A ideia era promissora: e se juntássemos CS:GO com Overwatch? No que daria essa mistura? Assim muitos vão apresentar Valorant, o FPS tático da Riot Games. A empresa por trás do sucesso de League of Legends resolveu sair da zona de conforto no aniversário de 10 anos do Lolzinho.
Um jogo de cartas (Legends of Runeterra), um auto chess (Team Fight Tactics) e agora um jogo competitivo de tiro aos moldes clássicos, mas sem abandonar inovações. Ok, ok… não temos lá grandes inovações. O jogo reúne o que de melhor existe nos jogos do gênero, mas apesar do visual colorido e quase cartunesco, o jogo está muito mais para Counter Strike do que para Overwatch.
Coloridinho, mas não se iluda
O que Valorant tem de Overwatch? Bom, a escolha de personagens é um fator importante no jogo, cada um com suas habilidades únicas e seu ataque ultimate, que se bem usado, é capaz de virar uma rodada de cabeça para baixo. Há personagens que são desbloqueados conforme você joga, todos eles já dublados na nossa língua e muito bem localizados, com direito a uma agente brasileira: a baiana Raze, com seu sotaque carregado e gírias bem colocadas. As semelhanças de Valorant com Overwatch se encerram aí. Nada de um hero shooter onde é preciso descarregar 2 pentes e 1 granada pra matar um inimigo. Aqui, um único tiro bem dado é suficiente.
Agora, puxando pro lado do talvez mais longevo jogo competitivo do mundo, Counter Strike. Valorant altera a disposição de terroristas e contraterroristas para time atacante e time defensor, deixando a linguagem mais “amigável” para os mais novos ou mais impressionáveis. Inclusive, você pode até desativar o sangue no jogo, substituindo-o por faíscas, o que o deixa menos violento. Temos aqui aquele velho esquema de um time plantar a C4 e o outro impedir que isso ocorra, e novamente uma mudança nas palavras deixa tudo mais ameno. Nada de C4, bomba ou algo do gênero: aqui temos a Spike, que no fim das contas é a mesma coisa com um nome diferente.
A economia também é bem derivada do CS, mas com 2 pontos cruciais de diferenciação. Você pode comprar qualquer arma do jogo, independente do lado em que estiver. Isso deixa o jogo novamente mais amigável com quem está começando. Acostumar-se com uma arma e ficar bom com ela é um dos grandes segredos pra jogar bem o jogo. A outra diferença na economia é que, além das armas e escudos (ou seriam coletes?), você também precisa usar dos seus recursos para comprar as habilidades. As armas são muito parecidas com as do Counter Strike. Não sou grande conhecedor do recoil (recuo) de cada uma delas, mas pelo que os jogadores do jogo da Valve relataram, Valorant está bem parecido.
Cada personagem tem suas habilidades, que vão desde flashbangs para cegar inimigos até granadas incendiárias, cura para aliados, bombas de fumaça, paredes e por aí vai. Às vezes é melhor economizar na arma para ter uma habilidade a mais. Quando a partida começa, você vai jogar 12 rounds em um time até acontecer a troca de lados, e o primeiro time a fazer 13 pontos primeiro ganha. Uma partida equilibrada pode durar mais de meia-hora.
O round vai começar
Falando em equilíbrio, talvez pelo fato do jogo estar em beta fechado por boa parte do meu período de teste, o balanceamento ficou em falta. Algumas das minhas primeiras partidas, fui jogado no meio de jogadores bem mais experientes e que conheciam muito mais o mapa e cada habilidade de cada agente, dando a eles uma vantagem tática muito grande. Em outras partidas, parecia que eu estava jogando contra bots que corriam desenfreados com uma faca na mão sem a menor ideia do que fazer. Foram raras as partidas bem balanceadas, mas quando a sorte me brindava com uma, era delicioso.
O lançamento oficial no último dia 02 de junho trouxe um novo modo de jogo, mais rápido e mais dinâmico. Chamado de “Disputa da Spike”, ele dura entre 8 e 12 minutos (quase um terço de uma partida normal). Nele, cada jogador do time atacante possui uma spike e todas as habilidades do agente desbloqueadas para uso sem custo na economia. Todos também começam com a mesma arma escolhida aleatoriamente, além de cada kill resultar em 2 pontos para ultimate, ao invés do ponto único que o modo normal traz. De novidade, também tivemos um novo mapa e uma nova agente.
Temos um problema quando falamos da comunidade de Valorant. Tal qual o jogo mais velho da Riot Games, League of Legends, o FPS sofre com a presença de jogadores tóxicos, fator agravado pelo fato do jogo ter um chat de voz nativo. Basicamente se ouve crianças xingando e mulheres sendo assediadas. Tivemos inclusive casos de streamers sofrendo xingamentos sexistas. Uma vez que a comunicação é fator importantíssimo para o sucesso do time, eu espero que assim que o jogo seja lançado isso seja corrigido, seja banindo tais jogadores ou filtrando por idade o matchmaking. Ou talvez eu seja extremamente azarado, visto que um amigo sofreu bem menos que eu com isso.
O jogo tem um design de mapas um tanto quanto pobre se comparado ao Counter Strike. Isto é, na opinião de jogadores e desenvolvedores mais experientes, mas é injusto comparar um beta com um jogo com 2 décadas de aprimoramentos. A ação acontece muito rapidamente, e os mapas são um tanto quanto claustrofóbicos, mas a promessa é de que o jogo vai ser mais vivo, com adição de elementos a cada atualização. Outro fator muitíssimo importante em Valorant são seus requisitos técnicos mínimos. Um computador com mais ou menos uns 10 anos de idade conseguirá rodar o jogo em 30 frames por segundo, mesmo sem placa de vídeo dedicada. E chegar nos 60 frames, ou até os sonhados 144, não é tarefa difícil.
Here comes a new challenger
A Riot Games tem em suas mãos um trunfo poderosíssimo no mundo dos jogos de FPS competitivos. Se parte do conhecimento adquirido ao longo da década de League of Legends for repassado para Valorant, teremos um competidor de peso no mercado.
Com todo o estilo Riot de cativar, grandes nomes do FPS já estão caindo de amores por Valorant. Um exemplo é o famoso streamer e narrador Alexandre “Gaules” Borba, figura conhecidíssima no cenário de Counter Strike, que foi convidado para testar o primeiro beta nos EUA e dar suas impressões sobre o que poderia melhorar no jogo – e que depois confessou que, em quase 20 anos de dedicação ao CS, não conheceu ninguém da Valve.
O jogo promete muito, me viciando e quase trazendo de volta uma tendinite há muito esquecida, já que a passagem de tempo fica um pouco turva quando você senta pra jogar o novo game da Riot. Aquilo que parecia ser uma mistura 50-50 de Overwatch e CS no fim das contas pende mais pra um 70-30 pro lado do Counter Strike, já que por mais que algumas habilidades sejam úteis, ser bom de bala ainda é o fator primordial aqui. Senti mais prazer jogando Valorant do que com as poucas experiências que tive com Overwatch e mais recentemente com Counter Strike.