Em clima de God of War Ragnarök, a Square Enix aproveitou o trem do hype em mitologia nórdica para trazer de volta uma franquia que não dava as caras nos consoles desde 2009: Valkyrie Profile. Com um jogo que recebeu zero marketing e foi claramente direcionado para o público ocidental, a série está retornado com Valkyrie Elysium, um RPG de ação que não deixa muito claro se é um spin-off ou um mero sucessor espiritual dos antigos, mas que acaba entregando mais do que aparenta.
Valkyrie Elysium se encaixa dentro da grande sequência de títulos “menores” que a Square Enix vem lançando nos últimos anos, esses que não se encaixam dentro dos padrões de um AAA, mas também não são necessariamente jogos pequenos. Este aqui me pareceu mais um experimento para testar a recepção do público, já que ele sofreu toda a radicalização que a série Final Fantasy também vem recebendo há algum tempo. RPG de turnos é coisa do passado, a moda agora é hack and slash em Valhalla!
Uma nova Valquíria
Se você é um fã hardcore de JRPG e chegou a jogar os títulos antigos de Valkyrie Profile, não precisa entrar em pânico, pois ele só abandona as origens no seu gameplay. Toda a temática nórdica e elementos que tínhamos nos jogos anteriores se fazem presentes aqui, só que dessa vez com um combate em tempo real que não é tão intenso quanto um Bayonetta ou Devil May Cry da vida, mas que acaba sendo mais divertido do que aparenta.
A história é bem básica e você provavelmente não vai se apegar a nenhum personagem, por mais que o enredo faça um esforço mínimo de aprofundar cada um deles com o desenrolar da narrativa. Aqui controlamos uma nova Valquíria, Nora, criada diretamente por Odin como um último esforço de deter o Ragnarok, o crepúsculo dos deuses. Odin está enfraquecido, então a missão de Nora é ir até Midgar, a terra dos humanos, para destruir todos os monstros que lá habitam e recuperar o poder de seu mestre.
O jogo é composto por missões divididas em territórios, levando cerca de 20 horas para ser concluído, então não é longo como os RPGs costumam ser. Cada capítulo traz em média duas missões, sendo que a primeira é razoavelmente longa e a segunda consiste em algum objetivo mais rápido dentro do mesmo mapa. Em suma, tudo que você faz é explorar um território linear e enfrentar uma legião de monstros no caminho – sem grandes dificuldades, afinal esse é um jogo para todos. Para quem quiser ter algum desafio, recomendo começar direto no maior nível de dificuldade, pois Valkyrie Elysium é bem fácil.
O combate lembra bastante os primeiros God of War, lançados no PS2 e PS3. Apesar de oferecer um sistema de combos minimamente decente, você provavelmente vai jogar o jogo inteiro na base do bom e velho “esmaga botão”, ou seja, é possível vencer todos os combates apenas apertando quadrado sem parar. Para alguns pode ser meio entediante, mas não acho que seja necessariamente um problema, pois o jogo já é simples por si só, então não dá para esperar nada além disso. Ele consegue ser bom e divertido dentro de suas limitações e daquilo que propõe, então já está ótimo.
Respeitando o passado
A mudança do sistema de combate já é uma alteração brusca, se comparado com os jogos antigos da série, mas como já enfatizado, os elementos da franquia ainda se fazem presentes aqui. As principais habilidades da Valquíria foram perfeitamente adaptadas para esse sistema de ação, então o jogo não perdeu sua identidade e isso é ótimo.
Nora possui muitos movimentos, o que diversifica bastante as batalhas. Ela pode arremessar uma corrente mágica para agarrar inimigos à distância (além de explorar o ambiente), usar magias variadas e, é claro, invocar Einherjar, espíritos de guerreiros que oferecem um excelente suporte nas batalhas. Cada habilidade utiliza uma barra de energia diferente, o que permite que você utilize tudo ao mesmo tempo e torna sua personagem altamente apelona. É possível invocar mais de um Einherjar ao mesmo tempo, soltar várias magias e ainda jantar os inimigos na porrada sem dificuldade nenhuma.
A quantidade de Einherjar deste jogo é bem menor que a dos demais, mas em compensação, eles fazem toda a diferença em combate. Cada um possui habilidades, elementos e estilos de luta diferentes, o que também pode ser útil durante a exploração, então você basicamente nunca estará sozinho neste jogo. Já as magias são desbloqueadas pouco a pouco, conforme vamos encontrando em baús especiais e completando missões. A forma como as utilizamos me lembrou muito Kingdom Hearts, onde devemos equipá-las em um menu ativado pelo R2 e depois apertar o respectivo botão que foi designado.
Se não bastasse esse monte de poderes da nossa Valquíria, ela ainda pode utilizar diversas armas que proporcionam estilos de combate diferentes (desbloqueadas gradativamente), três árvores de skills com upgrades realmente relevantes e, para completar, cada arma ainda possui 10 níveis para serem melhoradas. É um sistema de progressão simples, mas legal o suficiente para nos manter presos no jogo do início ao fim, pois ajuda a impedir que o combate se torne repetitivo demais.
Quando não estamos lutando, podemos explorar livremente os cenários e existem algumas coisas para encontrar, apesar de não ser muito instigante procurá-las. A primeira delas seriam baús com itens de recuperação, esses que estão presentes em abundância no jogo, o que o torna ainda mais fácil (e você provavelmente nem vai usar metade do que encontrou). A segunda seriam flores que trazem pensamentos de humanos que viviam ali antigamente e acabaram morrendo durante o Ragnarok. Alguns até enriquecem um pouco a trama por trás daquele local, mas a maioria são apenas frases sem sentido que não agregam nada à história, então é um colecionável bem descartável.
Nada demais
Os gráficos do jogo não são grande coisa, mas trazem um estilo bem único, que consegue ser suficientemente bonito e realista (dentro daquele padrão de jogo japonês) sem abrir mão dos contornos fortes, que lhe dão um ar mais cartunizado. A trilha musical também não é nada demais, trazendo músicas repetitivas e completamente esquecíveis. Outra coisa que me incomodou um pouco foi a dublagem em inglês, que é bem tosquinha, então talvez seja melhor jogar com o áudio original em japonês para evitar possíveis constrangimentos.
No final, o termo “nada demais” define muito bem Valkyrie Elysium, mas isso não quer dizer que ele seja ruim. Justamente por ser tão simples em cada um de seus aspectos, ele acaba surpreendendo e divertindo mais do que podemos esperar, então é uma surpresa agradável. Não é um jogo complexo, épico ou marcante, mas certamente será um excelente entretenimento para aqueles que resolverem dar uma chance.