Impossível ter contato com One Piece e não ir se apaixonando pelo animê. A série criada por Eiichiro Oda já quebrou diversos recordes e a cada ano conquista novos fãs para sua multidão de fanáticos. Claro que tudo isso não poderia ficar longe dos consoles, que agora chega em um novo título inovador. Após quase 50 jogos lançados até hoje, a Bandai Namco chega com a primeira proposta de mundo aberto para você explorar controlando Monkey D. Luffy.
Importante notar que, além de se ter todo um lado voltado para fãs, o próprio autor escreveu essa história. Assim como as demais obras que seguem ao redor do animê, esta possui uma estrutura reconhecível e, por existir dentro de um universo já consolidado, está envolto de limitações. Talvez esteja longe de ser o jogo do ano, mas a diversão com certeza é garantida.
Gomu gomu no…
Para começar, aqui você está no controle de Luffy. Para alguns, principalmente os fãs mais fervorosos como eu, isso já era um grande motivo de comprar este jogo. Você não só controlará o herói e capitão dos Mugiwara (Chapéus de Palha) como terá uma história totalmente nova em um local inédito para explorar. Quase como a jornada pelo East Blue em que o Log Pose leva você e a tripulação para um ambiente totalmente desconhecido. Esse é o sentimento que existe aqui: você deu play em mais um episódio da série. Ou melhor, Oda se preocupou em criar uma estrutura muito próxima dos filmes mais recentes (Gold e Z), com um vilão badass e sequências de luta bem trabalhadas. Quase como um filme interativo, One Piece: World Seeker tenta recriar uma aventura épica… pois é, ele apenas tenta.
No jogo você já começa dentro da Ilha da Prisão (Prison Island), em que as personagens vão sendo apresentados um a um em situações diferentes, porém todos com um único objetivo: entrar no cofre que existe dentro de uma das prisões sob comando do Governo Mundial, protegido pela Marinha. Após Nami perceber que tudo não passa de uma cilada para os Chapéus de Palha, Luffy consegue se soltar das garras da guarda e enfrenta o vilão do jogo: Isaac, o antagonista da história e também um dos oficiais de alta patente responsável pelo controle e ordem da Prison Island.
Claro que nesta mesma ilha encontraremos diversos inimigos, aliados e outras personagens importantes do universo de One Piece. Alguns, como os generais e almirantes ou até mesmo o Buggy, não fazem muito sentido estarem nesta obra, principalmente se pararmos para analisar que esse trecho da história deve estar situado próximo à Dressrosa, um dos arcos mais recentes da série.
Como comentei no início deste review, a estrutura da história de World Seeker é muito semelhante aos filmes da franquia. Um começo empolgante mostrando alguma situação que vai expor os heróis e mostrar o vilão, sempre com o apoio de algum personagem local e exclusivo da obra, que nesse caso é Jeanne, a líder de uma facção Anti-Marinha. Durante o desenrolar da narrativa, o passado da ilha será um dos apoios e motivação para nortear a história de Jeanne e Isaac, colocando Luffy e as demais personagens no centro desse conflito de ações e emoções.
One Piece, assim como em sua animação e mangá, investe no emocional para fortalecer os laços que surgem durante a história, tendo neste jogo mais ou menos 20 horas para trabalhar a profundidade necessária para suas personagens. No fim tudo se explica, inclusive as aparições de outras personagens que não estão centradas no conflito principal e até mesmo o motivo dessa ilha ser um território importante para o Governo Mundial, afinal, as revelações finais envolvem até Mary Geoise (Marijoa) e a capital militar acaba entrando nesse rolo todo!
A kairoseki da Bandai
Por melhor que a história seja, esse título de One Piece acabou sendo atingido por uma kairoseki das grandes. Kai o que? Kairoseki é quase como uma kryptonita para os seres de One Piece que comeram as Akuma no Mi, as Frutas do Diabo que concedem poderes extraordinários. Luffy, por exemplo, comeu a Gomu Gomu no Mi e passou a ser um homem borracha. No entanto, todas as frutas fazem com que esses seres não consigam mais entrar no mar e até mesmo sofram ainda mais danos quando são atingidos por alguma Kairoseki – uma pedra marítima utilizada como arma ou até em ferramentas para aprisionamento.
Em World Seeker, a Bandai Namco acabou se aventurando por um mar onde não tinha tanto conhecimento ou certeza de que One Piece conseguisse se adaptar muito bem. No fim, acabou tomando um tiro de kairoseki e quase fez com que o jogo fosse um completo desastre. Tudo isso porque a Ganbarion desenvolveu um jogo de mundo aberto, porém esqueceu de transportar os conceitos dessa liberdade da geração passada para a atual.
Você terá um grande território para explorar e fazer as missões que desejar, além da linha principal, que conduz toda a narrativa do jogo, porém é muito simples e repetitivo, sem contar que tudo é bem distante no mapa. Até surgirem os pontos de fast travel, você precisará ficar cruzando grandes áreas para encontrar uma personagem, entregar um item ou ativar uma sequência de eventos, porém nada muito interessante – até que o jogo realmente engrene e deixe de socar atividades bobas goela abaixo.
Entre uma missão e outra, você encontrará muitos coletáveis pelo caminho. O problema é que eles não são muito relevantes para o jogo ou pior: eles não vão fazer muita diferença para a sua progressão. Se você for um maluco por visitar todos os pontos sinalizados pelo mapa, então prepare-se para investir muitas horas (e talvez gratuitamente, sem muita recompensa) neste amplo espaço de terra.
Ainda sobre “coisas sem sentido”, as opções de Haki existentes no jogo não fizeram tanta diferença para mim durante a jogabilidade. Derrotar um inimigo com o Haki da Observação e do Armamento não teve muita diferença; um focado mais no combate, com ataques mais pesados e transformando Luffy em um tanque e o outro com maior foco na exploração, com movimentos mais rápidos. Isso sem contar que a troca entre os dois estilos de luta tem um certo delay e exige que a sua personagem esteja parado (algo que talvez mude com algum patch). Os chefões exigem um pouco mais de estratégia, incluindo essa mudança de postura, porém os demais inimigos não precisam de muito esforço para serem derrotados.
Sua personagem contará com uma árvore de habilidades, o que não faz muito sentido se você tem o Haki a seu favor e equipado desde o início. Deixando de lado essa análise mais técnica, é muito gratificante ter liberdade para aplicar os principais golpes de Luffy. No começo do jogo eu vibrava a cada Gomu Gomu no Gattling ou Pistol, porém depois de cinco ou seis horas a graça acabava diminuindo e eu partia para cima do inimigo de maneira mais automática, só querendo avançar até onde eu precisava para ver a história continuar.
O que me surpreendeu foi ver uma tentativa dos desenvolvedores em aplicar um estilo de exploração que lembrou muito o recente Marvel’s Spider-Man. Utilizando a elasticidade de Luffy e os gatilhos do controle, você consegue (com certa limitação) se esticar agarrando as beiradas das casas e prédios para se balançar pelos ambientes, ou até mesmo utilizar a Gear Fourth (liberada em sua árvore de habilidades) para sobrevoar certas áreas – mas se demorar muito até lá, você pode optar pela habilidade que faz Luffy parecer um helicóptero, girando suas pernas a ponto de sair voando por aí.
O que realmente não faz sentido foi o esforço dos desenvolvedores em disponibilizar duas mecânicas que fazem menos sentido ainda. Uma delas é você precisar segurar um botão por um tempo maior e desnecessário para abrir um baú, sendo que poderia ser igual a pegar um item encontrado no chão, simplesmente apertando o botão. Além disso, por qual motivo colocaram um ataque à distância para Luffy, sendo que eu não posso ficar realmente muito longe dos inimigos? Ter uma mira e um ataque carregado para se aproximar de um inimigo ou não conseguir ficar facilmente na beirada de um prédio para atacar realmente não faz sentido. Essas duas questões parecem estarem no jogo por falta de atenção ou refinamento.
Uuuuuuuh! Ohhhhhh!
Além da história cativante e muito bem construída (afinal foi feita pelo próprio Eiichiro Oda), o jogo é muito bonito. As paisagens da Prison Island são muito bem feitas, coloridas e extremamente detalhistas, mostrando um cuidado que beira ao que vemos no animê. As personagens estão bem animadas e a movimentação é fluída, com seus corpos mexendo e reagindo à fatores externos de maneira impressionante. Luffy, por exemplo, está num nível de detalhes incrível, a ponto de notarmos seu corpo mole e cada parte dele reagindo ao lançar seu braço para longe.
O mesmo acontece quando utilizamos algum golpe especial com o Haki do Armamento ativado como, por exemplo, o Gomu Gomu no Elefant Gun, sendo extremamente gratificante – a animação dessa sequência faz parecer que estamos dentro do animê! Os demais companheiros dele acabam sendo NPCs que possuem um papel importante dentro da história, mas que em momento algum estão em níveis inferiores de animação ou detalhismo. O mesmo vale para as demais personagens que enfrentamos e encontramos durante a história.
Já que a base é o animê, a trilha sonora não ficaria atrás da qualidade visual. Músicas que empolgam e acompanham essa aventura pirata, sem perder em nada para a qualidade do que temos das famosas músicas que tocam desde 1998 nas animações. O trabalho de Kohei Tanaka impressiona e faz com que todas as suas composições se encaixem perfeitamente, inclusive não saindo da cabeça tão facilmente.
É prazeroso andar por Prison Island, ver de perto o tamanho imenso do Sunny, controlar Luffy e encontrar seus amigos. Viver essa história e ver o desenrolar da narrativa para se surpreender com Jeanne e Isaac, além do passado da ilha e sua relação com o Governo Mundial é muito gratificante. O problema é que, para ver tudo isso, é necessário paciência para enfrentar um jogo que acaba sendo repetitivo demais e com certas limitações em seu game design, mas que compensam em todos os outros aspectos. Agora, se você for fã da série, este é um título obrigatório, então prepare-se para acompanhar Luffy e os Chapéus de Palha até que Wano chegue!