Review – Wuchang: Fallen Feathers

Depois do excelente Wo Long: Fallen Dynasty, passei a ficar mais esperto com qualquer soulslike de temática chinesa que saísse. Black Myth: Wukong veio em seguida e agora temos Wuchang: Fallen Feathers, do estúdio Leenzee Games. E dá-lhe mais uma aventura baseada no folclore chinês, ambientada no período final da Dinastia Ming. Wuchang é o nome da protagonista, uma guerreira que perdeu a memória e cujo corpo passou a receber penas brilhantes sem motivo aparente.

Tal evento sobrenatural não está acontecendo somente com nossa heroína. Várias regiões da China estão sofrendo com o efeito da “plumagem”, que muitos consideram uma maldição ocasionada por demônios antigos. Começa com febre, causa amnésia e evolui para um comportamento agressivo e descontrolado. Isso até perder a humanidade de vez e virar uma monstruosidade.

Wuchang e suas penas

Diferente dos outros habitantes, exceto pela amnésia, Wuchang não sofre os mesmos efeitos. Pelo contrário, as penas lhe deram habilidades mágicas. Seu objetivo na história é descobrir o que causou a plumagem, recuperar sua memória e enfrentar uma inevitável guerra. Uma plot relativamente simples, mas que funciona em especial pela ótima ambientação na China decadente.

Os cenários são bastante ricos, com influência no estilo gótico asiático, e conferem uma atmosfera distinta de outros soulslike. Não que os gráficos sejam impressionantes, ultra realistas, mas chamam a atenção pela forma sombria que adaptaram a mitologia chinesa. E os chefões, diferentes em proporção e nível de monstruosidade, possuem uma apresentação impecável. Dá gosto enfrentá-los!

Ainda sobre a história, sua inconsistência me incomodou um bocado. Em um momento está ótima, em outro está em segundo plano, desinteressante, e tal ritmo irregular se arrasta por todo o jogo. Até na lore o jogo se complica demasiadamente, fazendo o jogador perder o interesse e passe a se concentrar no gameplay. E é exatamente no combate e na exploração que o jogo mais brilha. Os níveis são bem estruturados em um mundo semi-aberto, criando labirintos com caminhos diferentes para trilhar e assim incentivando a curiosidade. Chega a ser confuso em determinados momentos, mas dá pra se acostumar com isso. A única falha que vi na exploração foi no distanciamento dos checkpoints em algumas áreas.

Wuchang: Fallen Feathers apresenta as mecânicas tradicionais de um soulslike e bebe principalmente da fonte de Sekiro: Shadows Die Twice, com bastante uso de armas brancas, mas infelizmente sem a furtividade e o pulo do game da FromSoftware. A variedade de armas brancas e habilidades especiais é enorme, dando liberdade para o jogador esperimentar e descobrir como eliminar os inimigos comuns mais rápido – isso porque tem vários que, socorro, dão muito dano – e passar pelos chefes, que são a maioria bem casca grossa e exigem muita estratégia. Quando não é estratégia, é timing pro parry e pra beber (lentamente) a poção que recupera vida.

Difícil demais ou injusto?

A jogabilidade é excelente, fluida, e tudo funciona muito bem enquanto a câmera não estiver atrapalhando. Esse é um dos problemas mais sérios do jogo: em espaços apertados, ela buga com muita frequência e até o momento desta publicação nenhum patch corrigiu isso. Outro problema, e este é um que tem feito muitos jogadores desistirem de continuar jogando Wuchang: Fallen Feathers, é sua dificuldade injusta. O sistema de defesa não é perfeito e há decisões de game design muito injustas, como minas explosivas escondidas na neve ou névoa, inimigos que brotam do nada já te atacando, e outras situações incômodas.

Os chefões então, minha nossa… São fantásticos, possuem ataques distintos, mas oferecem uma dificuldade muito acima do normal. Acima dos chefões do Nioh (um jogo originalmente desbalanceado), para efeito de comparação. Óbvio que a frustração vem em grande peso e pode afastar muita gente. Enfim, uma escolha dos desenvolvedores para os jogadores encararem com muita paciência.

O jogo apresenta algumas ideias bem bacanas, como o sistema de demônio interior, o qual você deve controlar sua barra de loucura: matar humanos sobe o nível, enquanto matar seres emplumados o reduz. Tal sistema, com a barra cheia, faz brotar um poderoso demônio no local onde morrer. Por outro lado, estar com essa barra no máximo te faz causar mais dano nos inimigos, assim como eles te dão mais dano também. Comprar itens especiais usando Mercúrio Vermelho (seu XP) também irá aumentar essa barra, então fique esperto ou tudo ficará bem mais difícil pra você nessa jornada.

Como estou jogando Wuchang: Fallen Feathers bem depois do lançamento, após alguns patches, provavelmente não vi certos problemas relatados pela comunidade. Mas há outros que persistem, como bugs de colisão, na inteligência artificial dos inimigos, animações que falham e a frequente instabilidade nos quadros por segundo na versão de consoles. No PC isso também acontece, mesmo que você tenha um computador bem equipado.

Polêmica pós-lançamento

Uma polêmica recente, envolvendo censura na China por representação indevida de figuras históricas da dinastia Ming, resultou num patch (1.5) que mudou a história do jogo, alterando diálogos e até mesmo a apresentação dos chefões. A comunidade de PC, que estava jogando em peso no Steam na semana de lançamento (com pico de 131 mil jogadores simultâneos), ficou enfurecida. Felizmente foi criado um mod de rollback, voltando o game pra versão 1.4. Bem triste ver isso acontecendo com uma obra de ficção, como todo jogo é, mas enfim…

Wuchang: Fallen Feathers, apesar de todos os seus problemas, é um bom soulslike. Tem uma ótima atmosfera sonora, com efeitos impactantes, dublagem original em chinês para ter a experiência completa, é um game muito bonito e o combate satisfaz demais. São mais de 60 horas de duração, com 4 finais diferentes. Tirando a censura, este é um vinho que irá ficar melhor com o tempo e novos patches. Assim esperamos.