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No começo era um bode. Quando a Coffee Stain Studios apresentou uma piada sobre um bode descontrolado destruindo cenários tridimensionais, uma piada que foi longe demais e acabou virando franquia, eles fundaram um gênero sem saber. É um gênero que não foi batizado ainda, porém poderíamos descrever como “bicho solto aprontando altas confusões em uma sandbox”. Uma definição que se encaixa como uma luva em Squirrel With a Gun.

Entretanto, esse gênero inusitado tem raízes mais profundas e pode-se rastreá-las até os ambientes urbanos de Tony Hawk, com seus objetivos quase impossíveis de serem alcançados e sua liberdade de explorar tanto horizontal quanto verticalmente. A desenvolvedora Dee Dee Creations mistura um pouco de tudo, há uma pitada de GTA nessa mistura, há uma pitada de I Am Fish e o resultado é uma experiência curta, menos anárquica que as aventuras do bode maluco, porém menos exigente que as aventuras daqueles peixes, e igualmente divertida.

Squirrel With a Gun

Ele tem uma arma!

De imediato, precisamos falar do elefante na sala. No caso, do esquilo. Esse esquilo está armado e ele é um perigo para a sociedade. Essa é a premissa que está no título do jogo: Squirrel With a Gun. A trama não vai muito além disso e, vamos ser honestos, nem seria necessário. Aqui, nosso felpudo protagonista é um esquilo como outro qualquer, que confunde um artefato guardado em uma instalação secreta do governo com uma noz gigante. Ele invade o local e manda o artefato goela abaixo. Eu quero entender que o artefato provocou uma alteração no animal, permitindo que ele use armas e até veículos ao longo da aventura, mas isso não fica claro e realmente não importa. Ele tem uma arma!

A partir daí, o esquilo tem um único objetivo na vida, que é rigorosamente o mesmo objetivo de sempre: conseguir o máximo de nozes possíveis. Depois de um tutorial em ambiente fechado, somos largados no mundo aberto. Não é o maior mundo aberto de todos, na verdade tem o tamanho de um mapa pequeno de Tony Hawk. Algumas nozes douradas estão em locais de difícil acesso, outras estão ocultas atrás de puzzles ambientais que precisam ser compreendidos e resolvidos.

Squirrel With a Gun

A questão da arma de fogo não é o ponto central do jogo. A mecânica de tiro é implementada de forma satisfatória, nem mais nem menos. A maior jogabilidade de Squirrel With Gun está, na verdade, na inteligência para solucionar o que precisa ser feito para desbloquear as nozes douradas e a habilidade de navegação, incluindo saltos precisos, para alcançar lugares absurdos. As eventuais trocas de tiros com os agentes do serviço secreto são menos importantes do que o uso sagaz das armas de fogo como uma espécie de pulo múltiplo para o esquilo.

Ainda no quesito arsenal, o jogo apresenta uma seleção limitada de armas. Não espere um GTA da vida, muito menos um Call of Duty. Estão ali as armas mais básicas: uma pistola, um revólver de seis tiros, uma submetralhadora, um lança-granadas, um lança-foguetes, um rifle de franco atirador. Felizmente, cada uma dessas armas foi muito bem trabalhada em suas peculiaridades e todas elas tem uma animação especial de finalização de inimigos, que nunca enjoa de ser ativada. O fator recuo é muito bem implementado, afinal, estamos falando de um animal de pequeno porte.

Squirrel With a Gun

Squirrel With a Gun sabe que é ridículo e não tem medo de ser ridículo

O humor do jogo é surreal e está presente em todos os detalhes. Há mini-histórias escondidas em quase todos os cantos, ainda que a desenvolvedora não utilize diálogo algum. Temos uma noiva em prantos porque seu noivo não aparece, enquanto o noivo está completamente embriagado largado no chão, depois de uma noite de farra. Temos transeuntes que se encantam com o esquilo e tentam tirar uma fotografia dele com seus smartphones. Temos diversas roupinhas e acessórios que podem ser desbloqueados para nosso personagem e que aumentam o seu charme (e que podem conceder habilidades especiais para tarefas específicas).

A cada exploração, mais partes do cenário são liberadas, com mais enigmas. Alguns desses mistérios podem ter mais de uma solução, algumas áreas podem ter mais de uma forma de serem acessadas. Nada é explicado explicitamente, mas existe uma lógica por trás das situações e tentativa e erro são estimulados. É possível jogar furtivamente, assim como é possível largar o dedo nos inimigos, de todas as formas possíveis.

Squirrel With a Gun

É um caos organizado. Existe uma sandbox, mas também existem objetivos a serem cumpridos. Mesmo que o jogador se perca e não entenda para onde ir a seguir, é possível subir em um mapa de bandeira e ter uma noção de onde estão os colecionáveis que estão faltando. Senti falta somente de um mapa global indicando que áreas já foram platinadas e onde ainda está faltando esse ou aquele item para conquistar.

Squirrel With a Gun não faz nenhuma concessão em termos de câmera. A sensibilidade é extrema, como convém a um esquilo nervoso, porém é facilmente ajustável. Ainda assim, o jogador terá que se acostumar a controlar um personagem minúsculo em terceira pessoa, muitas vezes com uma visão de cima para baixo. É uma das oportunidades que apenas os jogos eletrônicos podem nos oferecer: ser um esquilo. Armado.

Squirrel With a Gun

As árvores somos nozes

O maior defeito de Squirrel With a Gun é acabar. Por um lado, isso impede que sua fórmula simples se esgote, por outro lado, confesso que fiquei bastante surpreso com os créditos subindo depois do segundo(!) chefe. O relógio marcou menos de dez horas por aqui, mas admito que não sou muito bom de pulos, curto demais exploração e o primeiro chefe me consumiu mais de uma dúzia de tentativas para ser derrotado. Há registros de jogadores que fecharam a campanha em apenas três horas.

Esse tempo pode ser menor ainda, se lembrarmos que o sistema de checkpoint do jogo não é dos melhores. O salvamento automático antes de cada chefe é muito distante, seguido de lutas preliminares que levam ao combate propriamente dito. A Dee Dee Productions poderia criar um checkpoint na cara do gol mesmo. Em contrapartida, o salvamento manual não preserva o estado das alterações no jogo. Se você quebrou uma janela, eliminou alguns guardas ou ativou determinadas plataformas, salvar, sair e voltar, tudo retornará ao seu estado original. Se o jogo preservasse o seu impacto no mundo, ele seria ainda mais curto do que já é.

Squirrel With a Gun

Squirrel With a Gun também contém alguns bugs. Por padrão, ele não tem limitação de frames, então ele vai tentar extrair o máximo de sua placa de vídeo, inclusive no menu. Ative o vsync se não quiser provocar um consumo desnecessário de energia para obter uma quantidade de quadros que a visão humana nem registra. Com o bichinho é pequeno, pode acontecer da câmera ficar escondida atrás de uma parede ou pilastra. Em dois momentos, o jogo crashou por completo. A Física tem seus momentos bizarros, com inimigos flutuando no ar ou entrando no solo. São detalhes que tiram um pouco do brilho do jogo, mas que podem ser consertados com alguns patches.

Nosso zoológico de criaturas traquinas só aumenta. Squirrel With a Gun pede por uma continuação ou expansão e isso é um dos melhores elogios que um título pode receber.

90 %


Prós:

🔺 Puzzles divertidos de decifrar
🔺 Situações bizarras sem precisar de diálogos
🔺 Tem um esquilo armado, o que mais você precisa?

Contras:

🔻 Muito curto
🔻 Podia ter mais armas…
🔻 Contém bugs!
🔻 Checkpoints não são bem distribuídos

Ficha Técnica:

Lançamento: 29/08/24
Desenvolvedora: Dee Dee Creations
Distribuidora: Maximum Entertainment
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series
Testado no: PC