No segmento de grandes produções (jogos AAA), a indústria de games não anda muito bem recentemente, com jogos que não estão agradando muito aos jogadores, vendendo mal e por aí vai. Com tantos grandes jogos desinteressantes, temos que olhar mais para títulos indies e os chamados AA. É aí que entra Unknown 9: Awakening.
O primeiro jogo do estúdio canadense, Reflector Entertainment, é um projeto ambicioso para um estúdio novo. Estamos falando de um jogo de ação e aventura, com atriz conhecida como protagonista, muitas cutscenes, mecânicas diferentes de combate, um jogo promissor, aparentemente. Ele me chamou a atenção desde seu anúncio, elevando a expectativa. Vamos dar uma olhada se o jogo correspondeu a isso.
Segredos de uma sociedade oculta
Harrona, interpretada por Anya Chalotra, a Yennefer da série de The Witcher, é uma Quaestor, alguém com habilidades além do normal, sendo capaz de navegar por uma espécie de mundo espiritual chamado de Umbral para encontrar segredos, ou usar habilidades em combate. A introdução do jogo mostra a fase jovem da moça, com sua tutora Reika. Você joga com ela como sua parceira inicial, ao mesmo tempo em que o jogo ensina o básico do gameplay. Logo depois de poucos minutos, Reika é capturada e o objetivo de Haroona passa ser encontrá-la, além de descobrir o motivo pelo qual a levaram.
A história é desenrolada na forma de cutscenes, muitos diálogos entre os personagens (a protagonista é quase sempre acompanhada de alguém), principalmente depois de destravar uma espécie de hub do game que acontece em um dirigível, além das anotações de Haroona em seu diário com muitos detalhes sobre os acontecimentos e personagens. É uma história interessante, mas com encenações que não convencem muito, falarei mais sobre isso adiante.
Unknown 9: Awakening tem um gameplay que lembra os Tomb Raider modernos, com exploração envolvendo escaladas, saltos entre plataformas em cenários, inclusive, que lembram aqueles pelos quais Lara Croft passa, como florestas, cavernas, mansões e mais. Ao explorar, os comandos são simples: Haroona anda, corre, escala, salta por objetos e de uma plataforma para outra, interage com objetos, se agacha para passar furtivamente ou por baixo de algo e abre uma espécie de visão Raio-X, como nos jogos de Batman Arkham e Assassin’s Creed, mostrando os inimigos e objetos pelos cenários.
Os comandos não são os mais responsivos e as animações são um tanto desengonçadas. Quando a protagonista precisa saltar por um vão, por exemplo, existe uma correção na direção durante o salto que quebra a imersão, é como se você só pudesse saltar daquele ponto específico. E o mesmo vale para quando ela precisa passar por vãos, beira de precipícios, isso acontece também em outras animações. Além disso, existe problemas de colisões, com a protagonista se “enganchando” pelos cantos.
Combate é o ponto alto de Unknown 9: Awakening
Acredito que a cereja do bolo de Unknown 9: Awakening seja seu combate, que é criativo e conta com mecânicas diferentes dos habituados em jogos do tipo. Haroona não usa armas de fogo ou melee, mas seus próprios punhos e pés. Ela conta com combos simples (não muito variados) e com alguns movimentos diferentes, que são os ataques especiais.
Conforme você avança na história, novas habilidades principais são desbloqueadas, fazendo com que ela consiga possuir o corpo de um inimigo e usá-lo para atacar seus próprios parceiros, ficar invisível e passar desapercebida, puxar ou empurrar os inimigos como uma Jedi, executar ataques explosivos com sua forma espiritual e até mesmo executar ataques sorrateiros letais que literalmente matam a alma do inimigo e mais.
Sim, o combate do game é interessante, a árvore de habilidades é dividida em Combate, Habilidades Úmbricas e Furtividade com poucas melhorias, o que eu acho interessante, já que aquelas árvores gigantes de RPGs geralmente conseguem ser confusas e até repetitivas. Além disso, ainda nos combates, existem diferentes objetos onde é possível interagir para causar danos aos inimigos, como explodindo coisas diferentes, liberando gás venenoso, explodindo paredes e derrubando estruturas em cima dos inimigos.
Na hora do “vamo vê”, o combate até se assemelha ao que costumamos ver em jogos soulslike, mas de uma forma mais simplificada. É possível atacar, quebrar defesa do inimigo, defender, dar parry com a defesa na hora certa, e executar especiais que são limitados. Não é um jogo em que esmagar o botão de ataque resolve, existe uma cadência, mas não pense que é algo no nível da complexidade de um souslike. Além disso, é possível abordar todos os inimigos de forma sorrateira também, dando mais liberdade ao jogador.
Apesar dos combates serem bons, tem dois agravantes e vou focar no primeiro deles: os comandos. Como havia dito acima, a resposta dos comandos não é das melhores em Unknown 9: Awakening. Então achar o tempo certo entre atacar, defender e esquivar pode ser desafiador, especialmente esse último movimento. Isso pode acabar estragando a experiência, especialmente em chefes. Não ache que vá interroper um ataque para defender ou esquivar com tanta fluidez, isso não acontece no game.
Os chefes são bastante desafiadores, eu diria que até são injustos, mesmo em batalhas em que você precisa perder para continuar. Se você não causa uma quantidade de dano específica e morrer, terá de tentar novamente. Os inimigos normais são bastante repetitivos com poucas variações, o que por um lado aumenta suas chances de se sair melhor em combate, já que decorou o moveset deles.
Jogo tem o famoso gráfico de PS3
Mesmo tendo o apelo visual voltado para o realismo, o jogo está longe disso. A atriz Anya Chalotra não se parece com ela no jogo. Existem cutscenes que são mais caprichadas que outras. Eu pude notar que naquelas menos bonitas, os olhos dos personagens que estão conversando não se encontravam, mesmo que um estivessem olhando um para o outro, algo que quebra a imersão.
Várias das cinemáticas enfrentam problemas relacionados a iluminação. Dependendo da luz do ambiente, os cabelos e tom de pele dos personsagens tendem a ficar bem fora da realidade, às vezes com muito brilho também. Aliado a isso, as expressões dos personagens não são boas, são robóticas, e isso faz com que o sentimento que os personagens queiram passar, acabem se perdendo.
Ainda falando de gráficos, os cenários têm texturas lavadas, faltando definição e detalhes, mais um problema que distrai bastante. Outro problema são NPCs que bugam e não avançam junto com você, ficam presos em cenários e, às vezes, é necessário voltar ao menu inicial do jogo para resolver essa questão quando voltar.
Ainda na parte de bugs do Unknown 9: Awakening, existe um deles na pausa bastante irritante. Primeiro, às vezes é necessário apertar o botão de pausa duas vezes para que o jogo responda ao comando, e pode acontecer de toda que vez que você fechar a pausa para voltar ao jogo, ele pause novamente. Quando isso acontece, você PRECISA fechar o jogo, nem voltar ao menu inicial resolve, é bem irritante.
A maldição do “stutter fest” da UE5
Agora vamos ao último e pior problema do game, algo que está presente em quase todos os jogos feitos em Unreal Engine: stutters. Meu PC tem uma configuração bem maior em relação aos requisitos, mas, minha nossa, como eu enfrentei engasgos. Muitos deles! São stutters em toda parte, às vezes no menu inicial ao abrir o jogo, no carregamento de shaders, durante travessia de cenário, sendo necessário carregar os novos assets enquanto você entra numa área nova. Não existe pré-compilação de shaders.
No monitoramento do MSI Afterburner, cheguei a ver engasgos de mais de mil milissegundos, ficando segundos travado até voltar. Isso acontece andando pelo cenário, entrando no menu de árvore de habilidade que tem uma animação e, principalmente, nos combates. Isso torna as lutas bastante difíceis e pode ser um dos contribuintes para a falta de comando responsivo do jogo.
Preciso ser sincero aqui, não parece que o jogo está em um estado final para lançamento, o game precisaria de mais tempo para polimento e otimizações. É uma proposta interessante, especialmente com os combates e história, que não são elementos ótimos, mas são bons o suficientes. Ou seja, todos esses problemas conseguem ofuscar totalmente a experiência. Existe a chance de esses problemas serem da build para review e a versão final chegue em um melhor estado, mas não tem como sabermos.
Com o preço de lançamento, que vai de R$ 222,50 no PC a R$ 250 nos consoles, baseado em minha experiência, não acredito que valha a pena. Espere por correções e promoções. Mais barato e polido, Unknown 9: Awakening é até uma experiência interessante.
Prós:
🔺 Combate criativo com diferentes habilidades
🔺 Menu bastante limpo e de fácil navegação
Contras:
🔻 Gráficos datados
🔻 A captura de movimento das personagens não convence
🔻 Movimentação desengonçada da protagonista
🔻 Comandos nada responsivos
🔻 Uma quantidade absurda de stutter
Ficha Técnica:
Lançamento: 17/10/2024
Desenvolvedora: Reflector Entertainment
Distribuidora: Bandai Namco
Plataformas: PC, PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One
Testado no: PC