Se você não jogou Wolfenstein II: The New Colossus, não jogue Wolfenstein: Youngblood. Não por ele ser bem abaixo da média, mas por continuar a história 12 anos após a última missão de B.J. Blazkowicz. Funcionando como um spin-off da franquia principal, Youngblood coloca os jogadores na pele das filhas gêmeas Jessica e Sophia, que estão em busca do pai desaparecido.
Eu estava ansioso para descobrir o que a MachineGames preparou para este game, em co-produção com a Arkane Studios (responsável pelo novo Prey e a franquia Dishonored). É a primeira vez que temos um Wolfenstein cooperativo e com elementos de RPG, com sistema de nível e inimigos que acompanham tal progressão, assim como rola na franquia The Division. Eu já esperava encarar uma horda de adversários do tipo esponja de balas. O que eu não esperava era um jogo tão raso e sem graça.
Desânimo fraternal
O game abre com B.J. mais velho, ensinando suas filhas a lutar e sobreviver. O ano é 1980 e os Estados Unidos e boa parte do mundo permanecem sob domínio nazista, mesmo após a morte de Hitler. B.J. sumiu e Anya, preocupada com o marido, busca a ajuda do FBI. Com uma pista sobre o paradeiro do pai, Jess e Soph se unem à hacker Abby e roubam o helicóptero do FBI para viajar pra França. Chegando lá as protagonistas conhecem Juju, líder da resistência, que as informa sobre a existência de uma instalação nazista chamada Lab X. Para conseguir entrar no laboratório, elas precisam primeiro invadir e hackear três torres conhecidas como Brother.
A plot inicial pode até parecer interessante, já que tudo culmina no plano de impedir o Quarto Reich, mas a história rapidamente vai perdendo força e criatividade. E parte disso se dá pela total falta de carisma das irmãs, cujo roteiro não ajuda e se mostra extremamente preguiçoso, ainda mais se comparado ao humor inteligente de Wolfenstein II: The New Colossus. Portanto se prepare para ver duas garotas agindo como aborrecentes, o tempo todo.
No início da aventura, você escolhe com qual das irmãs jogar e configura algumas opções iniciais como armas, armadura, capacete e provocação. Você também define se iniciará a partida fechada, com a outra personagem controlada pela inteligência artificial, ou permitindo que outros jogadores ingressem sua partida. O esquema de drop in e drop out funciona muito bem, prontamente substituindo o jogador pelo computador quando ele sai da partida. O que muda é apenas a dificuldade dos adversários, justamente para equilibrar as partidas. Ou quase, já que um jogador de nível 5 pode jogar com você, nível 20, sem nenhum filtro.
Após algumas fases os jogadores chegam às catacumbas, o novo quartel-general do game. Não é tão charmoso quanto o submarino do título anterior, mas não deixa de ser interessante. No novo QG, decorado com crânios e ossos, você encontra novos personagens que oferecem missões secundárias. Elas são importantes para subir de nível, ganhar pontos de habilidade e moedas de prata, mas entregam os mesmos trechos de fase para jogar exaustivamente. O que muda é apenas a missão em si e os inimigos, que surgem em posições diferentes. Todas as fases são conectadas por distritos, dispostos em um mapa do metrô.
Abby também oferece desafios fixos, diários e semanais, que podem ser concluídos durante a própria campanha. Ou seja, há várias formas de conseguir recompensas e evoluir sua personagem para ter acesso às melhores habilidades de Mente, Músculo e Poder. Foras as habilidades iniciais, as outras são liberadas para desbloquear após alcançar o nível 10, 20 e 30. Elas conferem poderes como ocultamento e dar um empurrão forte, assim como bônus de saúde, força, velocidade etc. O pulo duplo, pisão com impacto, eliminação e arremesso de arma branca continuam presentes.
As armas, infelizmente, são as mesmas de Wolfenstein II: The New Colossus. O que muda é a forma como você modifica as peças, gastando as moedas de prata para aprimorar o receptor, mira, carregador, cano, coronha e visual. Tais melhorias são interessantes, mas não dão aquela sensação de poder do jogo anterior. Mesmo quando você pega as armas mais poderosas, elas são bem limitadas até conseguir fazer todos os upgrades.
Por falar em visual, você também pode torrar dinheiro na aparência da protagonista e na jogabilidade, alterando o sinal de ânimo e impulsos. Explicando melhor, uma das novidades em Wolfenstein: Youngblood é o “ânimo fraternal”, uma provocação que aciona um escudo extra para sua parceira. O outro jogador (ou IA) fazendo o mesmo, é você quem ganha armadura extra. É como se fosse uma habilidade passiva com tempo de recarga, útil para enfrentar inimigos com vários níveis de armadura. Outra novidade é o esquema de vidas: as irmãs compartilham três, sendo que se uma delas morrer uma vida será perdida. Se perder todas, volta pro início da fase. Para evitar que isso aconteça, você tem que socorrer a personagem caída antes do tempo esgotar. E pra conseguir mais vidas, basta encontrar grandes caixas que são abertas com as duas juntas.
Über reaproveitado
Se as armas são as mesmas, os inimigos também são. Os comandantes continuam presentes, acionando alarme ao te verem e atraindo inimigos mais poderosos. Mas acredite, jogar furtivamente será a última coisa que irá querer fazer. Os cenários mais abertos até incentivam a furtividade, com opções de caminhos diferentes, mas sendo um FPS co-op fica difícil querer ficar andando na ponta dos pés o tempo todo. Embora a punição do alarme seja severa, a ação frenética acaba valendo a pena.
Wolfenstein: Youngblood poderia facilmente ter entregado uma experiência melhor com uma boa história, protagonistas bem desenvolvidas e a exclusão do sistema de progressão. A única desculpa para este elemento existir é forçar os jogadores a refazer fases em função do grinding, estendendo a vida útil do game. As fases não chegam a ser desinteressantes, mas foram projetadas para funcionarem em partes e com objetivos diferentes em cada trecho. Após repetir três vezes o mesmo cenário, mesmo com missões diferentes, a vontade é de largar o game para nunca mais voltar a jogar.
Ao perceber que o jogo não seria tão divertido como eu esperava, mesmo na companhia de outras pessoas online, passei a jogar totalmente desinteressado da história, ignorando os documentos encontrados, as fitas cassete e os cofres, mesmo após achar os códigos. Deixei de lado até os upgrades das armas, depois de aprimorar as que mais gostava. Apenas não ignorei a evolução das habilidades, que acabam sendo importantes. Com esta decisão, sai correndo e atirando feito louco como curto fazer em DOOM, sem medo de ser feliz. E funcionou. Inclusive subi pro nível 22 em menos de 4 horas.
É uma pena que Wolfenstein: Youngblood tenha saído desta forma, precipitadamente ou forçadamente pela Bethesda. O que custava ter novos inimigos, mapas maiores e uma trama decente? Certamente custaria mais caro para desenvolver, mas neste caso valia mais a pena economizar do que lançar este spin-off que coloca a imagem da franquia em uma situação nada agradável.