No aniversário de 20 anos, a Bandai Namco lança Tales of Symphonia Remastered para a nova geração de consoles em uma edição simples e preguiçosa, para um jogo que merece muito mais atenção e cuidado.
Gostaria de ressaltar que este review é focado nesta nova versão remasterizada que, além da versão original para Game Cube, já teve edições anteriores para PS2 e PS3. Este aviso inicial reitera a minha decepção em ver mais do mesmo, desperdiçando uma boa oportunidade para um remake.
Uma edição incompleta
Ao analisar qualquer jogo eu normalmente começo pela história, porém quebrarei essa regra para trazer a discussão sobre Tales of Symphonia Remastered ser uma edição inferior ao que as gerações anteriores receberam. Vamos ao triste relato das diferenças negativas.
Este lançamento de 2023 chega sem oferecer suporte a 60 fps, igual ao original para Game Cube, não trouxe a continuação Tales of Symphonia: Dawn of the New World lançada para Wii em 2008 e que tinha na edição Tales of Symphonia Chronicles de PS3, e nem as melhorias trazidas pela comunidade com a versão de PC que saiu em 2014.
A promessa de retrabalharem o visual do jogo se resume apenas num trabalho de upscaling por inteligência artifical, se apoiando no poder gráfico do PS4 e a resolução em 1080, mas claramente com texturas que não foram retrabalhadas.
Essa diferença no visual fica ainda mais clara quando vemos o maravilhoso trabalho da Retro Studios com Metroid Prime Remastered, que também saiu para Game Cube há 20 anos, deixando Tales of Symphonia Remastered no chinelo. Isso sem contar a simplificação nas transições de cenas para batalhas, que deixaram de ter o mesmo cuidado das versões anteriores, de vidro se quebrando ou fade-out para cortes secos.
Prepare-se para se contentar apenas com uma resolução atualizada (não refeita) e com os mesmos conteúdos já lançados anteriormente, trazendo apenas o conteúdo do Unisonant Pack, DLC que saiu apenas no Japão, a função para pular algumas cenas e diálogos, e a opção de ter ambos os temas de Starry Heavens e And Thus, I Can Do It, com os arranjos originais e a versão de 2013.
Clássicos que continuam excelentes
Com um elenco carismático, embarcamos numa jornada por Sylvarant, um mundo mágico que está morrendo pelo uso excessivo de Mana pelos Desians, a raça inimiga dos humanos. Tales of Symphonia Remastered ainda consegue se destacar pela narrativa e jornada que constrói em torno de uma temática já desgastada hoje em dia.
Acompanhamos as aventuras de Lloyd Irving, órfão criado pelo anão Dirk, Collete Brunel, a escolhida pela deusa Martel, e Genis Sage, um mago meio-elfo e que acaba sendo exilado da vila de Iselia, se juntando aos outros dois na Jornada de Regeneração, a principal missão do nosso trio de protagonistas para salvar e reestabelecer o equilíbrio de Sylvarant.
Como Escolhida para a Regeneração deste mundo, os personagens rumam para a Torre da Salvação, enquanto desperta os espíritos adormecidos. Como pano de fundo temos uma trama que envolve o conflito entre humanos e Desians, com outras raças que sofrem com questões relacionadas aos conflitos sociais e ideológico desta raça superior misteriosa.
Ao longo da aventura conhecemos um elenco muito carismático, com diversos personagens que farão parte dessa história e que apresentarão diversas conexões que também reservarão boas reviravoltas, com revelações e traições ao longo de mais de 50 horas de jogo.
Sem spoilers, até mesmo para justificar o seu investimento neste edição incompleta à preço cheio, prepare-se para se surpreender com quem é o principal vilão e chefe final do jogo, o misterioso Kratos Aurion e sua ligação com Lloyd, Mithos e sua ligação com Genis e Collete, a importância de Rainge Sage para sua raça, a irmã de Genis, as revelações ao redor da deusa Martel e, por fim, os Cruxis e a religião por trás desse grupo.
Não posso deixar de citar a revelação de Tethe’alla, um segundo mundo que você descobrirá ao longo do jogo e sua importância para uma antiga guerra e a questão relacionada ao vilão do jogo. Essa misteriosa terra nos apresentará Zelos Wilder, o Escolhido dessa região, assim como Collete, além de Sheena Fujibayashi e do presidiário Regal Bryant, com suas misteriosas missões, ao lado de sua irmã, Presea Combatir, uma jovem e misteriosa lenhadora.
Tales of Symphonia Remastered, mesmo chegando sem justificativa alguma para a nova geração e apenas através da retrocompatibilidade para PS5 e XBox Series, brilha pelo excelente conteúdo e história. Personagens interessantíssimos e com muita profundidade, agregando uma vasta mitologia capaz de fazer você se apaixonar e iniciar na franquia Tales Of.
Jogabilidade simples, mas que envelheceu mal
A antiga novidade conhecida como Linear Motion Battle System, que apresenta um plano 3D com um combate baseado na movimentação 2D se assemelha aos títulos beat ‘em up, com o jogador controlando um personagem e os outros três sendo controlados por IA ou com apoio cooperativo local, afinal o Game Cube tinha quatro portas para controles e nem isso a Bandai Namco conseguiu resolver até hoje.
Você também tem os Unison Attack, como ataques especiais dos seus personagens, e que podem ser combinados em um Compound Special Attack, além dos Overlimit, que funciona quase como um modo berserk, após certa quantidade de golpes sofridos. Infelizmente, depois das melhorias trazidas para o combate na Edição Definitiva de Tales of Vesperia, Symphonia fica com aquela sensação de que poderia ter evoluído.
Já que o combate não oferece muito desafio, a parte mais legal de enfrentar seus inimigos fica pelo nível dos seus personagens e o uso das gemas, que poderão ser compradas ou customizadas através das Grades, sua pontuação por performance em combate, além da busca pelos títulos que você conquista com certos níveis ou missões.
Felizmente Tales of Symphonia Remastered carregará o sucesso e histórico positivo que o jogo possui, seja pelo conteúdo ou como porta de entrada, que oferece até mesmo uma adaptação para animação. Iniciar essa jornada de Lloyd, Collete e Genis será um mix de sentimentos e uma crescente somente com boas experiências.
Na minha opinião adquirir qualquer jogo da franquia Tales Of justifica qualquer investimento, mas em nada justifica a falta de comprometimento da Bandai Namco com os fãs, trazendo uma edição vazia de conteúdo inédito ou até mesmo melhorias reais para justificar esse lançamento, queimando a oportunidade de termos um remake nos níveis de Berseria ou Arise.