionete em que seu corpo se transformou. Entretanto, há várias outras figuras exóticas pelo caminho e é impossível prever o que pode ser encontrado na próxima esquina ou evento.

Davy x Jones

Nesse momento, a The Parasight dá uma ideia muito clara do que aguarda o jogador quando Davy x Jones estiver concluído: cenários gigantescos e abertos, com conteúdo opcional e uma jornada que se estende por terras que valem a pena serem desbravadas. Se a geografia das primeiras áreas for um recorte do universo maior, estaremos muito bem servidos de aventuras fora do convencional.

Davy x Jones luta com unhas e dentes

O esqueleto do jogo está completo, alternando momentos de exploração e conversação com personagens inusitados com momentos de combate nervoso. Talvez, ao lidar com esses dois opostos, a The Parasight possa encontrar dificuldades para encontrar seu público. Os jogadores acostumados com RPGs de exploração e que queiram apenas aproveitar as paisagens oníricas podem se sentir pressionados pela velocidade e agressividade dos combates. Em contrapartida, os jogadores que esperam mecânicas frenéticas a todo o momento podem ficar entediados com as caminhadas e as muitas interações que não envolvem tiroteio ou espadadas. Para aqueles que apreciam os dois extremos, Davy x Jones é o prato perfeito, em que um tom serve de respiro para o outro.

Davy x Jones

O que temos então são confrontos que envolvem a administração calculada (ou instintiva) das duas armas que se dispõe, das habilidades que vão sendo desbloqueadas e da verticalidade quase extrema, que envolve utilizar um gancho com corda para se aproximar ou se afastar dos oponentes. É um balé de violência que funciona muito bem quando o jogador entra no ritmo certo, concluindo com movimentos de finalização prazerosos que restauram a vida ou resultam em recursos adicionais, que serão utilizados para evoluir o personagem. Considerando que os inimigos ressurgem depois de um certo tempo, é possível, mas não necessário, matá-los outra vez para acelerar essa evolução.

O que Davy x Jones quer é que o jogador se sinta poderoso, o terror dos sete mares, um matador brutal que despacha seus inimigos jogando uma moeda para o alto e decidindo seu destino final, como um Duas Caras submarino. Os pontos de salvamento são bem distribuídos, então nem mesmo a morte não segura esse pirata vingador por muito tempo.

A The Parasight tem em mãos um título definitivamente ímpar, apesar das suas referências. Ele subverte o pirata caricato da Disney com a mesma força e criatividade que subverte a testosterona matadora do Doomslayer, com fortíssimas doses de estranheza e anarquia. Davy x Jones é um título para se comprar agora, aproveitando o preço extremamente baixo e ir acompanhando a ascensão desse flibusteiro em direção à superfície.

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