Deve ser a pandemia. Depois de de mais de um ano sem pegar um ônibus, trancado dentro de casa, a perspectiva de analisar The Bus se acendeu como uma luz na minha cabeça. Um simulador de ônibus? Sim, um simulador de ônibus. Na verdade, um entre muitos, só para ficarmos no catálogo da própria desenvolvedora TML-Studios. Ainda assim, eu queria testar, na expectativa de que seria uma experiência relaxante, longe da pressão de enfrentar alienígenas, coletar recursos, pular plataformas ou qualquer outra atividade que os jogos nos proporcionam. Eu queria pegar um ônibus e dirigir pelas ruas. É isso.
Pois é exatamente isso que The Bus entrega, sem tirar nem por. O jogo exclusivo de PCs está ainda em Acesso Antecipado, o que é uma forma elegante e transparente de se dizer que falta muita coisa para ele ficar pronto. Tipo, muito mesmo. O ônibus tem rodas e anda, então é tudo que importa nesse momento.
Coé, piloto? Vai descer!
Para quem deseja uma experiência maior, porém, ele pode decepcionar no atual estado. O jogo por enquanto conta com apenas dois veículos articulados e a mesma rota, ida e volta. O sistema de pagamento de passagens está quebrado ou eu não entendi, já que o título também não tem tutorial. O editor de rotas também está na promessa, assim como o multiplayer.
Visualmente, há texturas faltando ou de péssima qualidade e as sombras são esquisitas. Tampouco estranhe os passageiros e pedestres que não piscam e seus múltiplos clones que povoam essa Berlim digital. O som do motor do ônibus na visão externa é insuportável, parece algo que nem os empresários brasileiros colocariam nas ruas.
Eu sei que não dá para ser exigente com The Bus agora. Está escrito em letras garrafais na abertura que se trata de um alpha. Entretanto, é importante lembrar que a desenvolvedora não é amadora, tem vários simuladores em seu currículo e deveríamos imaginar que, em pleno 2021, eles já tivessem algum material já pronto, como modelos melhores de pessoas ou texturas.
Esse ônibus passa em Cascadura?
Por outro lado, a experiência de se dirigir o ônibus é realmente muito relaxante. Os amantes de simulação não devem se decepcionar com as múltiplas teclas que permitem que você controle tudo à bordo, desde a temperatura do ar-condicionado até as luzes internas ou a rampa para cadeirantes. Infelizmente, a maioria desses recursos, se não todos, são puramente cosméticos e não afetam em nada a jogabilidade (apenas sua imersão).
Da mesma forma, tanto faz como tanto fez se você obedece às leis do trânsito ou não. Em nome da ciência das análises, eu colidi com o carro da polícia, capotei o ônibus e tirei um caminhão da pista, sem maiores consequências. Não há pontos, não há cronômetros, não há multas ou penalidades, então, se você quiser transformar The Bus em seu GTA particular, a decisão é sua. Também é possível largar o veículo na rua e seguir a pé, turistando na belíssima capital alemã, sem que seus passageiros movam um músculo ou reclamem.
Se você prefere uma experiência mais próxima do arcade, sem preocupações com marchas ou outros aspectos mecânicos, The Bus também entrega. Apesar de ainda estar bastante cru, o jogo permite customizar sua jogabilidade com várias opções que podem ser ajustadas para modo automático. Também é possível escolher o horário do dia, o que afeta a iluminação e o trânsito, assim como o clima local. A chuva é muito bem executada em The Bus, talvez até melhor que o Sol ofuscante em alguns momentos.
Curta o passeio de The Bus e fale ao motorista somente o necessário
O jogo conta com duas rádios online que funcionam de verdade, que são administradas pela própria TML-Studios. A primeira tem uma pegada de hip-hop, enquanto a segunda preza pelo europop e eurodance, que eu achei mais adequada para o cenário. A seleção é surpreendentemente boa, considerando-se que esse não é o foco da empresa.
Se você sempre sonhou em passear pelas ruas de Berlim, sem pressa, respeitando os sinais e os limites de velocidade, embarcando e desembarcando passageiros, enquanto houve uma música agradável, então você é uma pessoa bem estranha. Caso contrário, é uma experiência que vale a pena conhecer assim mesmo.