Rapture Rejects foi, para mim, o grande destaque da PC Gaming Show da última E3. Não teve para grandes medalhões, não teve para continuações, não teve para ninguém. O hilário trailer apresentado no evento prometia um jogo que iria sacudir a sisudez do gênero Battle Royale com o humor ácido de Cyanide & Happiness.
Imediatamente, deixei registrado que queria analisar o jogo e fiquei esperando.
A premissa é o mais puro manjar de coco: o Arrebatamento cristão é real, aconteceu, mas você sobrou em uma Terra repleta de rejeitados. Agora, esses rejeitados devem se matar e o último que sobreviver irá ganhar um passe liberado para o Paraíso. Está explicado ao mesmo tempo porque só tem psicopata no jogo, porque eles estão se caçando e porque tem uma cortina de fogo infernal fechando o mapa.
Além do humor agressivo, outra novidade de Rapture Rejects era a perspectiva isométrica, com visual cartunesco. Em um gênero saturado por armas hiper-realistas, gráficos que buscam reproduzir cada reflexo da luz do sol e cada textura de poeira da paisagem, o título da Explosm Games vai na contramão em prol da diversão. É uma abordagem mais ou menos parecida com a de Fortnite, mas a Epic Games não entrou em modo “full retard”.
Diante da ansiedade, aproveitei a primeira oportunidade que tive de jogar Rapture Rejects: um Free Weekend no Steam, com tudo liberado para todo mundo. Apesar do jogo ainda estar em Early Access, é estável e livre de bugs e consegui conferir o que ele tem a oferecer.
Por enquanto, há apenas um mapa, relativamente pequeno para os 50 jogadores por partida com os quais a Explosm Games sonha. Entretanto, ele se revelou na medida certa para acrescentar suspense em partidas que não chegavam a ter 20 participantes, mesmo sendo oferecido de graça.
Há tantas opções de personalização de seu avatar que é impossível não perder um tempinho brincando com elas. Nesse ponto, é mais palpável a influência de Cyanide & Happiness, com personagens hilários e combinações impensáveis em outros jogos, como ter peitos e um “volume” entre as pernas ao mesmo tempo.
O clima de zueira reaparece nas armas, que podem disparar lixo, CDs velhos, lápis apontados e outras tranqueiras, e nos itens utilizáveis, que incluem birita e um disfarce de lata de lixo.
Infelizmente, acaba aí o humor, em um título que sequer conta sua premissa. O lobby, por exemplo, é um cercadinho de caixas onde os jogadores podem ficar se socando. Esperava mais humor negro, mais contexto, e a piada se esgota bem rápido.
A jogabilidade lembra os “twin-stick shooters”, no sentido em que é possível se movimentar em uma direção e atirar em outra. Entretanto, é necessária mais tática do que agilidade em Rapture Rejects, porque os projéteis disparados são lentos e, dependendo da arma, tem um alcance bem curto. Os embates tendem a se tornar confusas e violentas trocas de tiro quase que à queima-roupa. Por outro lado, com um campo de visão limitado, é preciso mudar a câmera constantemente para não ser surpreendido por um inimigo sorrateiro.
E lá se foi a última vez que me diverti com Rapture Rejects.
Acabou o Free Weekend, desinstalei. Aí chegou minha chave de avaliação. “Ótimo, vou poder voltar ao jogo”, pensei, já avaliando que aparência bizarra meu avatar passaria a utilizar.
Entretanto, quase duas semanas depois, não encontro partida. Seleciono o servidor da América do Sul, aperto para procurar e nada. Em diferentes dias, diferentes horários, simplesmente não há gente o suficiente jogando. Segundo dados oficiais da página do Steam, em todos esses momentos havia um total de 20-30 jogadores disponíveis no mundo todo. Se fosse possível reunir toda essa galera da Ásia, América do Sul, América do Norte, Europa e os carinhas da Austrália/Oceania, ainda assim não daria uma partida de 50.
Seria a barreira do preço? Certamente. Cobrar quase quarenta reais por um jogo que não chega a ter um 1GB de conteúdo em um mercado saturado de battle royales é uma muralha que muitos olham com desconfiança.
Por conta disso, sequer tenho telas capturadas que não sejam de personalização ou essa aqui abaixo: o vexaminoso momento em que o jogo me colocou em um lobby vazio, à espera de jogadores que nunca vieram.
Cabe ao analista entusiasmado o terrível dilema: enfatizar que o jogo está abandonado e condená-lo a não ter novos jogadores, ou insistir que o jogo é divertido e atrair novos jogadores para uma possível arapuca? Com um bilhete carimbado para o Inferno e sem vaga no Arrebatamento, eu insisto: Rapture Rejects não merece sua rejeição.