Com a recente chegada para Steam, a Square Enix proporcionou a oportunidade de testarmos Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin, lançado originalmente em 2022, para conferirmos a mistureba de referências que a Team Ninja entregou, num jogo frenético e com estilo próprio.
Depois de um ano, finalmente eu consigo entender diversas zoeiras em torno deste que prometia ser um Final Fantasy diferentão dentro da franquia. Realmente ele cumpre a sua proposta, mas entrega uma experiência agridoce e mais estranha do que agradável.
Senta que lá vem história? Não… Meme!
Normalmente começo meus reviews pela história, por ser a minha principal busca e foco em todos os jogos, mas neste caso vamos iniciar pela maneira como Stranger of Paradise constrói sua narrativa, entregando uma colcha de retalhos bagunçada e com elementos narrativos mal explorados.
Acompanhamos Jack, Ash e Jed, com a entrada de Neon, após o tutorial e acontecimentos iniciais no Santuário do Chaos, formando o lendário quarteto com os portadores dos cristais que salvarão o Reino de Cornelia. A partir de um primeiro plot twist, nós iniciamos uma jornada em busca dos quatro cristais elementares para purificá-los, enquanto tentamos descobrir o motivo por trás do clichê dos “protagonistas com amnésia”, que nos levará à restauração da paz e ordem para este mundo.
Criada por Tomoko Kanameki, famosa por adaptar Kingdom Hearts para o formato de light novel, temos um Final Fantasy versão “young adult” e simplista, quase cru, em como trabalha os personagens, que começa como trio e evolui para quinteto dentro de uma “lenda” sobre quatro heróis.
Desenvolvendo muito superficialmente, conhecemos suas motivações e como a autora tentou amarrar a construção do mundo com o vilão do jogo, teimando em manter referências com Final Fantasy I e buscando justificativas bobas na obra original para justificar suas referências.
Com diálogos pobres, personagens caricatos demais e com comportamentos muito forçados, cheios de marra e maneirismos dignos do pior tipo de anime, as sequências animadas são desinteressantes, cafonas e picotadas por fade-out, tendo a tela escurecida a cada movimento ou caminhar, para justificar vírgulas ou cortes na narrativa.
O protagonista, que mais parece um jovem “aborrecente”, precisa reforçar seu ódio pelo Chaos a cada frase, enquanto alguém ri, pigarreia ou bufa ao fundo. Com muitas viagens e trocas de cenários para movimentar a história, discursos melodramáticos surgem em grande número e são interrompidos por qualquer coisa, principalmente por atitudes bobas para justificar a personalidade dos quatro protagonistas e, em especial, Jack Garland.
Impressionante como a proposta em ser uma releitura do jogo que iniciou essa franquia conseguiu entregar uma história rasa, forçada e sem sentimento, que esquece em cativar o jogador e não consegue construir empatia pelo quarteto de heróis. Tudo acontece de maneira desconexa, sem muito sentido e apenas para pontuar o “sucesso” entre uma sequência de batalha e outra, do início ao fim.
Para minha infeliz surpresa, o mais legal em Stranger of Paradise foge completamente da fórmula que construiu a franquia, sempre oferecendo boas histórias e narrativas bem estruturadas, para ficar apenas em torno do fator hack and slash e violência do jogo. Ou seja, não incie este jogo esperando por conteúdo e sim apenas em gastar o dedo apertando botões de ataque e defesa.
Hack and Souls para tentar agradar a maioria
Desde sua apresentação durante a E3 2021, a Square Enix trabalhou na divulgação deste título como um lançamento do gênero Soulslike, mas tudo foi construído ao redor de uma experiência hack and slash frenético. Na tentativa de criar um “Dark Souls”, a Team Ninja se perdeu em sua própria experiência com Nioh, morrendo na praia ao entregar uma espécie de Devil May Cry com horas mecânicas interessantes para quebrar a mesmice.
Mais para um RPG de ação, sofrendo uma concorrência desleal por ter chegado na mesma semana de Elden Ring, Stranger of Paradise parece mais uma skin de Final Fantasy para Nioh. O mesmo sistema de loot, com hierarquia de raridade, a diversidade de armas para as mais de 20 classes que o seu personagem pode utilizar, além do combate ágil e sangrento, que oferece um sistema de bloqueio (parry) com um único botão para ataques físicos e mágicos, roubando a “habilidade” do inimigo para atacar de volta.
Infelizmente o jogo não é punitivo como um verdadeiro soulslike, inclusive com opções para alterarmos a dificuldade durante o jogo, além de retirar a barra de estamina e as penalidades ao morrer. Uma adição interessante fica por conta do sistema de postura, ao melhor estilo Sekiro, para você quebrar e finalizar seus inimigos com um ataque violento, conhecido como Soul Burst. Essa “finalização” em seu combo auxilia no aumento da barra de MP para Jack utilizar ainda mais habilidades especiais.
Com fases lineares e level design pobre, os desenvolvedores preferiram seguir um caminho mais seguro, pegando muito na mão dos jogadores, deixando o grande desafio para os chefões ao longo do caminho, além das batalhas principais para restaurar os quatro cristais elementais: vento, terra, fogo e água.
Acredito que o principal fator que contribui para o combate ser o ponto alto deste jogo fica por conta das classes. Ao todo são 28 “Jobs”, divididos entre Basic Advanced e Expert, começando com opções para Swordsmen, Duelist, Swordfighter, Pugilist, Marauder, Ronin, Lancer e Mage, você pode conquistar pontos de experiência para gastar em sua árvore de habilidades.
Liberando melhorias, técnicas e novas classes, de Jack e demais integrantes da party, você terá muito loot para analisar e construir sua build para cada Job, além de se preocupar em também melhorar os equipamentos e testar muitas armas para definir um estilo de combate preferido. Utilizando apenas um botão, você consegue trocar entre duas classes durante a porradaria, aumentando ainda mais as possibilidades para as batalhas.
Um Final Fantasy minimamente competente
Mesmo oferecendo personagens desinteressantes, você conta com uma equipe de até três personagens, tendo sempre dois companheiros e que oferecerão suporte com uma IA bem trabalhada. Caso prefira, os jogadores poderão optar pelo modo multiplayer online para jogar em partidas de até três pessoas ao mesmo tempo e, para a minha surpresa, com o partilhamento do progresso, intens e experiência realizado igualmente para todos!
Em meio à salada de sentimentos, a trilha sonora continua impecável e oferece fanservice para quem acompanhia a franquia ou jogou o primeiro Final Fantasy, porém acredito que o visual do jogo fica muito abaixo do normal e parece uma versão piorada do que tivemos em Final Fantasy XV, que saiu há sete anos. Felizmente o jogo possui uma excelente otimização para PC e roda liso, sem problemas na execução ou em sequências de luta com muita informação na tela.
Mesmo sendo um jogo divertido de ser jogado, apenas pelo desafio dos combates, o aniversário de 35 anos da franquia merecia algo melhor. No fim, a impressão que fica é quase a que tivemos com Metal Gear Rising, em que você não consegue identificar o jogo que esperava.
O gostinho agridoce e a sensação de estranheza são gigantescas ao perceber que os desenvolvedores Stranger of Paradise criaram um Final Fantasy que tenta seguir os passos de qualquer um dos sucessos Team Ninja, mas que se perde no meio do caminho e terminou aceitando ser uma espécie de Lords of the Fallen apenas para tentar ser chamado de “soulslike”.