Quem cresceu com jogos de plataforma nutre um carinho especial pelas suas principais franquias e personagens até hoje. Títulos como Donkey Kong Country e Crash Bandicoot marcaram uma geração e permanecem sendo referências no que diz respeito ao gênero plataforma 2D e 3D, respectivamente. Contudo, é fato que desde o início dos anos 2000, não tivemos mais nenhum personagem inédito que conseguisse carregar esse legado como um novo fenômeno.
O lançamento de Astro Bot em setembro nos provou que ainda existem personagens cheios de potencial para carregar a tocha – mas as verdadeiras surpresas partem de títulos que descobrimos por acaso, como Nikoderiko: The Magical World. O jogo de estreia do estúdio VEA Games é uma verdadeira joia rara, misturando diversos elementos de franquias icônicas em uma aventura encantadora!
Renovando a nostalgia
Em nenhum momento a VEA Games escondeu suas influências, então jogar Nikoderiko: The Magical World é uma experiência nostálgica de muitas formas. O jogo é praticamente um sucessor espiritual de Donkey Kong Country (com destaque para os mais recentes, seguindo uma fórmula idêntica), ao mesmo tempo que se aproveita de elementos vistos em Crash Bandicoot 4 e Rayman Origins.
Neste jogo controlamos Niko e Luna, uma dupla de felinos exploradores que encontram um tesouro muito valioso. Contudo, ambos são surpreendidos pelo magnata Grimbald, líder da maior corporação local que está tomando conta de todo aquele ecossistema. O vilão rouba o tesouro dos protagonistas, os deixando sem escolha a não ser enfrentá-lo para salvar o reino animal de sua tirania capitalista.
Dividido em sete mundos diferentes, a campanha segue a mesma premissa de suas inspirações: temos um mapa bem animado e, a partir dali, vamos desbloqueando novas fases gradativamente. Os estágios são bem crocantes e cheios de conteúdo, apesar de manter um formato linear. Existem muitos caminhos secretos, fases bônus escondidas e colecionáveis para pegar em cada fase – incluindo as letras do nome de Niko, igualzinho em Donkey Kong Country.
O visual do jogo está incrível, seguindo o mesmo estilo de arte visto em Crash Bandicoot 4: It’s About Time, que claramente foi outra grande referência dos criadores. Tanto os cenários quanto os personagens são muito coloridos e bem animados, além de sermos contemplados com detalhes para todos os lados. A estrutura das fases também se assemelha à Crash 4, misturando 2D com 3D de uma forma bem natural.
Na maior parte do tempo, jogamos no estilo clássico em sidescroll 2.5D, mas também não é raro se deparar com trechos onde a câmera se posiciona atrás do personagem e ganhamos mais liberdade de movimentos dentro da fase. Graças a isso, as possibilidades são praticamente infinitas e você dificilmente vai enjoar do gameplay ao longo da campanha.
Aventura animal
Assim como em Crash 4, Nikoderiko: The Magical World permite ao jogador alternar entre Niko e Luna sempre que quiser. Ambos possuem as mesmas habilidades, então a diferença se limita somente à skin do personagem. O bom e velho co-op de sofá também está presente aqui, então ainda é possível se reunir a um amigo para encarar todas as fases em dupla, multiplicando a diversão!
Assim como todo jogo de plataforma, o foco de Nikoderiko não está no combate, então a dupla dispõe de apenas dois movimentos de ataque: uma deslizada e um pulo com impacto no chão. A ação de deslizar é bem útil para eliminar vários inimigos enfileirados em sequência, mas no geral, não gostei muito dela como principal forma de atacar. O personagem sempre avança muito para frente e isso por vezes pode ocasionar mortes desnecessárias.
Para auxiliar nesse aspecto, podemos contar com a ajuda de algumas montarias – sua própria versão dos “animal buddies” de Donkey Kong Country. Niko e Luna podem montar em criaturas como um sapo gigante, um crocodilo, um javali e muito mais; cada um traz suas próprias habilidades e facilita a exploração de um jeito diferente. Outra vantagem é que, através de um item, torna-se possível invocá-los em qualquer fase (desde que você tenha o item disponível em estoque).
Todas as fases são muito amplas em termos de segredos, então fazer 100% do jogo não é brincadeira. Logo nas primeiras, já é possível perceber que é fácil deixar várias coisas para trás, sendo necessário repeti-las muitas vezes. Além disso, a dificuldade vai aumentando gradativamente, se tornando realmente desafiadora em fases mais avançadas. Você vai se sentir jogando Donkey Kong Country: Tropical Freeze e Crash Bandicoot 4 novamente!
Para completar esse combo de acertos, a trilha musical do jogo é composta por ninguém menos que David Wise – o lendário compositor da velha Rare, autor das trilhas de Donkey Kong Country, Battletoads, Diddy Kong Racing e muito mais. As músicas de Nikoderiko: The Magical World têm a mesma energia dos jogos citados, com aquele clima pesado de aventura na selva.
Por fim, acho que vale apenas uma crítica à dublagem do jogo, que não tem uma participação muito consistente e, no geral, é meio forçada. As cutscenes animadas não possuem nenhum diálogo, então até me assustei quando os bonecos começaram a falar no mapa. O problema é que a dublagem forçou muito a barra para fazer Niko parecer descolado demais, então acaba ficando irritante. Nessas horas fica fácil entender o motivo de personagens como Mario e Crash serem mudos.
De qualquer forma, isso jamais tirará todo o brilho de Nikoderiko: The Magical World. Esse jogo é simplesmente incrível e surpreendente do início ao fim, combinando tudo de melhor que nossas franquias de plataforma preferidas oferecem. Torço muito para que esse título receba o reconhecimento que merece, para que dessa forma possamos usufruir de mais uma excelente série do gênero por bastante tempo.
Prós:
🔺 Combina o que há de melhor em jogos como Donkey Kong e Crash
🔺 Fases criativas e repletas de segredos
🔺 Mecânica de montarias foi implementada com maestria
🔺 Trilha musical do lendário David Wise
Contras:
🔻 A deslizada não é um ataque muito prático
🔻 A dublagem é bem forçada
Ficha Técnica:
Lançamento: 15/10/2024
Desenvolvedora: VEA Games
Distribuidora: MY.GAMES B.V.; Knights Peak
Plataformas: PS5, Xbox Series, Switch, PC
Testado no: PS5