Certos jogos tem o poder de transportar o jogador e alterar seu raciocínio no dia a dia. Ainda lembro da primeira vez em que joguei Portal e passei um bom tempo dos meus dias pensando em quais superfícies brancas eu abriria portais. O jogo de plataformas Octahedron, desenvolvido pelo estúdio de uma pessoa só Demimonde, e publicado pela Square Enix Collective, conseguiu me enfeitiçar da mesma maneira.
É um jogo em que você faz suas próprias plataformas no ar, então caso tentasse o mesmo na realidade, provavelmente nem estaria escrevendo esta review neste momento. Na verdade, a vontade é de terminar logo esse texto e voltar a rejogar. Que jogo incrível!
(Algum trocadilho sem graça com plataformas)
Como dito acima, a mecânica principal e o diferencial de Octahedron é a de materializar plataformas no ar para avançar em cenários verticais. Cada fase implica um número máximo de plataformas limitadas e, para recuperá-las, o jogador deve chegar a uma superfície sólida. A lógica central é basicamente essa.
O mapeamento de botões é simples e prático. Enquanto o botão de pulo é o esperado (A/X), o botão que aciona as plataformas fica a critério do jogador, mesmo na opção inicial: X/Quadrado ou RT/R2. Pessoalmente, minha preferência fica para o gatilho, que me permitiu uma maior rapidez ao alternar entre as ações.
Caso segure o botão das plataformas, o jogador pode surfar no ar por tempo limitado. Embora algumas fases possam ser concluídas sem o uso dessa habilidade, é uma opção que permite aumentar minimamente sua margem de erro, impedindo o game de se tornar escabroso demais.
Desafio aceito
Mas não se enganem: Octahedron é um game difícil. Ou pelo menos é para uma época em que falhar figura como um estigma tão grande em games. Sem oferecer uma narrativa complexa que o limite, o game é puramente baseado na superação de obstáculos. Por isso mesmo, a progressão de suas fases é plenamente satisfatória por oferecer variedade. Variedade essa que se reflete principalmente na maneira como cada nível é orquestrado, inclusive com etapas que se renovam dentro de um mesmo cenário.
Como disse, o game pode ser realmente, err, emputecedor, com desafios que à primeira vista aparentam ser impossíveis, mas a maneira como tudo se refresca rapidamente já é uma recompensa por si só.
O catálogo de fases em Octahedron é organizado por um total de cinco mundos. A cada mundo completado, o jogador tem acesso à uma nova melhoria que transforma suas plataformas em mecanismos cada vez mais eficientes, tanto na interação com cenário quanto na eliminação de inimigos (sim, há combate e ele funciona!).
Portanto, quando certas fases exigem o uso inteligente e simultâneo de diversas mecânicas aprendidas ao longo do jogo, incluindo o próprio chefe final, Octahedron brilha ao ponto de ofuscar. Trata-se de uma simbiose perfeita entre design de fases e as ferramentas à disposição do jogador, e não há nada melhor que isso em um game do tipo. Nesse caso, o fato de ser um jogo feito por uma pessoa só compensou na clareza e coerência de sua visão.
Um espetáculo visual e sonoro
Embora as principais estrelas de Octahedron sejam sua jogabilidade e design de fases, seus elementos mais superficiais também impressionam. A começar pelos gráficos, que conseguem ser coesos mesmo com uma quantidade exorbitante de elementos em tela, além de apresentarem uma estética retrô que, mesmo manjada, ainda esbanja estilo.
Outro aspecto notável, desta vez por também se integrar ao gameplay, é a música. Não bastava ser bem mixada e uma delícia de se escutar, os mais atentos perceberão que muitas peças nos cenários seguem o ritmo ditado pela trilha, 100% eletrônica. Octahedron então fecha seu campo audiovisual com chave de ouro ao apresentar tudo em fluidos 60 frames por segundo, conferindo uma sensação de velocidade viciante aos níveis.
O primeiro game lançado da Demimonde é francamente um arraso. Alguns podem se ver enfurecidos por sua dificuldade, e confesso que senti falta da opção de poder pular certos níveis e passar de mundo na base da pontuações.
No entanto, Octahedron é uma jornada das boas, e mesmo ao me deparar com situações de fazer arrancar os cabelos e xingar a TV, estaria mentindo se dissesse que não gostei de jogá-lo. De fato, não há um único momento ruim ou médio no game, apenas uma proposta sólida que espera ser compreendida.
Quando terminei o mundo 5 e o jogo ainda decidiu surpreender com novas fases, fiquei estarrecido ao perceber que, mesmo tendo a bunda chutada a cada minuto, não era capaz de tirar as mãos de Octahedron.