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A desenvolvedora espanhola Nomada entrou no mercado de jogos eletrônicos com uma pedrada: o exuberante GRIS surpreendeu muita gente com uma poesia visual, que contava uma profunda jornada emocional sem usar palavras. A expectativa para o próximo trabalho do estúdio estava nas alturas e Neva não decepciona em nenhum aspecto.

O novo jogo da Nomada não abre mão das paisagens magníficas e do uso genial de cores do seu título de estreia, mas amadurece em outra direção e traz aqui aquilo que estava ausente lá: mecânicas de jogabilidade. Desta forma, Neva é muito mais desafiador que seu antecessor, sem perder a beleza.

Neva

O mundo precisa de heróis

O título conta a história de um mundo que está sendo consumido por uma podridão. A natureza está dando espaço para uma nova forma de vida sombria, uma gosma escura que possui os cadáveres dos antigos habitantes desse mundo mágico. Alba é uma guerreira que testemunha a chegada dessa praga, mas logo sofre uma profunda perda.

Agora, Alba tem apenas a companhia de Neva, o valente filhote de uma espécie de raposa gigante. Juntas, elas terão que atravessar as quatro estações, solucionar quatro mistérios, em busca de um novo lar longe de tudo. Sua relação e suas habilidades irão evoluir ao longo dessa epopeia.

Neva

Se a premissa de Neva é bastante básica, sua lógica é mais clara do que aquilo que tivemos em GRIS. O inimigo aqui é literalmente preto no branco, consumindo um mundo de diferentes cores. Mesmo assim, a jornada não é menos poética. Cada cenário dessa tragédia foi lindamente trabalhado e brinca com simetrias, contrastes e luzes, passeando por todas as variações do espectro. Os movimentos de Alba e Neva são fluidos e bem animados, o próprio design de personagens e criaturas transcende o trabalho anterior da Nomada Studio.

A esse apuro visual se soma um excelente trabalho musical, que se alterna entre faixas ambientais suaves até momentos orquestrais grandiloquentes que dão o tom de uma aventura maior do que a vida. Se não estava claro ainda o peso do desespero dessa fuga, é a trilha sonora que nos arrebata e nos aponta que há muito em jogo e a chance de nossa heroína é baixa.

Neva

Neva esbanja jogabilidades

Se havia um defeito em GRIS (e isso é questionável) era sua ausência de pressão. A jogabilidade de GRIS era suave, a possibilidade de falhar era quase nula e a morte não existia. A Nomada Studio adicionou peso e tensão a seu novo jogo, uma vez que Neva é recheado de combates e segmentos desafiadores de plataforma ou puzzle. São camadas e camadas de mecânicas que vão se tornando progressivamente mais complexas quanto mais Alba avança em sua fuga.

Se há um defeito em Neva (e isso é questionável) é seu excesso de pressão. Alguns desafios podem ser bastante frustrantes para quem pulou diretamente de GRIS em busca do novo trabalho do estúdio. Não chega a ser algo que exija precisão milimétrica, como o recente e igualmente belo Saviorless, mas é um salto significativo em relação ao quase puramente contemplativo GRIS.

Neva

Felizmente, Neva possui a opção de alterar a dificuldade em qualquer ponto do jogo. No modo História, os puzzles são simplificados e a vida se torna infinita, uma alternativa certamente criada para aqueles que desejam uma experiência mais próxima de GRIS. Por outro lado, ainda que não haja um modo mais difícil do que o modo normal, o jogador que desejar aumentar ainda mais seu desafio pode correr atrás de flores colecionáveis, sempre posicionadas em locações de difícil acesso.

Então, a Nomada Studio salta de mecânica em mecânica, adicionando elementos únicos para cada capítulo. Ora precisamos lidar com portais de teleporte que precisam ser incorporados a nossa movimentação. Ora precisamos reprogramar nosso cérebro para lidar com dimensões espelhadas. Ora a escuridão absoluta é um inimigo e a luz de Neva é nosso guia.

Neva

Lidar com tantas mudanças também pode ser frustrante, uma vez que algumas mecânicas inéditas são deliciosas, porém outras são estressantes e tudo que você deseja é que aquele trecho acabe logo e aquele truque nunca mais reapareça.

A terceira vez é a que vale?

Às vezes, menos é mais. Talvez no impulso de compensar a falta de mecânicas existentes em Gris, a Nomada Studio mostra a que veio, adicionando tudo que pode, sem nunca dar um norte exato para a forma como Neva deve ser jogado ou uma consistência tátil. É um jogo de plataforma? É um jogo de combate? É um jogo de puzzle?

Neva

Desta forma, Neva acaba se estendendo mais do que precisava. Os momentos de apreciar a beleza de suas paisagens se alternam muito rapidamente com momentos de tentativa e erro, de luta e derrota, o que acaba prejudicando o seu ritmo.

A Nomada Studio é certamente um estúdio para se continuar de olho, para se continuar acompanhando seus lançamentos. Eles estão muito próximos de lançar o jogo perfeito. Nessa tentativa de equilibrar poesia e mecânicas, eles seguem com títulos de encher os olhos. Seu terceiro jogo deverá ser magistral.

94 %


Prós:

🔺 Visualmente espetacular
🔺 Trilha arrebatadora
🔺 Mecânicas afiadas

Contras:

🔻 Pode ser ocasionalmente frustrante
🔻 Mecânicas demais

Ficha Técnica:

Lançamento: 15/10/24
Desenvolvedora: Nomada Studio
Distribuidora: Devolver Digital
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series, Switch
Testado no: PC