Não me agrada a ideia de abrir esse texto com uma carteirada, mas o fato é que essa análise será antipática, então, talvez eu tenha que me resguardar. Joguei o primeiro Killing Floor de forma quase compulsiva em sua época, acumulando mais de 300 horas. Foi uma das experiências multiplayer mais divertidas de minha vida. O segundo Killing Floor tinha seus problemas, mas bateu quase 60 horas marcadas no Steam aqui. Dificilmente, Killing Floor 3 chegará perto disso.

Se você nunca jogou um título da franquia anteriormente ou não se importa, recebeu esse jogo agora de presente ou comprou por impulso, não há tantos problemas. É possível inclusive que você se divirta com Killing Floor 3, na medida em que ele é competente na maioria dos momentos e segue várias tendências moderninhas de jogo como serviço. Para quem vem acompanhando a franquia, entretanto, é o degrau mais baixo alcançado desde seu nascimento como mod para Unreal Tournament.

Killing Floor 3

Olhe pelo lado positivo!

A fórmula de Killing Floor 3 é idêntica ao dos jogos anteriores, pelo menos em seu aspecto mais básico. Nós controlamos um personagem que é um especialista em um determinado estilo de combate. Pode ser um franco-atirador, pode ser um médico, pode ser de alguma outra classe e essas classes estão mais ou menos intactas desde o começo da série. Em um mapa de tamanho médio, sozinho ou acompanhado de outros jogadores, será necessário enfrentar ondas de criaturas progressivamente mais fortes. Matar monstros gera dinheiro. Entre uma onda e a próxima, há um pequeno intervalo de tempo para comprar mais munição e/ou armas melhores, até a fase final, contra um chefe muito mais resistente e perigoso.

Esse loop de jogabilidade se manteve e é o aspecto que funciona e vicia. Meter bala (ou bomba, ou golpes de espada, ou fogo) contra seres grotescos nunca cansa. O nível de gore subiu muito desde o primeiro jogo, embora eu acredite que o ápice já foi atingido em Killing Floor 2. Ainda assim, cada partida termina com o chão saturado do sangue dos monstros e ocasionais pedaços de corpos (inclusive alguns pedaços que ficam flutuando no ar, mas aí já estamos falando de um dos bugs desse terceiro título).

Killing Floor 3

No aspecto audiovisual, o jogo não faz feio. Graficamente, ele mantém a qualidade que se espera de um terceiro jogo da franquia. As músicas mantém a adrenalina pulsando, com uma mistura equilibrada de metal e eletrônico. Uma trilha sonora grudenta e estimulante é uma das principais características da série e Killing Floor 3 mantém esse disco girando, ainda que não se destaque tanto quanto a trilha inesquecível do primeiro de todos.

Quanto mais o jogador sobrevive, mais acumula pontos de evolução que irão desbloquear vantagens passivas para sua classe de personagem, o que justifica o investimento de tempo, ainda que a evolução seja menos visível em Killing Floor 3, quando comparado com episódios anteriores.

Killing Floor 3

Killing Floor 3 mutacionou para algo ruim

Tecnicamente, todo pão é feito de farinha, fermento e leite. Entretanto, obedecer a essa receita em seus componentes mais fundamentais não torna todo pão saboroso. Killing Floor 3 dilui tudo isso e adiciona ingredientes que não se misturam muito bem, deixando de lado muitos aspectos que fizeram a franquia chegar até aqui.

Há poucos mapas, para começar. Esse ponto de partida não seria tão problemático, principalmente porque todos os jogos anteriores tiveram mais mapas adicionados ao longo de sua vida útil, se não fosse pelo fato de que esses poucos mapas são extremamente parecidos entre si. Temos aqui a mesma combinação de escombros, ruínas em chamas, vidro quebrado e tudo mais. Tanto faz se é uma base militar abandonada, um edifício de escritórios abandonado, uma fábrica abandonada ou um laboratório abandonado. Se todos esses mapas fossem conectados entre si, a transição seria imperceptível. Falta-lhes individualidade e até mesmo criatividade, para uma franquia que já passou por tantas locações marcantes.

Killing Floor 3

Outra ausência sentida em Killing Floor 3 é a Stalker, uma monstruosidade que entrava e saia de invisibilidade e adicionava tensão às partidas. É a única criatura clássica que não retorna. Em contrapartida, outros monstros passaram por mudanças estéticas bastante questionáveis. O design de som dificulta a localização de alguns inimigos potencialmente prioritários e seus modelos não facilitam a identificação no meio da horda.

O sumiço final da Stalker é apenas uma dentre várias decisões de design que contrariam mecânicas anteriores. Não há mais um seletor de servidores, por exemplo, mas um sistema de matchmaking que não funciona a contento. O sistema atual me empurra para os braços do acaso e não foram poucas as vezes em que me vi chegando no final de uma partida ou largado em um mapa com apenas outro jogador, de uma equipe possível de seis.

Killing Floor 3

As seringas de cura agora têm cargas finitas e não podem ser usadas para curar um aliado. O soldador de portas deixou de existir. O número de ondas é fixo em apenas 5 (contra 10 do padrão anterior). O suporte para mods está suspenso até segunda ordem. O chat por texto também foi removido.

Em contrapartida, a desenvolvedora Tripwire Interactive adicionou ideias de outros jogos que simplesmente não se encaixam, como ziplines para movimentação (estilo Apex Legend), coleta de recursos para fabricação de melhorias, missões de passe de batalha e até um hub para os combatentes. Killing Floor 3 ainda comete o crime de introduzir um sistema completo de tipos diferentes de danos, que mais atrapalha do que ajuda, para quem só queria pulverizar carne zumbificada com o bom e velho chumbo grosso.

Killing Floor 3

Bollocks!

De todas as mudanças pelas quais Killing Floor 3 passou, a mais imperdoável, em minha humilde opinião, é a perda de seu senso de humor ímpar. No jogo tradicional, meu personagem era um hooligan britânico de rosto pintado e eu lutava lado a lado com um padre de batina, um homem vestido de frango, o Ceifador e um cara com uma máscara de gás no rosto. De todos eles, apenas o homem de máscara de gás, o famoso Mr. Foster, permaneceu como o “rosto” da franquia.

Estabelecer uma persona para si próprio no multiplayer está em último plano desta vez. Todas as classes estão travadas por personagem. Para os veteranos que desejarem continuar jogando de Mr. Foster, por exemplo, eles terão que jogar obrigatoriamente como Commandos. Através do Passe de Batalha, é possível desbloquear customizações ínfimas, que alteram a cor do capacete ou a cor da roupa, opções muito limitadas para se destacar na multidão.

Em contrapartida, as armas podem receber skins, adesivos, penduricalhos e diversos outros detalhes pequenos demais para serem observados fora da tela de menu. Para os amantes de armas de fogo, também foi-se embora a fidelidade de modelos e tipos. Todas as armas de Killing Floor 3 são fictícias.

Killing Floor 3

Killing Floor sempre soube que era uma grande brincadeira, um polícia e ladrão zoado, que não se levava devidamente a sério. Além disso, era dotado de um humor tipicamente britânico, com sotaques e expressões únicos da região. Tudo que havia antes foi substituído por personagens militares absurdamente genéricos, sisudos, em uma missão para salvar a América. Para um título que nasceu no Reino Unido, já teve batalhas nas ruas de Paris e até na Fábrica de Brinquedos do Papai Noel, passando por uma estação lunar, é triste perceber que todos os mapas agora existem nos Estados Unidos e sem qualquer detalhe reconhecível de cidades reais. O clima sujo de grindhouse pós-apocalíptico presente desde o início deu lugar a uma estética que agora beira o cyberpunk. Sai o horror, fica a ficção científica.

Seria impossível encerrar essa análise sem mencionar bugs e crashes. Em poucas horas de jogo, experimentei travamentos, objetos flutuando no ar e partidas encerradas sem aviso. Além de quase meia hora de compilação de shaders no primeiro carregamento, o que felizmente não se repetiu.

Killing Floor 3 pode dar a volta por cima e conquistar seu lugar ao lado dos jogos anteriores? Talvez. Certamente foi um erro lançar o jogo fora de um Acesso Antecipado. Seu futuro agora vai depender da disposição da Tripwire Interactive para reajustar o curso, adicionar mais conteúdo e abrir as portas do jogo para a comunidade. E, certamente, devolver a alegria para a grande zueira que Killing Floor um dia foi.

65 %


Prós:

🔺 Gore caprichado
🔺 Gráficos que dão conta do recado
🔺 Trilha sonora que gruda

Contras:

🔻 Perdeu a “essência” da franquia
🔻 Poucos mapas
🔻 Decisões de design que não ajudam
🔻 Customização questionável
🔻 Bugs e crashes

Ficha Técnica:

Lançamento: 24/07/2025
Desenvolvedora: Tripwire Interactive
Distribuidora: Tripwire Interactive
Plataformas: PC, PlayStation 5, Xbox Series
Testado no: PC

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