Tradicionalmente, jogos baseados em filmes são bem ruins. O ponto mais apontado pela crítica para esta pouca qualidade é o tempo de produção, que normalmente é apertado para que o game saia na mesma época de lançamento da película, e a linearidade de uma história que, também normalmente, tenta seguir à risca o que vemos na telona do cinema. Tron: Evolution não foge muito desta regra, excetuando o fator história, já que o que temos aqui é um prelúdio para Tron: Legacy, continuação do primeiro Tron, lançado no já longínquo 1982.
Tron: Evolution coloca o jogador na pele de um programa de monitoramento criado por Flynn (Jeff Bridges) para averiguar problemas no Grid, o mundo virtual computacional do filme. Para quem nunca assistiu Tron, o filme se passa quase todo neste mundo, que conta com uma estrutura social composta por programas representados na figura de humanos usando roupas com detalhes em neon.
Os problemas começam quando Clu, clone criado por Flynn para trabalhar a favor do Grid, passa a considerar que os ISOs, programas gerados sem a interferência dos usuários, são, na realidade, vírus e devem ser destruídos. Mas os ISOs, na visão de Flynn e Tron, são nada mais do que a evolução dos programas presentes no Grid. Desta forma, Clu cria um verdadeiro exército para tomar o Grid para si e subjulgar seu criador Flynn e o próprio Tron, o programa de segurança que salvou o Grid da ditadura do Master Control no primeiro filme.
A partir daí o jogador passa a ajudar Flynn na missão de parar Clu e seu exército e retomar o equilíbrio no Grid. Na história também entra Quorra, uma ISO que resolve lutar e que é considerada por Flynn uma das últimas esperanças para a paz no Grid. Ela vira uma parceira do personagem do jogador em diversas ocasiões do game, funcionando mais como uma guia do que propriamente atuando dentro da jogabilidade.
A história foi introduzida e posso dizer que ela é até bem convincente. A parte ruim é que ela é provavelmente a melhor parte de Tron: Evolution. O jogo em si é uma espécie de mistura entre Prince of Persia e Mirror’s Edge que não dá muito certo. Parece até que a Disney, produtora do jogo e também do filme Prince of Persia, combinou com a Ubisoft para usar toda a parte acrobática dos últimos Prince of Persia em Tron: Evolution, mas acabou não seguindo direito o manual de instruções.
O grande problema é que os controles são ruins e não respondem bem. Às vezes você está correndo numa parede e precisa pular até outra, mas na hora que pressiona o pulo no finalzinho da parede o personagem não pula, cai no espaço vazio e é desintegrado. Para piorar, a câmera também não ajuda. Você pode estar olhando para a plataforma que quer chegar, corre e pega impulso para pular, mas pouco antes do pulo a câmera dá um giro e você acaba pulando para outra direção e morrendo novamente. E isso acontece muito. Acaba virando quase um exercício de tentativa e erro.
Estas partes acrobáticas normalmente não contam com muitos inimigos, eles aparecem mais em espaços determinados como salas fechadas e grandes plataformas que tomam jeitão de arena de luta. E nesta segunda parte, mais uma vez, a jogabilidade falha. A ação de Evolution passa para lutas bem sem graça contra inimigos que variam pouco entre si. Você pode usar golpes de corpo e também com o disco, que recebe até quatro variações de poderes dependendo da evolução e dos upgrades comprados com pontos de experiência. Mas os combos são simples e repetitivos, e as lutas, por vezes, tornam-se confusas contra muitos inimigos, com você distribuindo golpes e especiais a esmo que acabam pegando nos adversários e derrubando-os sem que você pense muito para isso. E ainda temos os problemas de controle e câmera que prejudicam ainda mais.
O jogo também oferece situações onde você vai dirigir as light cycles, motos que deixam o rastro de neon por onde passam e que se tornaram um dos grandes ícones de Tron. Mas, infelizmente, estas partes são bem ruins, e isso se deve ao fato do controle piorar ainda mais neste modo de corrida. Mover o veículo para o lado enquanto acelera é um sacrifício e quase sempre acaba com a moto chocando-se contra alguma parede. Engraçado é que foi exatamente com a light cycles que a Disney resolveu aplicar o PlayStation Move no jogo. A única coisa que posso falar depois de testar é que ele simplesmente não funciona e você vai querer voltar pro DualShock apesar dos problemas.
O game ainda conta com curtos momentos em que você pilota tanques e deve avançar atirando em quase tudo que vê pela frente, seja exércitos humanóides de Clu, outros tanques ou naves. Mas, novamente, a câmera atrapalha e os controles lentos acabam irritando.
Tron: Evolution conta também com um multiplayer online com alguns modos até interessantes de jogo. Surpreendentemente, existe até um bom número de jogadores na comunidade online de Evolution e o multiplayer é bem resolvido e divertido. O problema mais uma vez recai para o gameplay fraco do título, com seus problemas de controle e câmera que já foram citados diversas vezes neste texto.
Nos quesitos técnicos, Evolution conta com uma trilha que passou quase que despercebida pra mim e gráficos bem nada de mais, que abusam do neon e de uma estética de cenários e personagens que não muda em todo o decorrer das cerca de cinco horas de jogo. Bizarro é o trabalho nos rostos durante das CGs, que deixa até Quorra, interpretada por Olivia Wilde, a Número 13 do seriado House, com aspecto estranho. Deixaram Olivia Wilde feia! E isso é um ponto pra lá de negativo.
Analisando tudo isso, realmente não dá para indicar Tron: Evolution. É bom deixar claro que o jogo não é péssimo, mas a quantidade de falhas somadas é muito grande para ignorar. Pode até funcionar como fanservice, já que complementa legal a história do segundo filme, mas como jogo, melhor ficar nos Prince of Persia e Mirror’s Edge mesmo.