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A origem exata dos filmes slasher é difícil de determinar, com múltiplas influências culminando nos clássicos dos anos 70 e 80. Porém, a definição de um filme slasher está bem clara para todos: um assassino serial solto em um cenário lotado de vítimas, eliminando uma por uma com requintes de crueldade. O que Slayaway Camp 2 faz é revisitar uma fórmula que deu muito certo antes: combinar a aura dos filmes slasher com o desafio dos puzzles e uma boa dose de paródia.

A desenvolvedora Blue Wizard Digital inaugurou essa brincadeira em 2016. O resultado ficou tão divertido que o estúdio foi contratado para fazer uma versão licenciada do jogo usando o personagem Jason Voorhees, da franquia Sexta-Feira 13. O título Friday the 13th Killer Puzzle acabou sendo removido do mercado por questões contratuais, uma vez que os direitos autorais da franquia são uma briga eterna. A Blue Wizard Digital pegou outro contrato e retornou para sua própria marca, desta vez na forma de Slayaway Camp 2: Netflix & Kill, lançado para Android e patrocinado pelo serviço de streaming. Meses depois, sem o subtítulo, Slayaway Camp 2 chega aos PCs e o resultado é, com o perdão do trocadilho, matador.

Slayaway Camp 2

Fantasma na máquina

O primeiro jogo trazia o assassino Skullface barbarizando adolescentes em diferentes cenários, não necessariamente no acampamento que dava nome ao projeto. As referências eram bastante óbvias, desde a máscara até a brutalidade das mortes, passando pelo ambiente de acampamento no meio da floresta. O que a desenvolvedora traz para o segundo jogo é uma ampliação do escopo em todos as direções possíveis.

Desta vez, Skullface ressuscita, mas é aprisionado no mundo cibernético do chamado Terrortube, uma plataforma de streaming dedicada a filmes de terror. É um exercício bem bolado de metalinguagem. Skullface pode invadir outros filmes do catálogo e aterrorizar seus personagens, alcançando muito mais vítimas em muito mais situações e cenários, tentando quebrar essa quarta parede e voltar para sua própria realidade. A brincadeira começa na escolha do filme pelo jogador, com uma interface que remete demais ao visual da Netflix, patrocinadora da ideia original. Assim que termina a matança, Skullface busca escapar do monitor enquanto rolam os créditos.

Slayaway Camp 2

Não que um jogo como Slayaway Camp 2 precise de um fio condutor para fazer sentido, não que ele sequer precise fazer sentido. Friday the 13th Killer Puzzle nem tinha um arco narrativo. Muitos slashers, se não a maioria, tem roteiros menos inteligentes do que a piada semiótica que a Blue Wizard Digital faz. Entretanto, é muito satisfatório ver o esmero com que eles constroem o tal Terrortube, com direito a capinha para cada filme, título com trocadilho e até mesmo uma sinopse das histórias que você irá “assistir”.

Slayaway Camp 2 é uma festa de arromba

Todo esse cuidado com a forma teria pouco impacto se o jogo não trouxesse conteúdo. Felizmente, Slayaway Camp 2 entrega muito mais do que os títulos anteriores do estúdio. A regra do “menos é mais” não se aplica aqui. Originalmente, a fórmula é simples: movimente seu assassino por um cenário em grade, em ações por turno, tente chegar nas vítimas sem que elas fujam ou outros obstáculos apareçam. É um xadrez de espreita, um sistema de puzzle que exige planejamento e algumas táticas fora da curva.

Slayaway Camp 2

Ainda assim, a Blue Wizard Digital optou por ir muito além do arroz com feijão que entregou antes (e era um arroz com feijão no capricho). Desta vez, não assumimos somente o controle de Skullface. Há um amplo espectro de novos assassinos, inspirados em clichês do gênero, passando por dentistas assassinos, lobisomens e até geladeiras demoníacas. Há novas classes inteiras de assassinos, com habilidades diferenciadas e inéditas, que exigem novas linhas de raciocínio do jogador. Há novos cenários com novas regras e novos obstáculos que também irão testar seu cérebro ao máximo.

É a oportunidade perfeita também para homenagear os principais filmes slasher, sem precisar esbarrar em direitos autorais, já que a paródia é liberada, assim como para homenagear também o gênero terror como um todo, com diversas referências a muitos filmes.

Com tanta variedade adicionada, não seria errado afirmar que Slayway Camp 2 é o Portal 2 da desenvolvedora: aquilo que fez o jogo original ser tão bom ainda está lá, mas agora recebeu novas mecânicas, novos cenários e uma história mais complexa. Não há um aspecto da experiência que não tenha evoluído entre as continuações.

Slayaway Camp 2

O fio se perde, mas o sangue continua

Infelizmente, talvez a regra do “menos é mais” exista por um motivo: nem todo mundo sabe a hora de parar. O fato é que Slayway Camp 2 acaba cansando depois de um tempo. Mapas vencidos servem para desbloquear variações do mesmo mapa, com posicionamentos diferentes, progressivamente mais complexos, mas que ainda remetem ao mesmo mapa. Uma vez que o jogo exige o acúmulo de vitórias para desbloquear novas seções do catálogo do Terrortube, o jogador se vê obrigado a revisitar alguns filmes.

É compreensível que a Blue Wizard Digital tenha buscado adicionar mais valor agregado ao seu jogo. Talvez, alguns fãs mais nervosos tenham completado seus jogos anteriores rápido demais. Talvez eu tenha imposto a mim mesmo um ritmo muito rigoroso para tentar terminar Slayway Camp 2 antes de escrever a análise e ele não é esse tipo de jogo (ou eu não sou esse tipo de jogador). Minha recomendação seria: jogue, mas jogue com moderação. É o título perfeito para aquele intervalo depois do almoço, resolver dois ou três mapas, fechar e deixar a mente relaxar para o dia seguinte.

Slayaway Camp 2

O defeito real do jogo está nas animações. O estilo visual do jogo mudou bastante desde o primeiro título, que tinha uma estética mais voxelizada, enquanto esse aposta em algo diferente e mais polido. Não vejo problema nessa mudança. Entretanto, as animações de morte estão bem abaixo do frenesi de sangue executado em Friday the 13th Killer Puzzle. Imagino que o estúdio não possa reutilizar o que foi feito no jogo do Jason, porém as animações agora estão mornas, tímidas até para aquilo que o jogo se propõe. Ou seria uma imposição da Netflix, que buscou uma classificação indicativa mais suave, mesmo se tratando de uma celebração dos slashers? Jamais saberemos.

Felizmente, um dos grandes atrativos secundários da desenvolvedora se manteve: a escolha da trilha sonora. É um hard rock nervoso que remete demais aos filmes B dos anos 70 e 80.

Slayway Camp 2 acaba se tornando uma opção bastante divertida tanto para os fãs de terror quanto para aqueles que tem bom humor ou curtem um desafio cerebral rápido e feroz.

90 %


Prós:

🔺 Metalinguagem funciona como fio condutor
🔺 Novos assassinos, com novas habilidades
🔺 Trilha sonora segue afiada

Contras:

🔻 Acaba sendo repetitivo
🔻 Animações poderiam ser melhores

Ficha Técnica:

Lançamento: 28/10/24
Desenvolvedora: Blue Wizard Digital
Distribuidora: Blue Wizard Digital
Plataformas: Android, PC
Testado no: PC

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